45 anos de vida de repórter em semana agitada

Os assuntos mais comentados

Numa semana bastante agitada, em que passei mais tempo lendo e liberando comentários do que escrevendo textos novos, senti na pele a importância da internet para o debate político e a crescente radicalização de posições, de um lado e de outro.

Olimpíada, MST, imagem do Brasil no exterior, qualquer tema serve para extravazar um crescente sentimento de intolerância com quem pensa diferente. Fico pensando como será em 2010 quando começar para valer a campanha eleitoral.

Mesmo sendo xingado de chapa-branca e amigo do Lula, por uns, e de neoliberal e demotucano, por outros, não tenho o direito de me queixar da vida: é crescente o número de participantes no Balaio, e o número de comentários recebidos e publicados é a prova disso.

Apenas um post, o que trata da invasão do MST numa fazenda da Cutrale em Iaras, no interior paulista, recebeu quase o mesmo número de comentários (845), fora os muitos que fui obrigado a excluir, do que o total (912) de mensagens recebidas pelo conjunto de matérias publicadas pela Folha, o jornal de maior circulação do país, durante a última semana. Só os três assuntos mais comentados neste blog receberam mais de 1.600 comentários. Os números:

Balaio

MST: 845
Olimpíada e urubuzada: 436
Imagem do Brasil lá fora: 340

Folha

Olimpíada: 193
MST: 73
Enem: 42

Veja

Tensão em Honduras: 200
Olimpíada de 2016: 101
Yoani Sánchez: 30

***

O tempo corre. Ainda outro dia, ao me despedir de Brasília, após dois anos trabalhando no governo, o bom e velho amigo Jorge Bastos Moreno, chefão de O Globo em Brasília, montou uma bela festa em sua casa para comemorar meus 40 anos de carreira no jornalismo. Os jornalistas e políticos mais importantes de Brasília, Rio e São Paulo, estavam quase todos lá. Fiquei muito feliz.

Esta semana, em que completei 45 anos de vida de repórter, não teve festa nenhuma, e só fui me lembrar da data num almoço com outro amigo, o veterano jornalista Fausto Eduardo Camunha, meu primeiro chefe de reportagem na Gazeta de Santo Amaro, onde comecei, em outubro de 1964.

Num caso bastante raro na imprensa brasileira, este jornal semanal distribuído na zona sul de São Paulo continua sendo tocado pelo mesmo dono, o incansável Armando da Silva Prado Neto, de quem até hoje me orgulho de ser amigo.

Ao arrumar meu velho painel com credenciais de coberturas e crachás das empresas onde trabalhei, ou seja, quase todos os principais veículos da imprensa brasileira, impressos e eletrônicos, olhei para aquela cara de moleque da minha primeira carteira funcional da Gazeta de Santo Amaro, e me dei conta de quanto tempo passou.

Daqui para a frente, acho até melhor nem lembrar mais destas datas para não dar razão aos que para me ofender me chamam de velho jornalista. Sou mesmo, fazer o que?

Só fica velho quem está vivo, e assim pude testemunhar, neste breve período de 45 anos, saindo da ditadura para uma das maiores democracias do mundo, como o Brasil, queiram ou não os mais céticos, melhorou em todas as áreas, ficou de pé, devolveu a todos nós o orgulho de termos nascido aqui.

A propósito, alguns leitores lembraram esta semana de um velho provérbio árabe, aquele que fala “os cães ladram e a caravana passa”, muito oportuno para o momento que estamos vivendo.

Para o bem ou para o mal, nunca meus textos repercutiram tanto como na última semana, mostrando que o mais importante não é a vida de repórter que já ficou para trás, mas a que virá.

Enquanto vocês continuarem me lendo, continuarei escrevendo. Vivo disso. E agradeço a todos vocês por poder ganhar a vida até hoje só fazendo o que gosto, sem pedir licença a ninguém.

Um forte abraço e bom domingo a todos.


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