Na noite desta terça-feira, 18 de fevereiro, a Livraria da Vila recebeu o primeiro da série de eventos Vila Brasileiros, projeto conjunto entre a livraria e a Brasileiros Editora que pretende debater a literatura: autores, estilos e alternativas para que ela continue presente na discussão contemporânea.
A estreia teve com o tema “Quem tem medo da crítica literária?”. Com o auditório lotado, Daniel Benevides, editor do caderno Literatura!Brasileiros, mediou um animado bate-papo entre o crítico Manuel da Costa Pinto e o escritor Ricardo Lísias. Na pauta da conversa, foram abordadas questões como a influência da crítica literária sobre os leitores; A função da crítica; A relevância da crítica diante as opiniões de “formadores de opinião” nas redes sociais.
O escritor Ricardo Lísias – autor do comentado Divórcio e que recentemente lançou Intervenções: álbum de crítica, livro em formato e-book que reúne algumas de suas críticas e resenhas -, começou enfático afirmando que, em sua opinião, o papel do crítico não é o de dizer “o quê”, e sim o “por quê”: “Não é possível fazer uma crítica ou resenha em um espaço de dois mil caracteres, quando me pedem isso eu prefiro não fazer para não me banalizar e, principalmente, para não banalizar o autor e sua obra”, comentou.
Como toda boa discussão, Manuel da Costa Pinto, que hoje é crítico de literatura na Folha de São Paulo, discordou: “Tivemos de fato uma crise no impresso, mas temos muitos exemplos que provam que existe sim espaço, principalmente em revistas especializadas, como a Brasileiros. Discordo em relação ao tamanho necessário para se alcançar seu objetivo, já li textos antológicos que não passavam de três, quatro mil caracteres”, lembrou ele.
Para contrabalancear, o crítico apontou a internet como sendo hoje o principal canal de encontro dos entusiastas do tema. Apesar do vasto leque de alternativas que a nova mídia oferece, é lógico que com a facilidade vem também a já famigerada discussão a respeito da credibilidade. “Hoje todo grande escritor e crítico também têm seu blog, o leitor sabe detectar e escolher o conteúdo que deseja consumir”, aponta Manuel.
Ao ser questionado a respeito do “burburinho” em torno de sua obra Divórcio, Lísias fez críticas a classe dos jornalistas, a qual ele acusa, em determinadas ocasiões, de manipular a informação. “Recebi emails perguntando como eu havia reagido a proibição de veiculação do meu livro, fiquei desesperado, fui atrás e vi que não era verdade. Alguns deles nem se dão ao trabalho de checar a informação antes de noticiar”, contou.
Para terminar a polêmica que se instaurou por meio de um longo debate a respeito do ficcional e do real de Divórcio, o escritor disse acreditar que não existe real por meio de palavras, o real é apenas aquilo que aconteceu, aquilo que foi vivido e que, no momento em que alguém relatou um fato, isso já não pode ser tratado como fiel realidade.
Mais uma vez de encontro com a argumentação de Lísias, Manuel da Costa Pinto exemplificou sua discordância falando que, se isso fosse verdadeiro, não nos daríamos o trabalho de ler biografias ou livros de história. A plateia, que também se inflamou a cada uma das falas, participava ativamente do debate, fazendo contra-pontos e perguntas para os envolvidos.
No próximo encontro Vila Brasileiros, na Livraria da Vila, rua Fradique Coutinho, no dia 9 de abril, o tema promete ser quente e atual: “Shakespeare e as séries de televisão”. Confira a programação completa.
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Vila Brasileiros – Quem tem medo da crítica literária from revistabrasileiros on Vimeo.
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