Perturbação humana


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Estranhamento Induzido
Para o crítico Luiz Carlos Merten, do jornal O Estado de S. Paulo, o filme Independência, de Raya Martin, é o melhor dos mais de 400 exibidos na Mostra deste ano. Exageros à parte, o filme de Raya (que utiliza vários recursos estéticos, como as imagens em P&B, uso de material documental, misturados com a mise en scène, ou seja, com a própria ficção) revela de forma estilizada a história do seu país, Filipinas, no início do século XX, época da invasão norte-americana. Na trama, uma família (mãe idosa e seu filho) é obrigada a se refugiar numa floresta próxima. A partir daí, a história é contada com maestria pelo diretor, por meio de todos os recursos cinematográficos, nos mostrando o não-revelado, fonte de toda perturbação humana.

Independência, de Raya Martin
Unibanco Arteplex 1. Dia 27, às 17h40
Consulte outros dias e horários no site oficial da Mostra, abaixo


O apresentador da irreverência e do deboche
José Abelardo Barbosa de Medeiros, quem conhece? Quase ninguém. Mas, se falarmos “Velho Guerreiro” ou simplesmente Chacrinha, certamente todos conhecem, principalmente quem viveu entre os anos 1960 e 1980. O apresentador mais anárquico e muitas vezes cruel com os calouros que se apresentavam em seu programa, é tema do documentário Alô, Alô, Terezinha!, de Nelson Hoineff. Os méritos do filme são muitos, mas há também alguns problemas, principalmente na escolha e na condução dos entrevistados (as chacretes, cantores e calouros que se apresentavam no programa, por exemplo). O diretor, em entrevista ao site da Brasileiros, disse que não quis falar sobre o Chacrinha homem privado, apenas mostrar um pouco da figura debochada e irreverente do programa de calouros. Então, vamos lá: “Ó terezinha, ó terezinha, é um barato o cassino do chacrinha”.

Alô, Alô, Terezinha!, de Nelson Hoineff
Reserva Cultural 1. Dia 27, às 21h30
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A tolerância restaurada
O filme Patric, Idade 1,5, da diretora sueca Ella Lemhagen toca em um assunto muito delicado e que ainda carece de compreensão da sociedade de uma forma geral. A história gira em torno de um casal gay que adota uma criança, mas por um erro qualquer, eles recebem um adolescente de 15 anos no lugar do menino. Para agravar mais ainda a situação, o garoto é homofóbico. O filme trata com delicadeza desse assunto espinhoso e traz um sopro de esperança para as nossas intolerâncias de cada dia.

Patric, Idade 1,5, de Ella Lemhagem
Reserva Cultural 1. Dia 28, às 13h40
Consulte outros dias e horários no site oficial da Mostra, abaixo


A problemática do credenciamento
Não tem jeito. Todos os anos a solicitação de credenciamento de jornalistas causa dor de cabeça para os diretores da Mostra de São Paulo (Leon Cakoff e Renata Almeida). São muitos pedidos e, se todos fossem atendidos, a Mostra seria um evento exclusivo de jornalistas. Para tentar contornar o problema, os diretores fazem uma triagem e procuram dar o máximo de credenciais possíveis, para serem mais democráticos. O pacote de credenciais é de 60 ingressos (para os veículos principais, geralmente diários eletrônicos e impressos), 30 (para os veículos de revistas semanais e mensais) e 10 (para os sites em geral). Para quem precisa cobrir toda a Mostra, a quantidade de ingressos de 10 e 30 é insuficiente. Assim, tem muito jornalista reclamando que muitos sessões estão esgotadas somente para quem tem credencial, o que não acontece para quem paga o ingresso ou quem compra pacotes (integral, 40 ingressos e 20 ingressos). A celeuma mais uma vez está armada.


Suzana Amaral (Diretora e jurada da Mostra deste ano)

Brasileiros – O seu primeiro longa-metragem, A Hora da Estrela, foi lançado em 1985 e levou quase 20 anos para você lançar o seu segundo filme, Uma Vida em Segredo, 2002. O seu novo filme, Hotel Atlântico, exibido na Mostra, vai ser lançado no próximo ano (2010). Isso mostra positivamente que você vem conseguindo diminuir o hiato entre os lançamentos dos seus filmes…
Suzana Amaral – Mas aí entre A Hora da Estrela e Uma Vida em Segredo, eu passei quase cinco anos viajando com [o filme] A Hora da Estrela, lançando nos outros países. Foi um grande sucesso, mas muito, muito dispersivo.

Brasileiros – Como é filmar João Gilberto Noll [o livro se baseia na obra homônima do escritor], que compõe seus personagens e suas histórias de forma estranha e insólita?
Suzana Amaral – Eu vou dizer uma coisa para você. Vou explicar um pouco por que razão eu mudei…

Brasileiros – Mudou o quê?
Suzana Amaral – Mudou o meu estilo, minha linguagem, meu universo intimista. O fato de escolher o João Gilberto Noll foi por uma razão. A narrativa dele é insólita, estranha, intrigante, polêmica. E num determinado momento, fazendo esse filme, eu me reinventei.

Brasileiros – Como é ser jurada em um grande evento como a Mostra?
Suzana Amaral – Para quem consegue filmar no Brasil, eu tiro de letra essa experiência. Mas é muito legal poder ver filmes de todo o mundo.

Brasileiros – Depois de Hotel Atlântico, você vai adaptar novamente um livro da Clarice Lispector, Perto do Coração Selvagem. Como anda esse projeto?
Suzana Amaral – Eu ainda estou pensando. Nada foi definido. Vou viver esse filme [Hotel Atlântico], esse momento e depois eu penso no próximo. O presente para mim é mais importante. Deixa passar isso aqui, que vou pensar na Clarice com carinho (risos).

Trailer de Independência:

SITE OFICIAL DA MOSTRA
www.mostra.org
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www.twitter.com/MOSTRASP


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