Para quem só anda de táxi em São Paulo, como eu faço, todo dia ouço dos motoristas sempre a mesma triste ladainha: “Esse trânsito não tem mais jeito. Um dia vai parar tudo, vai dar um nó geral, ninguém mais vai conseguir nem sair de casa. Nem Jesus Cristo dá mais jeito nisto. Eu não vejo a hora de largar esta vida e ir embora de São Paulo”. E por aí vai.
Com mil novos carros entrando a cada dia no já caótico trânsito de São Paulo, mais as obras que interditam ruas e viadutos, parece que as previsões apocalípticas dos nossos taxistas estão para se confirmar a qualquer momento.
De repente, quando tudo parecia perdido, somos surpreendidos por uma bela notícia dada pela Folha desta terça-feira na manchete do caderno “Cotidiano”: “Após 12 anos, SP vai ter respiro no trânsito – Pacote de obras a ser entregue em março, num gasto total de R$ 9,8 bi, deve melhorar circulação pela 1ª vez desde o início do rodízio”.
Chamado de “pacote de março”, mês em que o governador José Serra terá que deixar o cargo caso venha a ser candidato a presidente da República, o conjunto de intervenções urbanas promovido pelo governo do Estado e pela Prefeitura paulistana, foi bem definido por Bernardo Alvim, consultor em transportes, como “um choque de bem-estar”.
Já não era sem tempo. A última vez que o poder público fez alguma coisa parar melhorar de fato a vida de quem é obrigado a enfrentar o trânsito de São Paulo todos os dias foi a implantação do sistema de rodízio de carros conforme o final da placa, que retirou de circulação de 10 a 20% dos veículos nos horários de maior movimento.
Agora, como informa a Folha, São Paulo vai inaugurar de uma só vez o trecho sul do Rodoanel, novas pistas da marginal Tietê, a extensão da avenida Jacu-Pêssego, ligando a Dutra e a Ayrton Senna por fora da cidade, a primeira fase da linha-4 do metrô e a extensão da linha 2 até Vila Prudente, tudo isso permitindo o aumento das restrições à circulação de caminhões.
Segundo cálculos do secretário dos Transportes, Mauro Arce, estas obras vão permitir a retirada de metade dos cerca do um milhão de caminhões que passam por São Paulo mensalmente em direção ao porto de Santos, que agora poderão utilizar o Rodoanel.
Nunca entendi porque São Paulo, entre todas as grandes cidades do mundo que conheço, é a única onde os caminhões ainda circulam livremente por quase toda a área urbana, cruzando suas principais vias, principal razão para os constantes congestionamentos e a lentidão do trânsito a qualquer hora do dia, qualquer hora da semana.
Ainda de acordo com a Folha, “as obras têm uma década de atraso” , mas isso agora não importa. Pelo menos por algum tempo, teremos um refresco. “Essas obras vão estancar a piora do trânsito. A coisa vai continuar ruim, mas não vai piorar mais”, prevê Jaime Waisman, professor da USP. Por enquanto, já serão um alívio para meus estressados amigos taxistas e seus passageiros idem. Basta ter um pouco de paciência até as obras ficarem prontas, depois do Carnaval.
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