Foto: Jerry Bauer |
VIAJE ESCONDIDO Foto do capítulo Clandestino, do livro A Estrada, de Jack London |
Várias semelhanças ligam dois livros que acabam de ser lançados. Tanto A Estrada, de Jack London (Boitempo, 200 págs., R$ 38,00), quanto On The Road – O Manuscrito Original, de Jack Kerouac (L&PM, 360 págs., R$ 59,00), falam da estrada, retratam períodos de crise nos EUA e foram escritos há algum tempo.
Em A Estrada, publicado pela primeira vez em 1907, e que chega somente agora às livrarias brasileiras, London mostra os Estados Unidos devastados pela crise de 1894, que deixou um bocado de trabalhadores norte-americanos desempregados e famintos. Autobiográfico, o autor narra em nove contos os sete meses em que caiu na estrada em busca de liberdade, aventura e, quem sabe, alguma oportunidade de virar o jogo.
Em suas viagens de trem, passou fome, dormiu ao relento, vagabundeou com marginais de todos os tipos, foi roubado e humilhado, entre outras experiências – todas decisivas na formação do autor e em sua rejeição ao capitalismo. O texto rude e contundente de London inspirou e norteou nomes como George Orwell, John Dos Passos, Ernest Hemingway e, claro, Jack Kerouac em seu clássico On The Road.
O manuscrito original
NUMA TIRADA SÓ Kerouac escreveu On the Road em três semanas em um rolo de papel de 36 metros |
Diferentemente de London, que buscou na estrada uma alternativa a uma vida então dura e miserável, e que apenas depois decidiu se tornar escritor, no caso de Jack Kerouac, a literatura já corria nas veias quando ele se mandou pelo mundão americano ao lado de seu amigo Neal Cassady. “Ele foi à procura de respostas para questões que o mantinham acordado durante a noite e que depois também preenchiam os seus dias”, afirma Howard Cunnel, estudioso da obra de Jack Kerouac, professor da Universidade de Kingston, na Inglaterra, e responsável pela edição americana do manuscrito original.
O que é a vida? O que significa estar vivo quando a morte, essa estranha mortalha, está a ganhar? Irá Deus mostrar sua verdadeira face? Pode a alegria destruir as trevas? Essas são algumas questões recorrentes para o guru beat. Segundo explica Cunnel, a busca de Kerouac é interior, e as lições tiradas da estrada, e da mágica da paisagem americana, são aplicadas para iluminar e ampliar sua jornada espiritual. Durante três anos, entre 1947 e 1950, enquanto os EUA amargavam o início da Guerra Fria, após a Segunda Guerra mundial, Kerouac cruzou os Estados Unidos várias vezes. Do calhamaço de cadernos e anotações, extraiu em três semanas de 1951, sua obra-prima, sem vírgulas ou interrupções de parágrafos, em um rolo de papel de quase 36 metros.
On the Road tornou-se a bíblia dos andarilhos e estradeiros, mas, na época, passou por intermináveis ajustes, que além de azucrinarem o autor adiaram em alguns anos a sua publicação – chegou ao público americano em 1957 e cheia de mudanças. A versão original, sem cortes, somente agora está sendo lançada no Brasil. Nela, os nomes reais da história aparecem e o sexo corre livremente em suas páginas. O livro traz ainda quatro ensaios críticos de autoria de Cunnell e de outros três especialistas: Joshua Kupetz, George Mouratidis e Penny Vlagopoulos.
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