A exemplo do que deve ter acontecido em milhões de casas de brasileiros de 12 Estados e do Distrito Federal, quando tudo apagou e o mundo escureceu, às 22:15 desta terça-feira, começamos a ligar para os parentes mais próximos querendo saber onde cada um estava, com a inevitável pergunta: o que será que aconteceu?
Eu também queria saber. Nestas horas, todo mundo corre para a internet, mas demorou para que aparecessem as primeiras informações, ainda truncadas. Choveram palpites de todo lado. Lembrei-me então de um velho amigo, o Jorge Samek, que poderia ter a resposta mais correta. Tenho seu celular, mas achei que seria impossível falar com ele nesta hora.
Tentei a primeira vez, não consegui. Na segunda tentativa, pouco antes das 11 da noite, o próprio atendeu. “Alô, Samek, o que aconteceu?”, fui logo perguntando, sem mesmo dar-lhe boa noite. Solícito como sempre, ele me deu as informações mais importantes que eu precisava, que imeditamente repassei à redação do iG.
Jorge Samek, como agora todos sabem, vem a ser o presidente da Itaipu Binacional, cargo que ocupa desde o início do governo Lula. No olho do furacão, à frente da maior empresa de geração de energia do continente, o amigo parecia mais tranquilo do que eu poderia imaginar.
Em resumo, ele me contou que as cinco linhas de transmissão de Furnas foram saindo do ar num efeito dominó, o que desligou automaticamente as 20 turbinas de Itaipu, que geram 14 mil megawatts. Sem ter a quem entregar a energia gerada, as turbinas simplesmente pararam de produzir.
Já naquele momento, ele me disse que ventos ou raios devem ter provocado danos em alguma linha de transmissão e, como o sistema é interligado, uma após outra elas deixaram de levar a energia de Itaipu para boa parte do país. Mais não lhe perguntei para não atrapalhar seu trabalho.
Enquanto eu falava com ele, minha mulher foi repassando as informações para as filhas. Em seguida, liguei para a chefia da redação. Como a bateria do celular já estava acabando, nada mais me restava fazer a não ser ir dormir com a boa sensação do dever cumprido, sabendo o que aconteceu. Foi mais um dia ganho honestamente, como costumo dizer à minha mulher ao final de cada jornada.
De manhã, ao acordar, a luz já tinha voltado, tudo funcionava normalmente aqui em casa e, penso, no resto do país. O susto foi grande, mas as soluções seriam logo encontradas, antes que a urubuzada saísse da toca para festejar mais uma crise do fim do mundo.
Deixe um comentário