Quando pensou em fazer um filme sobre os efeitos da ditadura no Brasil, o diretor gaúcho Paulo Nascimento tinha apenas uma preocupação: como não fazer mais um filme sobre a ditadura. Pelo jeito, os cinco dias que passou trancado em um hotel de Gramado para escrever o roteiro de Em teu nome foram realmente inspiradores.
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Com um elenco afinado e uma história real cheia de reviravoltas nas mãos, Nascimento conseguiu seu objetivo: fez um filme diferente. A diferença de seu longa em relação a outros do gênero como O que é isso companheiro?, reside em sua essência. “Em teu nome é um filme de amor. Não é um filme político”, definiu o diretor, após a exibição da película no 6º Amazonas Film Festival, onde disputa a mostra competitiva de filmes de ficção.
O filme conta a história do casal Boni e Cecília, que se conheceu em Porto Alegre na década de 1970, e viveram juntos no exílio após a prisão de Boni, muito bem interpretado por Leonardo Machado. A trama começa a partir do envolvimento de Boni com uma célula da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e sua posterior prisão. A trama tem dois grandes focos: a história de amor entre duas pessoas com visões de mundo completamente diferentes e a vida dos brasileiros no exílio.
Paulo Nascimento conta que há muito tempo queria rodar um filme sobre a ditadura. “Eu tinha essa ideia há, pelo menos, uns seis anos. Um dia, um amigo me disse que tinha uma história que rendia um filme, mas todo mundo diz isso pra gente. Resolvi ouvir a história e conheci o João Carlos Bona Garcia e a Célia Garcia, sua esposa, e vi que a história deles, realmente, rendia um filme. A história dela é tão impressionante quanto a dele”, contou.
O que chamou atenção de Nascimento foi a diferença gritante entre as personalidades de Boni e Cecília. Ele é um jovem estudante com forte consciência política. Cecília, interpretada por Fernanda Moro, é uma estudante do interior do Rio Grande do Sul, completamente desinteressada por política, ditadura ou resistência.
“O que os une é o amor incondicional que Cecília sente por Boni e a forma como ela não se importa com o que está acontecendo ao seu redor. Tudo o que importa para ela é estar ao lado do Boni”, diz Fernanda Moro, que para interpretar Cecília foi ao encontro de Célia Garcia, a verdadeira esposa de João Carlos Bona Garcia. “Quando o Paulo me chamou para fazer o filme, ele disse que eu tinha muito da Célia. Ele falava dessa coisa abnegada, do amor por uma pessoa, essa doçura que a gente ainda vê no casal”, afirma a atriz.
Leonardo Machado diz que interpretar Boni representou um duplo desafio. “O primeiro porque o Paulo confiou muito em mim. Não sou um ator muito conhecido e esse foi o primeiro protagonista que fiz. O outro desafio foi o fato de interpretar alguém que está vivo. A gente se preocupou em não fazer uma mimese. Nesse ponto, o Bona deu muita liberdade pra gente”, contou Leonardo Machado que ganhou o prêmio de melhor ator no 37º Festival de Gramado. “Ganhar em Gramado foi muito especial porque nós, gaúchos, já entramos com um ponto a menos. Se ganhamos, dizem que ganhamos porque somos gaúchos. Se perdemos, dizem que somos tão ruins que nem em Gramado a gente vence”, brinca Leonardo.
Aliás, o prêmio de Leonardo Machado foi apenas um dos quatro que o filme venceu neste ano no festival gaúcho. Em teu nome venceu ainda o prêmio de melhor diretor para Paulo Nascimento, o prêmio especial do júri e de melhor trilha musical.
Futuro
Paulo Nascimento se prepara para mais um filme “de amor”. Sua próxima produção, A oeste do fim do mundo, vai contar a história de um argentino e uma brasileira que se encontram na Argentina e, contrariando todas as probabilidades, desenvolvem uma relação amorosa em meio à desilusão de ambos com o amor. Fernanda Moro e César Trancoso, que também está no elenco de Em teu nome, serão os protagonistas.
Ainda neste ano, Nascimento lança mais um filme: Casa Verde, um projeto em parceria com a Globo Filmes voltado para o público infantil e que conta com Leonardo Machado no elenco.
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