Franceses invadem São Paulo (tem calabar nisso aí…)

Entraves burocráticos e quetais atrasaram um pouco o andamento da luxuosa carruagem do ano da França no Brasil, mas não chegou a detê-la. O Station Brésil, por exemplo, previsto para maio, só entrou no ar agora em novembro. Tanto faz, o festival tem sido um sucesso nas cidades que mereceram o privilégio de recebê-lo. Trata-se de um festival unindo artistas dos dois países e a coisa vem rolando bem.

Em João Pessoa, tivemos Banda de Pífanos da Serra de Jabitacá ao lado de Jeanne Cherhal, Spleen com Cibelle, Louis Bertignac com Zélia Duncan e Mathieu Boogaerts com a Orquestra Sanhauá. Já em Recife, no primeiro dia teve Mathieu Boogaerts mais Siba e a Fuloresta, Thierry Stremler e Chico César, além de Naná Vasconcellos e Jam Session. No segundo encontro, Mariana Aydar e Spleen,
Jeanne Cherhal e Fernanda Takai mais Bertignac com Zeca Baleiro. Em Brasília, no início da semana, a nossa Isca de Polícia tocou no Centro Comunitário da UnB, ao lado da Spleen. Teve também Luiz Melodia e Jeanne Cherhal, o trio Edgar Scandurra, Arnaldo Antunes e Bertignac, Ana Cañas e Sandra Nkake e Móveis Coloniais de Acaju e Thierry Stremler.

Este final de semana será a vez de São Paulo, no Sesc Pinheiros. Os shows em Sampa serão o maior barato. No sábado (14), a banda Isca deve repetir o medley que fez com o grupo de Spleen (“se chamar a polícia/if you call the police”), preparando o público para o trabalho mágico de Edgar Scandurra e Arnaldo Antunes (só os dois!) e a guitarra alucinada de Louis Bertignac, que à maneira de Johnny Winter revisita Stones, Who, Led Zeppelin, Ten Years After, Chuck Berry e outros, sem perder o sotaque. No domingo (15), Tom Zé fará as honras da casa para a delicada Jeanne Cherhal, que curte Sonic Youth e Björk (em Brasília, dividiu Garota de Ipanema com Luiz Melodia), enquanto Naná Vasconcelos dançará em volta de Sandra Nkake, natural de Camarões, tida como a maior atração do festival.
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Vídeos
Bertignac mandando ver

Arnaldo Antunes e Edgar Scandurra

Banda Isca de Polícia e Spleen

Luiz Melodia e Jeanne Cherhal cantam Garota de Ipanema

O encontro
A convivência Brasil-França, a princípio, é trés espinhosa já que os franceses são adeptos de mau humor e cigarros. Nada que um bom ensaio não resolva. Isso vale do néo estelar Spleen, de Camarões como Sandra, que mistura, hip hop, rap e Jamaica com um molho irresistivelmente parisiense ao veterano Louis Bertignac, guitarrista da célebre Téléphone, ex-marido de Carla Bruni, um Keith Richards mais inteiro.

Peça mesmo é o veterano jornalista Remy Kolpa Kopoul, um dos fundadores do Libération, gato escaldado em termos de música brasileira, um papão. Parece uma cruza de Truman Capote com o jornal O Pasquim. Em cinco minutos de almoço, em um restaurante mineiro de comidas leves (tipo leitãozinho), rememorou encontros com Adolpho Bloch, Dorival Caymmi e Roberto Marinho. Deste último, as marcas foram indeléveis.

No Brasil de 1985, as atenções se dividiam entre o primeiro Rock in Rio e o Colégio Eleitoral que elegeu Tancredo Neves. A Globo seria homenageada por aqueles dias com uma exposição no Centro Georges Pompidou em Paris. Remy foi convocado, mas pela única vez em sua vida, E ÚNICA, frisa, não entrevistou, mas escreveu um ditado. O problema é que, ao que tudo indica, o sr. Marinho estava meio calibrado. Entre uma pontificação e outra, dormia, obrigando o francês a fingir tosse, derrubar caneta, chutar cadeira a título de despertador. Foram duas horas. À saída, Remy foi cumprimentado. O sr. Marinho nunca concedia mais de 15 minutos de audiência. “Mineiramente, à maneira de Tancredo”, Remy nada disse. Já sobre Bloch, limitou-se a comentar: “O cardápio foi irrepreensível”.


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