A terceira mesa de debates do seminário “Brasil nos Trilhos” aprofundou bastante quais os possíveis impactos ambientais, humanos e sociais com a construção dos trens de alta velocidade. Com o tema “O efeito da construção de um trem de alta velocidade em uma cidade”, a mesa contou com Juan Frigério, do Escritório Foster & Partners, da Grã Bretanha, com a professora Dra. Raquel Rolnik, da FAU/USP, além do professor Dr. Jaime Waisman, da Poli/USP.
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Em inglês, Frigério ofereceu um panorama de projetos do escritório em que trabalha. Com a ajuda de slides, o arquiteto mostrou diversos trabalhos em cidades ao redor do mundo. São obras de melhorias urbanas em edifícios, aeroportos, áreas culturais, como museus, além de espaços de educação, como universidades.
Segundo Frigério, o escritório tem preocupação enorme com os impactos ambientais dos projetos, além de grande cuidado com a sustentabilidade. “É curioso estarmos aqui falando sobre o Trem de Alta Velocidade (TAV), uma forma limpa de transporte, enquanto os líderes mundiais estão em Copenhague (Dinamarca), falando sobre aquecimento global, emissão de gás carbônico”, comparou.
O arquiteto apresentou modelos modernos e ultrapassados de planejamento urbano e afirmou que é preciso repensar certas ideias insustentáveis do ponto de vista ambiental, como o uso excessivo do carro em grandes cidades. “A maior parte da emissão de gás carbônico vem de transportes como o carro. Por isso, o TAV pode reduzir muito a emissão de CO2. Temos de ter visões sustentáveis”, finalizou Frigério.
Em seguida, a professora Raquel Rolnik esquentou o debate, fazendo um contraponto ao projeto do TAV. Rolnik questionou várias questões em torno da construção dos trens. “Ninguém falou até agora que a cidade de Guarulhos não tem nenhum trem. E agora teremos três, mais ou menos com o mesmo trajeto”, indagou.
A professora abordou, entre outros problemas, a eterna divergência política entre os níveis federal, estadual e municipal quando se fala em qualquer projeto de infraestrutura. “Se quisermos imaginar um novo patamar de desenvolvimento no nosso País, a primeira coisa que se deve mudar é o planejamento e a gestão. O que foi apresentado aqui hoje me pareceu o antiplanejamento”, criticou, acrescentando que o cidadão não quer saber das discordâncias dos governantes, e sim melhorar a mobilidade urbana, um problema cada vez mais grave nas grandes metrópoles do Brasil.
“Obras de infraestrutura têm impactos grandes na vida das pessoas e precisam ser pensadas dessa perspectiva também. Tenho certeza de que o Brasil está ficando gente grande, como disse o ministro Mantega aqui, mas temos de incorporar nessa discussão algo que não foi pensado, que é o planejamento mais profundo desses projetos”, encerrou Rolnik, muito aplaudida pela exposição.
“Acho que a professora Raquel esgotou as questões do presente. Então, vou falar do futuro, porque estaremos todos mortos lá e vocês não vão me cobrar pelas bobagens que eu venha a falar aqui”, brincou o professor Jaime Waisman, da Poli/USP, ao começar o seu breve discurso.
Waisman fez uma breve análise do futuro da região do Vale do Paraíba com a construção dos trens. Primeiro, disse que os projetos podem transformar São Paulo e Rio de Janeiro em uma macrometrópole, como se imaginou no passado. Depois, o professor falou dos impactos positivos da construção dos trens, como o ganho de tempo em viagens, a substituição de meios de transporte poluentes, como o carro, por uma energia 100% limpa.
Para encerrar, Waisman falou dos possíveis problemas que o projeto do TAV pode trazer à região, como os grandes impactos ambientais. “Existem parques verdes no Vale do Paraíba, como os da Serra do Japi e Serra das Araras, que precisam ser preservados. A questão ambiental não pode ser tratada como problema. Ela não pode ser empurrada para debaixo do tapete, tem de ser tratada de forma consciente, séria”, alertou.
O professor ainda lembrou a questão da água, pois há várias bacias hidrográficas e mananciais na região. “Se não cuidarmos, podemos comprometer o abastecimento de água para uma população enorme, além de impactos ambientais graves”, disse, completando que o projeto do TAV é uma oportunidade e um desafio grande para a melhoria das cidades envolvidas.
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