Ao receber o prêmio de “Brasileiro do Ano”, da revista Istoé, na noite desta segunda-feira em São Paulo, o presidente Lula mais uma vez aproveitou para falar mal do mau humor da nossa imprensa:
“Tem dia que você acorda, lê os jornais e a vontade que dá é de se matar, porque o mundo está acabando. Se você então fica só nas manchetes, nem saia de casa, porque tem um certo azedume, aquela coisa tão azeda que faz mal para o país”.
Mas os mesmos jornais que todos os dias garimpam notícias negativas para colocar nas suas manchetes, uma interminável sequência de denúncias de corrupção de norte a sul do país, tragédias e desgraças em geral, informam hoje, de forma bem discreta, que a popularidade do presidente bateu novos recordes.
Em apenas seis linhas, acompanhadas de um gráfico, a Folha noticia no pé da matéria sobre a última pesquisa Ibope publicada na dobra de baixo da página A10: “O presidente Lula voltou aos níveis de popularidade anteriores à crise. Seu governo é avaliado como ótimo ou bom por 72% e sua aprovação chega a 83%”.
Bem ao lado, na coluna “Toda Mídia”, de Nelson de Sá, na mesma página, encontram-se sob o título “Lições do Brasil” as explicações para a popularidade do presidente. Detalhe: a coluna é baseada principalmente em notícias divulgadas na imprensa estrangeira. Transcrevo o texto:
A se dar crédito aos números, a aprovação de Lula segue alta. E foi pesquisa feita sob o impacto do apagão, notícia “mais lembrada” pelos entrevistados.
Uma explicação pode estar na “Newsweek” desta semana, sob o enunciado “Como o Brasil controlou a desigualdade”. O país virou “parâmetro no esforço global para diminuir a diferença entre ricos e pobres”. E “não são só os pobres que vivem situação melhor: o Brasil se destaca porque seus pobres estão subindo mais rapidamente do que qualquer outra classe social. A desigualdade caiu 5,5% desde 2003″.
Mais à frente, “apesar de China e Índia estarem crescendo mais, estão se tornando mais desiguais, o que leva especialistas a olharem o Brasil como um modelo para a guerra contra a pobreza.” E por aí vai, creditando à “chegada da esquerda ao poder”, com Bolsa família, mais presença do Estado etc.
A “Newsweek” ecoa a “Economist” anterior, sob o título “Lições do Brasil, China e Índia”. Em suma, “por unidade de crescimento, o Brasil cortou sua taxa de pobreza cinco vezes mais que China e Índia. Como ele conseguiu ir tão bem?” Bolsa Família etc.
“A terra de menos contraste – como o Brasil enfrentou a desigualdade”, é o título da matéria de Mac Margolis, há muitos anos correspondente da Newsweek no país, um dos jornalistas estrangeiros que melhor conhece o Brasil. Ele mostra que, entre 2003 e 2008, os 10% mais ricos ficaram 11% mais ricos, enquanto os 10% mais pobres aumentaram a renda em fantásticos 72%.
Resultado: 21 milhões de brasileiros sairam da linha da pobreza. Esta é para mim a grande obra do governo do presidente Lula, a marca que vai ficar dos seus dois mandatos, ao começar o processo de diminuição da desigualdade social no país.
E é o que explica os índices de aprovação do seu governo, apesar de todas as coisas negativas que dominam o noticiário aqui dentro, enquanto a imprensa internacional não se cansa de falar todos os dias das conquistas econômicas e sociais do país nos últimos anos.
Das duas uma: ou a maioria da população brasileira agora deu de ler só jornais estrangeiros ou não está dando muita bola ao que lê na imprensa brasileira – ou, simplesmente, está deixando de ler jornais e consumir notícias.
Para não ficar de mau humor logo de manhã na hora do café, recomendo ao presidente Lula que faça como eu: vá direto para a coluna “Toda Mídia’, do Nelson de Sá, na Folha. Lá só costuma ter notícia boa sobre o Brasil.
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