De mau humor, paulistanos vão às compras de Natal

Natal lembra fraternidade, confraternização, troca de presentes e de abraços. Mas, a nove dias da grande festa cristã, não é nada disso que se sente andando pelas ruas de São Paulo. No corre-corre das compras, uma verdadeira gincana com buracos nas calçadas e no asfalto, muita sujeira nas sarjetas, aquelas sequelas todas das chuvas da semana passada, vive-se um clima de salve-se quem puder.

No Jardim Paulista, onde moro, a gente sabe que o Natal está chegando quando as lojas ficam enfeitadas, o trânsito começa a parar a qualquer hora do dia e aumenta o número de pedintes, famílias inteiras que acorrem das periferias para as áreas mais nobres da cidade em busca de alguma ajuda.

Este ano, porém, não está valendo aquela antiga tradição de todo mundo ficar com o coração mais mole, mais aberto ao sofrimento dos outros. Cansados de pedir e só receber de volta caras feias e nãos, os forasteiros da esmola xingam quem lhes nega ajuda, e saem blasfemando, puxando os filhos pelos braços em busca de outras calçadas.

O que estará acontecendo? Não sei a quantas andam as vendas das lojas neste Natal, mas acabei de ler no iG que o movimento do comércio cresceu pelo sexto mês seguido. Os indicadores econômicos mostram que já voltamos aos patamares de emprego e renda de antes da grande crise financeira mundial.

Se o problema não é dinheiro – sempre ele – o que explica então este mau humor do paulistano, que se recusa até a dar bom dia e boa tarde, a falar por favor e obrigado, estas gentilezas de antigamente que parecem ter sido levadas nas últimas enchentes?

Como sinto claustrofobia nos shoppings lotados, esperei a chuva parar para fazer minhas compras nesta segunda-feira, aqui nas lojas de rua do bairro. Parece que todos, vendedores e consumidores, estão com pressa, sem muita paciência para ouvir o outro, cada um apenas cumprindo sua tarefa, sem sequer desejar um Feliz Natal ao final das compras.

É um anti-clima de Natal. O maior desejo de todos com quem tenho me encontrado, de motoristas de táxi a amigos do bar no final de tarde, é que as festas passem logo, que cheguem as férias e possam, enfim, sair da cidade para qualquer outro lugar.

Será que isso está acontecendo também nas outras cidades brasileiras ou esta é uma síndrome pré-Natal típica dos paulistanos? Gostaria que os leitores do Balaio espalhados pelo Brasil afora me ajudassem a esclarecer estas dúvidas. Afinal, mudou o Natal ou mudamos nós?

Em tempo:

são três da tarde de terça-feira, e me dei conta de que esqueci de falar no texto acima de uma outra característica de São Paulo nesta época do ano: o barulho infernal das buzinas.

Todo mundo parece querer resolver seus problemas tacando a mão na buzina e xingando os outros motoristas. Morei dois anos na Alemanha, na década de 1970, e não me lembro deste barulho de gente buzinando no trânsito.

Se não podemos evitar o barulho das obras que nunca terminam, dos motores dos carros e dos helicópteros, pelo menos poderíamos fazer um esforço para buzinar menos. Até porque, como está cientificamente provado, não resolve nada


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