“Um passarinho me contou…”

Retrospectiva 2009 – o lado B da notícia

Hoje, todos conhecem o Twitter. Ou não. Em março, o site da Brasileiros fez uma reportagem sobre o verdadeiro fenômeno da rede em 2009.

Twitter, na tradução livre do inglês para o português, significa pronunciar uma série de pequenos sons, como um pássaro. Atualmente, twitter ganhou um novo significado e virou sinônimo de comunicação. Para quem não conhece, o Twitter é a nova febre da web. Na ferramenta, a informação se espalha de maneira instantânea, é transmitida de usuário para usuário, quase como aquela velha história “um passarinho me contou…”.

PARA TWITTAR
1- Acesse www.twitter.com
2- Crie um perfil
3- Comece a twitar

Quando surgiu, em agosto de 2006, o Twitter tinha uma pretensão infinitamente menor do que o sucesso alcançado hoje. Seus primeiros usuários o utilizavam basicamente para responder a pergunta que estampa a página inicial do site: “O que você está fazendo agora?”. A ferramenta servia como uma espécie de agenda e diário on-line. Com um formato dinâmico, são apenas 140 caracteres para cada postada, no caso “twittada”, o Twitter rapidamente intrigou e interessou os principais influenciadores da internet, os chamados early adopters, que abraçaram a ferramenta e a transformaram na sensação do momento na web.

Pollyana Ferrari, pesquisadora em novas mídias, professora doutora da PUC-SP e consultora em Web 2.0, diz que o Twitter está se aproveitando da fase atual da comunicação, que ela define como “adrenalizada”. Essa fase pode ser explicada em números. Mesmo em tempos de crise, o Twitter recebeu um investimento de cerca de 20 milhões de dólares no início de 2009, além de ter rejeitado uma oferta de compra de 500 milhões de dólares feita pelo Facebook no ano passado.

Atualmente, para se definir com precisão o Twitter e todas as suas ferramentas, seria preciso um espaço muito maior do que os 140 caracteres. O microblog junta conceitos de rede social, SMS, RSS e Messenger. Além de servir para falar o que se está fazendo no exato momento, o Twitter também é usado com um cunho mais informacional, com links de notícias, entretenimento etc.. E não é preciso um computador para a manutenção e atualização de seu perfil. Isso já pode ser feito pelo celular.

Edney Souza, considerado um dos primeiros empresários a se utilizar de blog no Brasil, diz que apesar de algumas pessoas usarem o Twitter apenas como agregador ou filtro, muita gente já usa a ferramenta de maneira independente. O empresário e blogueiro afirma ainda que é constantemente convidado para eventos e palestras por conta de seu sucesso no Twitter, um dos dez perfis mais seguidos do Brasil. Porém, não é essa a principal razão pela qual mantém seu perfil.

“Prefiro usá-lo para construir reputação, ampliar networking e cultivar relacionamentos”, acrescenta Edney. Segundo ele, um dos motivos do sucesso do Twitter é seu formato, capaz de aproximar usuários com interesses em comum. “O que muita gente não entendeu ainda é que os próximos veículos on-line não serão de massa, serão de nicho”.

O Twitter conseguiu explorar de maneira brilhante o conceito explicado por Edney. Ao seguir um perfil, você automaticamente recebe os tweets da pessoa seguida. Por isso, em vez do “twitteiro” correr atrás do conteúdo que o satisfaz, ele é automaticamente alimentado com tudo o que lhe agrada, e fica mais próximo de quem o fornece e de outros a quem aquilo possa interessar, como se fossem grandes rodas de discussão entre amigos.

O perfil do usuário varia. No total, no mundo todo, são mais de seis milhões de pessoas, com milhares de interesses diferentes e com um objetivo em comum: compartilhar e difundir ao máximo todo e qualquer tipo de informação disponível na rede. A informação fica acessível e aberta a debates para quem tiver o interesse. É o que podemos chamar de rede democrática.

O boom, o humor e as empresas no Twitter

Em março de 2007, o então candidato à presidência norte-americana Barack Obama criou seu perfil no Twitter a fim de alavancar a campanha que o levaria à Casa Branca. Depois dele, inúmeras celebridades entraram na brincadeira e abriram suas contas. A lista é extensa e vai do premiadíssimo escritor Paulo Coelho até a premiadíssima atriz de filmes para adultos, Jenna Jameson. Não há restrição nem descriminação, contanto que você queira falar algo, ou sobre algo, o Twitter é o lugar certo.

Rafinha Bastos, um dos apresentadores do CQC , o mais recente sucesso nacional da TV, diz que conheceu a ferramenta quase que por acaso, por meio de seu colega Marcelo Tas. De cara, gostou da idéia. “O Tas só falava do Twitter. De vez em quando, eu via ele vidrado no celular e dando risada. Perguntei o que era aquilo e acabei gostando muito da idéia. É mais uma forma de comunicação com o meu público, envio e recebo informação da galera a todo instante, é muito bom.”

Com um número enorme de seguidores, Rafinha utiliza o Twitter como uma extensão de seu trabalho principal, ou seja, fazer humor. Seus tweets são basicamente piadas de até 140 caracteres. “A minha comédia é direta. Meu humor não tem enrolação e esta é a característica principal do Twitter. Acho que me adaptei muito bem à ferramenta”, analisa.

Outro integrante do CQC também usa o Twitter para fazer humor. Danilo Gentili conta que uma amiga fez seu perfil e o alimentou durante algum tempo e só depois ele resolveu experimentar. Não largou mais. Gentili diz que faz uso do Twitter de maneira livre e descompromissada. “Ele me ajuda a exercitar minha mente. Eu comento notícias com piadas. É só um exercício para mim, não me censuro ou penso algo como ‘essa está ruim, vou arrumar’. Ou ‘tomara que gostem dessa’. Eu apenas posto. O que acaba sendo um exercício de coragem também, pois coloco coisas sem graça no meu nome”, brinca Gentili, sempre aproveitando para não perder a piada.

Porém, ele admite que o Twitter é muito eficaz na hora de decidir o rumo que tomará em sua comédia. “Tenho percebido que o Twitter é uma ótima forma de receber um retorno do que o público pensa. Eu comento algo e logo em seguida recebo comentários como ‘uhhh q lixo’ ou ‘essa foi legal’… E aí, com um pouco de cuidado, podemos perceber ou ter uma mínima noção por onde é legal passar na hora de criar uma piada.”

Dentro da categoria humor, há também as celebridades anônimas. É o caso do estudante de computação Luís Celso, de 21 anos. Para os “twitteiros” que não o identificaram, trata-se do Twitteiro (Twitteiro Profissa até pouco tempo). Com pouco mais de 12.000 seguidores, ele tem um dos perfis mais seguido do Brasil, voltado basicamente à comédia. “É tanta gente reclamando da vida via Twitter (parece até uma terapia) que optei por fazer um perfil mais puxado para o lado do humor.” Luís diz que já experimentou de tudo na internet, porém hoje se dedica exclusivamente ao Twitter.

Sobre a popularização do Twitter e o uso comercial da ferramenta, o estudante não se opõe. “Não acho que o uso comercial da ferramenta prejudicará seus usuários. Há vários casos de empresas usando a ferramenta de forma ‘correta’, não apenas divulgando seus produtos como também interagindo com seus seguidores, respondendo ali mesmo as reclamações e elogios. A distância entre o cliente e a empresa diminui, o cliente enfim é ouvido.”

Na esteira da explosão do fenômeno, existem empresas se antecipando e aderindo ao Twitter como forma de aproximação ao consumidor. A marca carioca de camisetas Camiseteria possui seu perfil e, por conta de sua abordagem seja com clientes ou não, figura na lista dos mais seguidos do Brasil.

Rodrigo David, sócio da Camiseteria, ressaltou a importância que o Twitter vem tendo para a empresa. “O Twitter é um importante canal de comunicação para a Camiseteria. Através dele, conseguimos atingir milhares de consumidores em poucos segundos. O resultado tem sido extremamente positivo.” Segundo David, os usuários entram em contato constantemente através do Twitter com sugestões sobre a modelagem, novos produtos, feedbacks sobre a empresa e comentários em geral. A empresa agradece o retorno e faz constantes promoções exclusivas para seus seguidores.

Ainda sobre o lado comercial da ferramenta, Edney Souza ressalta que é preciso aproveitar o atual momento do Twitter. “Se aproveitarem para entrar apenas quando eles se massificarem terão perdido as melhores oportunidades.” Porém, Edney não acredita em uma comercialização desenfreada em caso de massificação do Twitter. “Assim como o Orkut não se tornou mais comercial com a popularização (a grande maioria das mensagens e comunidades é pessoal) também não acredito numa comercialização exagerada do Twitter.”

Pollyana Ferrari, por sua vez, diz que isso já vem acontecendo. “No Brasil, 80% dos usuários de internet participam de alguma rede social (Orkut, Facebook, MySpace etc.). Isso representa muita gente interessada em conversar, comprar, se informar e gerar visibilidade. Desde agosto de 2008, por exemplo, a NET (TV a cabo) usa o Twitter como serviço de SAC (Serviço de Atendimento ao Cliente) e aumentou em 30% a satisfação de seus usuários após adotar a plataforma.”

Jornalismo, fonte de informação e publicidade

O fragmentado e gigante grupo do Twitter, com um acesso quase que instantâneo, rapidamente se transformou em uma grande central de jornalismo. Casos como os atentados terroristas em Mumbai (Índia) e a queda do avião no Rio Hudson, em Nova York, foram anunciados antes no Twitter, furando os grandes veículos de mídia e atraindo a atenção de gigantes como a CNN, Wall Street Journal, The New York Times, Globo, entre outras que, agora, possuem perfil no Twitter. Mas, em se tratando de meio de informação, como acontece em todos os meios colaborativos, é preciso tomar cuidado com a fonte. “Temos o risco do crescimento de perfis falsos e de informações não checadas, mas toda plataforma 2.0 oferece esses riscos, que precisamos aprender a identificá-los, descobrindo seus macetes e pontos fracos” afirma Ferrari.

Raquel Recuero, pesquisadora em redes sociais pela Universidade Católica de Pelotas e autora (ao lado de Gabriela Zago) da maior pesquisa sobre o Twitter no Brasil, também é positiva em relação a ao uso da ferramenta para informação, porém alerta para um outro problema. “Acho que tem um grande potencial e vem demonstrando isso, principalmente no que diz respeito à filtragem de informações e ao jornalismo cidadão. Um dos riscos é que o Twitter trabalha com um espaço pequeno, o que limita a quantidade de informações disponibilizadas”, analisa.

Polivalente da comunicação e, por muito tempo, dono do perfil mais seguido no Brasil, Marcelo Tas vê com bons olhos o uso da ferramenta em prol do jornalismo, desde que usada de maneira correta. “É muito eficiente e veloz. Tenho ao alcance de um clique, no dia de hoje, 25 de março à tarde, quase 22 mil seguidores. É uma enorme responsabilidade, mas também um gigantesco potencial. Trata-se de uma rede extremamente qualificada que pode interagir comigo ao alcance de um clique.” Tas tem o perfil desde 2006 e define seu conteúdo editorial no Twitter: “O meu interesse editorial posso definir por um tripé: tecnologia, educação e comportamento”.

É ele também o pivô de uma polêmica que tomou conta do Twitter e de alguns blogs no Brasil. Aproveitando a popularidade de Tas no Twitter, a Telefônica vai utilizar o perfil do comunicador para anunciar o novo serviço de banda ultralarga. O acordo prevê um tweet diário de um vídeo em alta resolução com uma dica. Todos os tweets que falarem a respeito do serviço terão a tag #xtreme. Além disso, a Telefônica já tem um pequeno banner na lateral do perfil de Tas.

Sobre o assunto, Tas foi muito claro, principalmente em relação à possível interferência da Telefônica na produção editorial de seu perfil. “A Telefônica não tem qualquer ingerência nesse conteúdo editorial. E eu não tenho de, e não vou, divulgar ou vender qualquer produto no corpo do meu texto de 140 caracteres.” A decisão de abrir espaço comercial em seu perfil gerou opiniões contrárias por parte de alguns. Tas responde enfático sobre o motivo da repercussão negativa entre a minoria. “Ignorância e preconceito. Essas pessoas que surgiram com pedras nas mãos me julgaram muito antes mesmo de entender qual era a novidade. É muito engraçado. Ninguém se incomoda com a Petrobrás financiar TVs, jornais, revistas e até toda a produção do cinema brasileiro. Mas ficaram enfurecidas com um banner de 3 x 2 cm no meu Twitter. Vai entender…”

Para o Twitteiro (Luís Celso), o marketing via Twitter é algo que está se tornando cada vez mais comum, principalmente em outros países. “O que tanto as empresas quanto os usuários devem tomar cuidado é na forma como esta propaganda é feita. A empresa jamais deve interferir diretamente no que o usuário irá postar, cuidado este que aconteceu no caso Marcelo Tas e Telefônica”, opina, acrescentando que a repercussão foi negativa talvez por ter sido o primeiro caso de “patrocínio” no Twitter.

Ainda na área da publicidade, Tas diz acreditar que o Twitter pode ser uma poderosa arma para sua difusão. Ele também torce para que os blogs comecem a ser mais explorados pelos publicitários. “Alguns têm mais audiência que muitos canais de televisão.”

O Twitter chegou avassalador ao mundo da internet. Resta saber agora se o voo do passarinho é de uma ave migratória ou de uma pomba. Para Polyanna Ferrari, não dá para afirmar com certeza se a plataforma chegou para ficar ou não. “Sempre lembro do Second Life, que teve uma vida curta. Mas acredito que pela facilidade de uso do Twitter, o que não tínhamos no Second Life, a ferramenta tem tudo para criar história”, prevê.

“Tudo existe pra ser substituído por uma próxima novidade. Eu e você daqui a pouco seremos substituídos. O grande barato é saber usar e não ficar esperando. Se você apenas esperar a onda perfeita nunca vai surfar”, diz Edney Souza. Sendo assim, vamos todos voar e “twittar”!

ACESSE

www.twitter.com/rev_brasileiros


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