Direto do México

Retrospectiva 2009 – o lado B da notícia

Em abril, o mundo foi assombrado pela gripe suína. O México foi o principal foco do vírus, que depois espalhou-se por quase todo o globo. Do país da América do Norte, tivemos o relato de uma jornalista brasileira.

Moramos no México há mais de dois anos e a vida sempre foi tranquila por aqui. A Cidade do México se parece muito com São Paulo em trânsito, poluição e muita gente. Por isso, escolhemos viver fora da capital, conhecida aqui como DF. Moramos em Atizapán de Zaragoza, no Estado do México, em um lugar arborizado e afastado da movimentação.

Na sexta feira, dia 24, recebemos um telefonema as 7h da manhã avisando que as escolas tinham suspendido as aulas, devido a um surto de gripe.

Dias anteriores, os jornais já avisavam que havia muitos casos de influenza nos hospitais. A partir daí, começou um pesadelo, que vivemos até agora e que eu não acredito irá terminar tão cedo.

Na verdade, estamos todos bem. Os meninos, sem escola, passam o dia em casa, o máximo de tempo ao ar livre. Dizem que as aulas regressarão dia 6 de maio. Não acredito! As coisas parecem sem controle e o governo está desesperado para que a epidemia pare de evoluir.

Ontem, todos os restaurantes foram fechados. Não temos mais shoppings, museus, shows, esportes, nada! Tudo o que não é primordial e que acaba aglomerando muita gente, fechou. A cidade esta vazia. Todos dentro de casa, esperando o controle dessa gripe.

São medidas preventivas já que o vírus é transmitido de pessoa para pessoa, por via respiratória e por contato. No entanto, não existe previsão de fecharem outras operações.

Especulam muito, mas se fecharem o transporte público ou os supermercados, vai ser muito pior… isso vai virar um caos. No dia que fecharam os restaurante, correu um boato de que iam fechar as lojas… Pra que? Foi uma correria aos supermercados igual ao plano cruzado. Não sobrou um pedaço de carne (havia apenas carne de porco), uma caixa de leite, uma caixa de ovos nas prateleiras … isto foi na 2ª feira dessa semana (dia 27).

Ontem (dia 29), a Organização Mundial de Saúde elevou o risco de 4 para 5 e, com isso, foi decretado feriado nacional de 1º até 5 de maio. Aqui, já teríamos a paralisação das escolas nessa época, pois além do Dia do Trabalho, comemora-se a batalha de Puebla, no dia 5. São novas medidas de restrições.

Como moramos mais distantes, por aqui as coisas seguem mais tranquilas, como sempre foi. Fora o problema dos supermercados e o fato de ninguém sair sem as máscaras. Já tem piada dizendo que Michael Jackson virou o nosso ídolo fashion. Pra vocês terem uma idéia do que estamos passando!

As pessoas se abasteceram e me pergunto: até quando??

Nas multinacionais, onde trabalham pessoas de todas as partes do mundo, existe a liberdade de opção para retorno aos seus países. Na verdade, o risco de um voo de 10 horas talvez seja maior do que estar dentro de casa, incomunicável. Não tenho, particularmente, ânimo de encarar aeroportos agora.

Nos escritórios já mandaram a maioria trabalhar desde suas casas. Todos nos seus laptops e em conference calls.

Vamos ficar, até segunda ordem!!! Se a coisa complicar muito, acho que aí sim, podem nos “evacuar”. A palavra pode ser usada, já que estamos numa situação de guerra. Na verdade, uma situação inusitada para todos. Existe, sim, muito pânico na região que estamos, porque em Cancun, por exemplo, tudo está mais calmo já que os hoteis estão vazios com a caída dramática no fluxo de turistas para o Mexico.

A parte mais tranquilizadora é que “tem remédio”. Uma vez sentidos os sintomas, basta ir ao hospital e ser medicado. O que está acontecendo é que a informação não flui perfeitamente e muita gente chega ao hospital com um nível de pneumonia aguda, e aí não tem mais o que fazer. Todos o que morreram já chegaram em um estado avançado da doença.

Espera-se que na próxima semana as noticias melhorem e no final vão ser só histórias.

Enfim, mais uma experiência para nosso álbum de recordações mexicanas!

*Andréa D’Andrea é jornalista, mora com o marido e os dois filhos em Atizapán de Zaragoza, cidade satélite da Cidade do México, onde tem suas atividades.


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