A Toyota fez mau negócio ao abandonar as corridas de Fórmula 1. Nesta temporada não iria ter competição contra seus carros de aceleração constante e automática, e freios que não param o bólido. Fiquei torcendo para que uma equipe fosse criada a partir desses veículos e dessem a direção ao Rubinho. O piloto iria ganhar o campeonato fácil, fácil. Dispensaria até mesmo os gritos do Galvão Bueno: “Acelera Rubinho!”. Ao invés disso, a montadora japonesa pede desculpas pela inovação e manda recolher milhões de automóveis no mundo. Uma medida precipitada, isto na minha opinião.

Siga meu raciocínio. A Toyota é campeã de vendas nos Estados Unidos. A maioria dos fregueses comprou o modelo Camry. São, de modo geral, velhinhos e donas de casa inseguras ao volante. Estão bem representados na figura de minha sogra, que tem um automóvel desses. Você entra numa autoestrada e dá de cara com essa gente rodando na pista esquerda, numa velocidade de 20 quilômetros por hora. Não adianta buzinar, dar sinal de farol, pois eles mantêm posição. Reforçam suas intenções ao deixar o pisca ligado na esquerda. Ou seja, não vão sair dali. Forma-se uma fila de indignados, xingando na rabeira daquele marcha lenta.

O problema estaria resolvido com a aceleração compulsória dos veículos. E nada de brecar. Todos os dias, seriam mantidas maratonas de rachões, com Mister and Misses Smith sentando a pua. Mas não, o fabricante desse moto perpétuo, teima em cumprir com a segunda lei da termodinâmica (aquela da “energia não pode ser criada ou destruída”).

Depois de inventarem o carro que faz baliza sozinho, está nas ruas o modelo que dispensa motoristas completamente. O sujeito vai à garagem e não encontra a viatura. Ela foi dar uma banda. É como ter filho adolescente. Chega a polícia em sua casa e pergunta: “O senhor tem um Toyota Highlander bordô, chapa P 12 798?”. Ao que você responde: “Tenho sim. O que ele aprontou dessa vez?”. E vem o prejuízo: “Foi num posto, entornou R$ 50 de álcool, saiu sem pagar e depois bateu num poste. Por pouco não demole a traseira do Passat de uma velhinha que rodava na pista esquerda”.

Para acabar com escapadas como essa, bastaria colocar uma corrente numa das rodas. Como fazia meu pai, em seu Dodge Charger, quando eu tinha 15 anos. Portanto, estaria evitada a pergunta angustiante: “Meu! Cadê meu carro?”. Em compensação, o mundo experimentaria mais aventuras. Nada de ficar colado no computador, blogando sobre o sexo dos anjos. O motorista entra num Prius e não sabe onde vai parar. Sai de Pinheiros, em São Paulo, e só desce do veículo em Ilhéus, na Bahia, quando o combustível acabar.

Trata-se de incentivo ao turismo interno, emoções garantidas nas estradas e até controle da poluição do ar. Isso mesmo: afinal, será preciso muita coragem para se arriscar ao volante. O sujeito quer ver a namorada, embica o automóvel na direção do endereço da moça. Quando passa pela casa, abre a porta e pula do veículo. Terá, é verdade, de voltar a pé. O bólido de vontade própria só será encontrado uma semana depois, com a voz do GPS rouca de tanto dar instruções. Para quem, como eu, gosta de guiar, não haveria problema. A não ser pelo fato de ter de pilotar um Toyota, que é como dançar com a irmã.


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