Querem tirar bichos da Água Branca

A vida não é feita só de manchetes – sucessão presidencial, julgamentos, futebol, denúncias, guerras, terremotos e desgraças em geral. Tem muita gente que se preocupa também com assuntos mais próximos da gente. Podem parecer preocupações menores, menos importantes para a grande mídia, mas são elas que fazem o dia a dia de cada um dos simples mortais.

É este o caso da mensagem que recebi neste final de semana da assistente social Malu Genevois, filha da minha grande amiga Margarida Genevois, minha enterna presidente da Comissão de Justiça e Paz, com quem tive a honra de trabalhar nos tempos de d. Paulo Evaristo Arns.

Moradora do bairro de Perdizes, e há mais de vinte anos frequentadora fiel do Parque da Água Branca, onde vai caminhar todos os dias, Malu está preocupada com o destino dos bichos que andam soltos por lá. Descobriu que a administração está pensando em deixar apenas alguns deles confinados num galinheiro porque pretende implantar uma praça de alimentação neste bucólico espaço rural plantado no meio da metrópole.

Seu relato, que reproduzo abaixo, é um sinal de alerta para que a cidade não perca um dos poucos refúgios naturais que fazem bem aos olhos, aos ouvidos e à alma, um lugar onde as crianças ainda podem ser apresentadas a animais ao vivo, que muitas só conhecem da televisão. Faz bem ler o que Malu Genevois me escreveu. É uma forma agradável de começar bem a semana:

O PARQUE DA ÁGUA BRANCA

Como um “oásis” em meio a tanto asfalto, o Parque da Água Branca é uma delícia! Cocoricó de galos, cacarejos das galinhas d’angola, corridas de pintinhos atrás de milho, pavões sobre os telhados chamando seus pares com grito forte, patos e gansos nos lagos, peixes vermelhos e brancos no tanque Sabiás que caminham tranqüilos, sem medo dos passantes. Além dos gatos malhados, que se aconchegam ao sol e que bebem água diretamente da torneira. Tudo isso em meio a uma vegetação exuberante!

Os freqüentadores do Parque, de todas as idades, usufruem do privilégio de participar do espetáculo diário feito de sons dos bichos e cheiros das plantas, dentro de um cenário de luz e sombras formado por enormes árvores, por arbustos e bambus.

Para quem não conhece, há muitos prédios espalhados pelo Parque, onde funcionam vários tipos de instituições. Três vezes por semana acontece a feira orgânica, com a venda direta de produtores aos consumidores. As construções seguem o estilo antigo da época em que foram iniciadas (primeira metade do século 20), com as cores amarela e marrom em torno das janelas e portas.

Nas alamedas entre esses prédios, pode-se ver os muitos freqüentadores a caminhar, correr, bater papo, tomar sol. Muitas crianças conheceram, ali, animais que nunca tinham visto “ao vivo”. E os gritinhos com que manifestam a sua alegria frente a um pato, a um galo ou a vários pintinhos, confirmam o que já se sabe: a convivência com os bichos, no Parque, enriquece a todos, crianças e adultos!

Eis que, ultimamente, surgiu um boato preocupante, segundo o qual a administração do Parque pretende retirar todos os animais que passeiam dentro dele. E o motivo seria a previsão de abrir uma praça de alimentação perto da arena, plano que não inclui a presença de bichos soltos

Como usuária do Parque há mais de vinte anos, posso garantir o quanto esse espaço faz bem, a mim e a muitas outras pessoas! Retirar os bichos e alocar serviços para vender refeições vai destruir, em grande medida, esse “oásis” tão valioso para quem o conhece.

Para obter mais informações sobre os projetos dos responsáveis, procurei o administrador do Parque, Sr. José Antonio Teixeira. Ele me disse que de fato existe o plano de, a médio prazo, não haver mais bichos soltos pelas alamedas, com a construção de um galinheiro onde alguns animais ficarão confinados e supervisionados de perto.

A justificativa para tal medida é de que é preciso garantir proteção contra uma eventual epidemia de gripe suína que, se surgir, atingirá os bichos soltos em primeiro lugar. Ao perguntar se não seria conveniente divulgar essas medidas para os freqüentadores do Parque, ele me disse que ainda não chegou o momento de prestar informações.

Tentei conversar com representante da Associação de Ambientalistas e Amigos do Parque da Água Branca, deixei meu telefone, mas não me retornaram para agendar uma conversa (perguntaram qual era o assunto e eu falei que era sobre os bichos que estão sumindo).

Entre os freqüentadores do Parque que se dedicam, diariamente, a cuidar dos animais, distribuindo alimentos e lavando os locais em que os bichos se juntam, atentos para dar os cuidados necessários a algum mais fraquinho, vários já relataram ter visto pessoas levando filhotinhos (sobretudo de galinha d’angola, além de pintinhos), e é possível constatar que sumiram pavões e galinhas d’angola.

Essa forma de agir, fazendo de conta que ninguém vê aqueles que levam os bichos para fora, só aumenta a tristeza que dá que provocam os sinais de que aquele oásis pode se transformar em mais um espaço do estilo Shopping Center, muito limpo e bem arrumado, com vários serviços e objetos a venda, mas sem a riqueza que temos hoje, em um local onde se começa o dia ouvindo o cocoricó de galos e vendo a corrida dos pintinhos nas alamedas

Será que não existe uma forma de manter os bichos soltos, para alegria deles e dos usuários do Parque da água Branca?

Será que o argumento da administração (de que, para a segurança dos cidadãos, precisam controlar apenas alguns bichos em galinheiros) não pode ser rebatido com um planejamento de técnicos experientes, que dêem as diretrizes para o funcionamento seguro do Parque, onde haja o indispensável acompanhamento dos animais, com a participação dos usuários que só pedem por isso?

É óbvio que ninguém quer ver uma epidemia acontecer. Mas será que a única alternativa é retirar os bichos das alamedas, onde passeiam há tantos anos sem qualquer problema?


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