Aparentemente sinônimas, as palavras integração e globalização nem sempre têm o mesmo significado e, às vezes, podem até se opor. A globalização é um processo muito recente para nós, brasileiros, e, por isso, ainda não foi assimilada de maneira geral. Para ser integrado, não é preciso negar nossa identidade brasileira e latino-americana. A coisa mais valiosa que temos é nossa história, e principalmente, nossa cultura.
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Foi pensando nisso que a Centro de Estudos Latino-americanos sobre Cultura e Comunicação (CELACC) organiza o III Simpósio Internacional de Comunicação e Cultura na América Latina, com o tema Para Integrar Além do Mercado. O evento será encerrado nesta quarta-feira (31), no Memorial da América Latina, em São Paulo.
Na tarde de terça-feira, muitas pessoas acompanharam o principal debate do dia, sobre a produção cultural, o papel do Estado e a ação do capital. O primeiro a ter voz na mesa foi o professor Jaime Romero, da Universidade de Cuenca, no Equador. O professor fez uma comparação de São Paulo com sua cidade, com relação à riqueza cultural. Muito preocupado, ele ressaltou que a cultura não pode, de maneira nenhuma, ser tratada como mera mercadoria. “A cultura pode e deve ser um canal de integração da América Latina com ela mesma, e com o mundo”, disse, acrescentando ser impossível uma revolução popular sem a participação da população.
Do Equador para o México. O microfone passou para a mão do professor mexicano Ricardo Antonio Teña Nuñez, que fez uma apresentação em slides e ressaltou a importância da sociedade na defesa do espaço público e das práticas culturais. Com exemplos realizados no México, o professor provou que as ações são possíveis.
No ambiente de integração latino-americana, foi a vez do brasileiro Danilo Miranda, diretor do Sesc São Paulo, falar. De maneira muito contundente, Miranda falou sobre a origem do SESC e o trabalho realizado pela instituição, segundo ele, uma ação fortemente ligada à formação cultural. Miranda tocou em um ponto vital, que até então havia passado batido.
“Recursos significam poder, e poder significa controle. O poder político e econômico não pode controlar os meios de comunicação”, afirmou. Para resolver o problema, a sugestão foi um processo de educação e informação permanente. Miranda enfatizou que não são apenas as comunidades carentes que precisam consumir a cultura. “Se isso acontecesse mais entre as pessoas que têm acesso fácil a cultura, talvez alguma mudança já tivesse acontecido”, finalizou, lembrando que, se o interesse é realmente público, a sociedade deveria participar de maneira mais ativa.
Em seguida, o poder da palavra foi passado pela primeira vez para uma mulher, Marília Lima, presidenta da Cooperativa Cultural Brasileira. Vivendo e ouvindo diariamente sobre os problemas e a delicada situação cultural brasileira, ela falou com propriedade sobre o que, para ela, é a grande questão no Brasil, de o artista não ser considerado um profissional. Porém, Marília acredita que isso está começando a mudar com as cooperativas.
A outra presença feminina na mesa, Gisele Ricobom, falou sobre o projeto da qual faz parte, a Universidade da Integração Latino Americana (UNILA), que terá cursos basicamente voltados para os problemas na região. A Universidade terá tanto alunos como corpo docente formados por 50% de brasileiros e os outros 50% por alunos de outros países da América Latina. Na questão cultural, a acadêmica acrescentou que a UNILA será o ambiente perfeito para a discussão dos rumos na América Latina.
O último a se pronunciar foi o professor Silas Nogueira, que também falou sobre a importância de mudarmos, tanto como nação quanto na forma de pensar. Em época de Copa do Mundo, ele deu exemplo muito válido para ilustrar seu pensamento. “Quando o Adriano sobe o morro para visitar a comunidade onde foi criado, é comoção nacional. Agora, quando o Kaká, que é de família e estudado, vai na Igreja Evangélica, dirigida por pessoas que enriquecem de maneira mal explicada, ninguém fala nada”, disparou.
Para terminar, na despedida dos palestrantes, o equatoriano Jaime Romero enfatizou a importância do maior país da América Latina no processo de mudança. “Nós precisamos contar com o Brasil no processo de mudança da América Latina”, finalizou.
– SITE OFICIAL do III Simpósio de Comunicação e Cultura na América Latina
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