A notícia, para os entendidos, parece velha, mas não é. Foi lançada no mercado a fragrância “Vulva”. É o que o nome diz. Um óleo com a essência mais íntima da mulher. Chulo? Talvez. Necessário? Não! Curioso? Certamente. Saul Pullivan, presidente da empresa alemã Vivaeros, jura que demorou anos pesquisando a correta mistura a ser copiada e engarrafada em um pequeno frasco (onde, diz-se, estão os melhores perfumes). Na verdade, desde 2007, já se sentia na atmosfera da Internet o eflúvio desse aromatizante. Mas somente em março de 2010, a água de cheiro foi ao mercado.
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A campanha de marketing mostra diversos filmes no site da empresa (www.smellmeand.com) que atingiram o clímax no YouTube. O mais popular entre esses comerciais mostra uma bela mulher se exercitando em uma bicicleta estacionária. Malha e sua a valer, sob os olhares gulosos de um rapaz. Quando a atleta deixa o aparato, o observador corre para dar cafungadas no selim. As fotos de exposição do produto contêm moças bem fornidas, cobrindo as supostas origens da essência com um frasco. É a Vulva tampando a genitália. As mesmas modelos também aparecem se cheirando mutuamente, indo buscar o prazer olfativo na fonte. O que indica a recomendação da colônia para o público gay feminino. No texto de apresentação, afirma-se que a fragrância se destina à autogratificação: uma inspiração – metafórica ou metabólica.
Nada impede, é claro, que alguém decida untar-se com o líquido oleado e sair por aí. Lembrem-se do comercial brasileiro de um desodorante feminino que dizia: “Tão bonita e cheirando como um homem?”. Quem não quer correr o risco de tal faux pás, terá a garantia de aromatização genericamente correta. Isso, é claro, caso o produto cumpra com aquilo que promete. E aí a crítica especializada está dividida. Uns acham que a reprodução é fiel ao original. Outros, porém, alegaram que foram remetidos a essências que vão da urina, ao lubrificante sexual – o que não estaria tão fora de propósito. Houve quem sequer ligou o odor à coisa. Parece que a disputa só será resolvida com os rigores científicos de um blind test – um teste às escuras, em que apenas os narizes são expostos à colônia e à fonte verdadeira. Uma espécie de interpretação ao vivo do enredo da velha piada do cego que passou na frente de uma peixaria.
A Vivaeros diz que “Vulva Original” – o nome completo do produto – reproduz exatamente o cheiro de uma mulher bonita. Eu, com toda minha experiência, não sabia que moças especialmente agradáveis aos olhos, também são reconhecidas pelo nariz. Duvido que sejam melhores do que as jaburus, nesse quesito.Tudo depende, é claro, da posição do observador.
Ao preço de US$ 33, Vulva não sai os olhos da cara. Qualquer perfuminho decente custa uns US$ 20. E os indecentes não têm por que ser mais baratos. O problema é que, com relação a esse odor específico, é possível arranjar algo mais em conta. Pela Internet, estão espalhados anúncios de mulheres que vendem calcinhas usadas por meros US$ 15. Também prometem que a peça teve contato duradouro com as partes de mulheres bonitas – com a vantagem de exibirem fotos das produtoras. Mas, como a gente sabe, não há como comprovar que a gata da imagem seja mesmo a fornecedora da lingerie. O que importa, no caso, é o olfato do tarado. Vão dizer que a roupa não guarda a fragrância por muito tempo. Mas Vulva Original vem contida em um frasquinho com as dimensões de um dedal.
O consumidor tem sempre de comparar opções e escolher o que é mais vantajoso. E vale também procurar ser politicamente correto e não comprar qualquer um dos produtos – calcinha ou água de cheiro – que tenham sido fabricados em sweatshops da China ou outros países em desenvolvimento. Ninguém vai querer Vulva provinda de uma favela da Índia.
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