O título do documentário de Monica Schmiedt, Doce Brasil Holandês, já vem carregado de tons irônicos, ao colocar que foi “doce” o período da dominação holandesa em terras nordestinas, especificamente em Recife, Pernambuco, no século XVII (entre os anos 1630 e 1654), pelo príncipe Maurício de Nassau. A diretora, por meios de depoimentos de moradores da cidade de Recife e de duas historiadoras, a brasileira Kalina Wanderley e a alemã Sabrina van der Ley, investiga o legado do domínio holandês na cidade de Recife, e o que poderia ter sido a cidade, caso os holandeses vencessem a guerra contra Portugal, e aqui ficassem de vez. No documentário, os moradores de Recife descrevem Nassau como melhor “prefeito” da cidade até hoje (na época, Recife foi a primeira cidade planejada brasileira e era bem organizada, limpa e bonita) e lembram com saudades daqueles tempos e o que o município poderia ser hoje (contrastando com a violência e a desorganização de atuais), se ele tivesse ficado. Mas, como nada são flores eternamente, a diretora coloca o que foi a colonização holandesa em países como Suriname, hoje um país pobre e extremamente desigual. O doce tem seu sabor efêmero. É o que mostra a diretora em seu documentário, ao colocar as contradições da dominação (Nassau, por exemplo, não aboliu a escravidão nas regiões de seu domínio). O documentário será exibido nesta quarta-feira (14), às 19h, no Reserva Cultural.
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Adeus às lembranças
Falar sobre mulheres arrojadas e aventureiras em filmes é sempre um motivo, no mínimo, curioso para os espectadores da obra. Que o diga o filme Amelia, de Mira Nair, atualmente em circuito nas salas de cinema, que conta a trajetória da aviadora americana Amelia Earhart (vivida na tela pela atriz Hilary Swank). Ela foi a primeira mulher a atravessar o Oceano Atlântico, pilotando um avião. Já o documentário Adeus, de Ditteke Mensink, recupera a história da jornalista inglesa Grace Drummond-Hay, a primeira mulher a cruzar o mundo a bordo do dirigível Graf Zeppelin e registrou as aventuras nos artigos que escreveu para os jornais. Tanto Amelia como Grace foram mulheres despojadas e que viveram intensamente as suas vidas. Enquanto a primeira viajou dirigindo o seu avião, a segunda foi passageira na aventura, a bordo de um Zeppelin. Outro ponto em comum na vida dessas mulheres foi a entrega à vida efetiva. Ambas eram casadas, mas isso não as impediu de viver um grande amor. Foram as vidas e ficam as lembranças.
Os arquivos e os documentários
Nesta quarta, começa a 10ª Conferência Internacional do Documentário, dentro do Festival É Tudo Verdade. Desde a sua quinta edição, o festival realiza uma conferência dentro da programação, com temas relacionados ao fazer documentário. Em 2010, o tema discutido será “O Documentário de Arquivo”, mostrando como podem ser usados, nos documentários, imagens e sons de arquivos. Os conferencistas serão, além de Amir Labaki, Michael Renov, Eduardo Escorel, Susana de Sousa Dias, Gregório Carlos Rocha Valverde, Susana Foxley Tapia, Bill Nichols e João Luiz Vieira. As mediações ficarão a cargo de Maria Dora Mourão, Esther Hamburger, Eduardo Morettin e Ismail Xavier. A importância da utilização de arquivos de imagens e sons nos filmes documentais é crucial para suas narrativas, pois é por meios desses materiais que tomamos contato com o assunto abordado nos filmes. Mas o uso incorreto desses arquivos podem gerar distorções da história tratada. Para Maria Dora Mourão e Amir Labaki, o uso desse material “(…) que revisitados através da montagem, criam novos significados. É a memória reconstruída em um novo contexto espaço-temporal, mas sem nunca perder sua função histórica”, alertam. A Conferência começa a partir das 14h30, na Cinemateca Brasileira (confira programação no site do festival).
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