Nos tempos do velho MDB, o único partido consentido de oposição no período da ditadura militar, depois rebatizado de PMDB, nos anos 80 do século passado, havia uma guerra entre Orestes Quércia e os seus demais líderes em São Paulo, a chamada “ala ética”.
Com exceção de Ulysses Guimarães, que permaneceu fiel ao partido até o fim, foi por causa dos métodos pouco ortodoxos, digamos assim, de Quércia fazer política, que deixaram o partido Franco Montoro, Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas e José Serra, entre muitos outros, e fundaram o PSDB.
Pode-se afirmar, assim, que o partido dos tucanos nasceu em São Paulo por causa de Orestes Quércia – e contra ele e o que representava. Vereador e prefeito de Campinas, no interior paulista, surpreendeu o país ao se eleger senador, derrotando o ex-governador Carvalho Pinto, que era considerado imbatível, na memorável vitória parlamentar do MDB em 1974.
Pois vem exatamente de Orestes Quércia a mais veemente defesa da candidatura de José Serra à presidência da República, em artigo publicado hoje na página 3 da Folha, com o título “Comparar Serra com Dilma é inevitável”.
Nas voltas que a política dá, Quércia agora é um dissidente do PMDB nacional, que deve fechar nos próximos dias a aliança com o PT, indicando para vice de Dilma o deputado federal Michel Temer, presidente do partido.
Para que o PMDB paulista apoiasse Gilberto Kassab, do DEM, o candidato do então governador José Serra nas últimas eleições municipais, Orestes Quércia fechou um acordo pelo qual garantiria uma vaga na disputa para o Senado na chapa demo-tucana em 2010.
Acordo cumprido, agora ele faz a sua parte no confronto nacional entre PT e PSDB, depois de uma longa temporada dedicada apenas à política da província.
“É curioso como, na ânsia de ganhar a eleição e manter o padrão de vida conquistado, dirigentes e parlamentares do PT parecem se esquecer de que sua candidata se chama Dilma Rousseff”, escreve Quércia, seguindo a palavra de ordem tucana de se evitar uma comparação entre os governos de FHC e Lula, como quer o atual presidente, jogando a disputa para uma comparação de biografias entre os candidatos.
Em termos de “manter o padrão de vida conquistado”, certamente Quércia fala com conhecimento de causa, pois poucos como ele subiram na vida, dedicando-se à política, tão célere e abastadamente como ele.
Ao defender a experiência acumulada por Serra em diversos cargos e mandatos, ao contrário de Dilma, que disputa sua primeira eleição, Quércia se esquece que FHC e Lula também não foram eleitos para postos executivos antes de assumirem a Presidência da República.
“Mas querer que sua primeira experiência como mandatária popular seja a Presidência da República é um desacato ao Brasil”, proclama, ao final do seu artigo, o empolgado novo aliado tucano.
Como assim? Desacato a quem, cara pálida?
Com apoios deste nível, a campanha de Serra pode logo, logo, ganhar mais problemas do que votos.
Em tempo:Em tempo 2: mais uma vitória da imprensa livre!, como diriam os jornalões. Ao sair à rua na manhã desta terça-feira, não encontrei mais o buraco em frente ao meu prédio, tema do post de domingo anterior, 24/4, sobre a cidade abandonada. O buraco sobreviveu bravamente por quase 40 dias, apesar de ter ficado famoso numa foto publicada pela Vejinha. Agora só falta fechar todos os outros espalhados pela cidade
Em tempo 3: só agora fui ver no ranking do Word Press que o post acima é o 500º publicado no Balaio, ou seja, chegamos a 500 matérias jornalísticas em forma de comentários, notícias exclusivas, entrevistas e reportagens, desde setembro de 2008, que resultaram em 73.838 comentários dos leitores. Nunca trabalhei tanto na minha vida, mas está valendo a pena. Vou acabar me viciando nisso por culpa de vocês Valeu, balaieiros.
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