A morte no caminho de quem faz o bem

Sem paciência para ver a ruindade do time do São Paulo, que não conseguia fazer um mísero golzinho mesmo jogando contra ninguém, ou seja, o Universitário, do Peru, pela Libertadores, achei melhor ficar aqui no laptop liberando comentários e fui dar uma navegada pelo noticiário dos portais.

No segundo tempo do jogo desta terça-feira à noite, encontrei uma noticinha perdida no Globo.com, que me interessou e mexeu mais comigo do que o joguinho de pernas de pau do Morumbi, sob o título: “Professora morre atropelada em Porto Alegre após ajudar deficiente visual a atravessar a rua”.

PORTO ALEGRE – Uma mulher morreu atropelada por um motoboy na tarde desta segunda-feira em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Maria Paula Amaral Leal ajudou um deficiente visual a atravessar a rua e, após, foi atingida pela motocicleta. A professora foi sepultada na tarde desta terça-feira no cemitério da Santa Casa.

Maria, de 43 anos, ajudava um deficiente visual a atravessar a Avenida Assis Brasil na faixa de segurança, nesta segunda-feira. Quando retornava ao outro lado da via, foi atingida pela motocicleta conduzida por Thomaz Aguiar Fará, de 23 anos. Ele foi atendido no Hospital Conceição e foi liberado.

A polícia aguarda resultado da perícia para definir indiciamento do motociclista. O diretor de trânsito da EPTC, Vanderlei Capellari, lembra que de janeiro até agora 12 pessoas morreram na capital vítimas de acidentes envolvendo motocicletas.

A pequena tragédia gaúcha, que certamente não sairá nas primeiras páginas dos jornais, me fez lembrar que ainda vivemos num país onde é perigoso até fazer o bem. Pode matar. Tenho dirigido pouco meu carro, mas nas raras vezes em que saio pela cidade noto o absoluto desrespeito dos motoristas pelos pedestres, mesmo quando eles caminham sobre a faixa de segurança.

Sempre que paro meu carro para deixar um pedestre atravessar a rua, fico com medo que outro motorista mais apressado corte por fora e o atropele. Em vez de ajudar, você pode provocar a morte de alguém sem querer.

Foi o que aconteceu com a professora Maria Paula. No caso, a vítima acabou sendo ela mesma. Não sei como é em Porto Alegre, mas aqui em São Paulo, a minha cidade, aumenta a cada dia o número de motociclistas no trânsito, cortando todas as faixas, sem respeitar quaisquer regras, xingando os motoristas e chutando a lataria dos carros, numa corrida ensandecida em que os acidentes se multiplicam.

Gostaria de saber mais sobre a vida desta professora, do deficiente visual e do motoboy envolvidos nesta tragédia para entender o que aconteceu, mas sei que a nossa imprensa hoje tem outras preocupações, às voltas com a campanha eleitoral, a Copa do Mundo, o atentado em Nova York, as chamadas notícias importantes.

Nem faz tanto tempo, os principais veículos de comunicação do país mantinham sucursais e correspondentes por todo o país, que diariamente nos relatavam estes fatos da vida real. Escrevi muitas reportagens a partir destas pequenas notícias que chegavam à redação, vindas de bem longe dos gabinetes do poder. Isto acabou.

Por isso, me toquei tanto com a história da professora Maria Paula, uma cidadã comum, que não apenas passou pelo mundo, mas procurou ajudar a vida dos outros com o seu trabalho e, ao praticar seu gesto cidadão de gente do bem, encontrou a morte no meio do caminho.

Em tempo: o jogo do São Paulo acabou no 0 a 0. Na disputa de penaltis, o goleiro Rogério Ceni, que perdeu um e defendeu dois, passou de vilão a herói em apenas três minutos, como já escreveu aqui no iG o amigo Milton Neves. A vida tem destas coisas. Agora somos o primeiro time brasileiro classificado para as quartas de final da Libertadores – o que, pelo jeito, só vai prolongar o sofrimento da torcida.

Em tempo 2: escrevi às pressas este texto porque viajo daqui a pouco para Curitiba, onde vou fazer uma palestra sobre “Liberdade de expressão e escolha”. De lá ,vou para o Rio na quinta e só volto a São Paulo à noite. Por isso, vai ficar prejudicada a atualização do Balaio e a liberação de comentários. Nestas viagens, a gente não costuma ter tempo nem para ir ao banheiro


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