Soltem J.! Esta menina só precisa de carinho

“Minha filha não é delinquente. É uma criança. Não pesou em nada ter devolvido a menina. O juiz nem me ouviu. Disse que era um sequestro e levou a minha filha”.

O desabafo do aposentado Carlos Alberto Marques Monteiro, de 57 anos, pai de J., a menina de 15 anos que sequestrou um bebê recém-nascido esta semana, depois de ter sofrido um aborto há quatro meses, resume a impotência e o inconformismo do cidadão comum diante da nossa Justiça.

Justiça? Foi o próprio pai, um homem de bem, quem avisou a polícia e devolveu a criança quando ela apareceu em casa dizendo que o bebê era dela. Agora, Carlos Alberto se sente responsável pela filha estar presa na Fundação Casa, o novo nome da famigerada Febem, sem poder lhe dar o carinho e a assistência médica de que ela tanto necessita.

J. estava grávida de cinco meses quando perdeu o bebê, mas, inconformada, continuou se vestindo como grávida e até deu um chá de bebê na semana passada, como conta a brilhante repórter Laura Capriglione em matéria publicada pela Folha.

Na terça-feira, ela apareceu vestida como auxiliar de enfermagem no Hospital e Maternidade Leonor Mendes de Barros e levou a recém-nascida Isadora Fernanda do quarto da mãe, a ajudante de costureira Luana Aparecida Pereira, de 26 anos.

O sofrimento de Luana durou poucas horas, seu bebê logo lhe foi devolvido graças a Carlos Alberto, mas o drama de J. pode durar o resto da vida.

Com febre alta, infecção e hemorragia uterina, em consequência do aborto, sem ter recebido qualquer atendimento médico, a menina de 15 anos foi jogada atrás dos muros da antiga Febem junto com outros menores infratores por ordem do juiz Caio Ferraz de Camargo Lopasso, da 4ª Vara Especial da Infância e da Juventude de São Paulo, atendendo a um pedido do promotor Oswaldo Monteiro da Silva Neto.

Como simples cidadão, pai e avô de meninas, velho repórter que não se especializou em leis e códigos, mas também não perdeu a capacidade de se colocar no lugar dos outros para imaginar o que está sentindo agora o pai de J., faço um apelo ao juiz e ao promotor para que revejam sua decisão. Pela lei, J. pode continuar presa por até 45 dias, até o julgamento definitivo do processo.

Soltem J.! Ela precisa apenas ficar ao lado da família para poder se tratar e recuperar deste trauma. Basta conhecer sua história para ver que ela não representa nenhum perigo à sociedade, ao contrário da procuradora Vera Lúcia Gomes, acusada de torturar uma criança de dois anos, no Rio de Janeiro, que continua solta.

Por ironia do destino e dos caminhos da nossa Justiça, na mesma página onde li a reportagem sobre J., o jornal informa que a procuradora foi presa e solta em seguida, na segunda-feira, em Búzios, porque ainda não havia ordem de prisão contra ela. E até hoje, agora com a prisão decretada, Vera Lúcia continua foragida.


Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.