As várias faces de Bentinho

No final do ano passado, aos 35 anos, o poeta carioca Michel Melamed estreou na TV Globo como protagonista da microssérie Capitu, com direção de Luiz Fernando Carvalho, inspirada na obra Dom Casmurro, de Machado de Assis. A intensa maratona de preparação para compor seu personagem, o atormentado Bentinho, fez o artista perder 21 quilos em apenas três meses e o levou rumo a Nova York, na tentativa de apaziguar sua incansável busca pelo novo. Foi encontrar os amigos e companheiros do grupo The Internationalists, do qual faz parte desde 2007, formado por jovens diretores de diversos países.
Corte, aconteceu Capitu. “Num sábado, o telefone tocou e era o Luiz Fernando (Carvalho). Ele me convidou para um café na casa dele, me entregou o livro Dom Casmurro e disse: ‘Vamos?’”. Com o desafio lançado, Melamed jogou-se de corpo e alma no treinamento para dar vida ao “casmurrado” personagem de Machado, com a ajuda do mineiro Rodolfo Vaz (Prêmio Shell 2007 de melhor ator por Salmo 91). “O meu trabalho de composição era manter o menino, não perder as perspectivas, a fragilidade e a verdade. Como, num veículo de comunicação de massa, conseguir deixar claro para as pessoas que esse cara não é confiável? Eu tive que atuar em dois extremos: na farsa, pois o Luiz propôs esse velho palhaço, e na sua verdade, para convidar o telespectador a compactuar com suas emoções.”

Sobre as críticas negativas que metralharam o formato da microssérie, Melamed é enfático: “Elas são esperadas quando você faz alguma coisa nova e isso necessariamente causa certo estranhamento. Porém, essas críticas vieram de pessoas muito reacionárias, que não querem afirmar a criatividade geral e seus bilhões de projetos. Foram comentários medíocres e sem estofo. Foi um trabalho lindíssimo do ponto de vista estético e ético”, afirma. Ao contrário do que se pensa em relação à inspiração dos grandes poetas, que dão vida às palavras envoltos numa áurea de eterna tristeza, Melamed só consegue trabalhar feliz. “Se eu estiver muito triste, fico paralisado.” Diz que no momento ainda está se despedindo de 2008 sem saber certamente qual será a próxima estrada a pegar, mas já tem nas mangas novos projetos de cinema, televisão e literatura, o qual inclui sua participação em uma coletânea de autores contemporâneos brasileiros a ser lançada no Peru – ainda sem data.

E como pretende se superar? “O desejo é transgredir a percepção do mundo. Faço o que estou a fim, tentando desestabilizar o olhar do espectador para tirá-lo de uma posição cômoda”, finaliza.
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