A revista americana Playboy anunciou que vai lançar uma edição especial em 3D. Qual será a modelo? Aquela mulher azul de Avatar? Seja quem for, a iniciativa nem é tão espetacular. Quando eu era moleque, estavam nas bancas dúzias de gibis que davam a impressão de tridimensionalidade. Não faziam muito sucesso, pois a turma ficava tonta e com dor de cabeça depois de ler umas poucas páginas. Mas, ao que tudo indica, as fotos de agora serão como aqueles antigos cartões-postais, no qual o rosto de Jesus Cristo ganhava novos contornos e piscava quando visto de vários ângulos. Da última vez que fui ao Brasil, vi um Bob Marley e um Che Guevara que faziam o mesmo. Não estavam pelados, felizmente.

De todo o modo, a iniciativa do editor Hugh Hefner dá o que pensar. Imagine se essa moda pegar. A National Geographic exibirá página dupla central com uma leoa mordendo e unhando a traseira de uma zebra, com jorros de sangue partindo em direção ao colo do leitor. As revistas de fofocas revelarão o volume de colágeno na cara de uma socialite, aterrorizando crianças impressionáveis. As pernas amputadas de um soldado no Afeganistão trarão impacto brutal às capas das semanais. As publicações de jardinagem vão atrair enxames de abelhas às bancas. E por que parar aí?

É moleza acrescentar som àquilo que se vê. Os cartões-postais comemorativos de datas e eventos, quando abertos, já cantam parabéns a você e tocam sucessos populares. O mesmo processo se aplicaria à beldade da Playboy falando sacanagem, à leoa rugindo, à socialite dizendo asneiras e ao soldado gritando. Mergulhe-se o leitor num oceano sensitivo: coloquemos odor às coisas. Há anos as companhias de perfume já fazem isso nas revistas. Ao ponto de não se poder ler edições da Vanity Fair ou Vogue, sem sair cheirando Chanel nº 5. Ficariam faltando apenas os movimentos às imagens.

Ah, é! Esqueci da televisão em 3D. Já está no mercado. Entramos finalmente na era da realidade virtual. O problema é que o aparelho vem com alertas sobre efeitos colaterais ao uso. Ao que me disseram, além das dores de cabeça, enjoos e tontura, os aparelhos também podem provocar convulsões, arritmia, lumbago, escorbuto e caspa. Anunciaram, porém, que a Copa do Mundo será transmitida de modo tridimensional. Será difícil saber se os sintomas mencionados são culpa do televisor ou do modo de jogar da seleção de Dunga.

Mas esses mal-estares são preços pequenos a se pagar pelo prazer de ter na sala a materialização de um Programa do Gugu, por exemplo. Pense como será ainda mais instrutivo o BBB. Aqui nos States, um repórter do programa matutino da CBS, submeteu-se a uma colonoscopia, ao vivo. Imagine testemunhar esse procedimento em 3D. Durante o café da manhã.

A 3D, portanto, não é nenhuma revolução. A não ser que se contem as inovações tecnológicas alcançadas para fazer o photoshop de imagens tridimensionais. Ou quer me enganar que os editores vão deixar passar todas as espinhas, cravos, rugas e verrugas originais da modelo? Na revista Status, onde trabalhei, muitas vezes tivemos de construir toda uma nova mulher a partir de retoques. Várias beldades exibidas eram apenas fruto de nossa imaginação. O departamento de arte varava madrugadas no trabalho de lanternagem. Só por isso, vou comprar a nova edição de Hefner.


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