Conversas ao pé do ouvido

A terceira edição do Festival da Mantiqueira trouxe um ilustríssimo convidado no último dia do festival, o nosso maior poeta vivo, Ferreira Gullar. Ele subiu ao palco depois de uma infeliz e insossa apresentação do mediador Cadão Volpato, que parecia não estar nem um pouco familiarizado com a obra do poeta. Para uma mesa que ia discutir a obra de Gullar, era primordial que o mediador estivesse mais bem preparado. E o resultado da conversa com o poeta ficou aquém do esperado. A qualidade do mediador é tão importante para o bom andamento da conversa de um evento como este que Flávio Moura, curador da programação da Flip, escolhe a dedo quem comanda os debates entre os escritores convidados do evento. Tanto é que ele, na entrevista que nos concedeu na semana passada (leia aqui), disse que a imprensa deveria destacar mais os mediadores convidados da Feira Literária Internacional de Paraty deste ano. [nggallery id=14282] Mas “entre mortos e feridos”, Ferreira Gullar conseguiu falar um pouco de sua obra, de sua poesia, melhor dizendo, e destacou que a cultura, assim como tudo que o homem faz, é a grande invenção para conviver melhor com a fragilidade de sua existência. Inclusive esse tema será fonte de uma peça de autoria de Gullar, com estreia programada para o segundo semestre em São Paulo, assim como o lançamento do seu novo livro, como ele nos adiantou em entrevista exclusiva, por telefone, de sua residência no Rio de Janeiro (leia aqui).A mesa em que o escritor estrangeiro convidado do evento participou, o angolano José Eduardo Agualusa, teve como tema o desejo, e contou com a presença de Carola Saavedra e o diplomata e escritor João Almino. Eles destacaram como o sentimento do desejo perpassa suas obras e de como serve como combustível para o escritor continuar escrevendo, dialogando com o seu público leitor. Como diria a personagem Blanche DuBois, criado pelo dramaturgo Tennessee Williams, em sua peça Um Bonde Chamado Desejo: “Desejo, o oposto da morte”. Bom que esses escritores continuam desejando.Parece que o recolhimento da biografia do cantor Roberto Carlos, determinado pela justiça, não impediu que o livro deixasse de circular. Foi o que disse Paulo César de Araújo, autor do livro. “Me falaram que em Portugal há algumas livrarias que estão vendendo o livro. Mas o que é mais lamentável nessa história toda é que eu não estou ganhando nada por causa disso”, revelou. Ele conversou com o site da Brasileiros logo após a sua participação no evento e disse que a ação movida pelo cantor contra a circulação da sua biografia o prejudicou enormemente. “Fiquei prejudicado não só financeiramente, mas minha carreira de escritor também ficou, pois não consegui lançar outro livro ainda, o que provavelmente só irá acontecer no segundo semestre, depois de muito sacrifício”, desabafou ele. Araújo irá lançar seu novo livro, que versará sobre música e cantores, pela Companhia das Letras.Conversinhas em off do Festival da MantiqueiraNada melhor para um jornalista que escutar as conversas que rolam fora das atividades oficiais do festival. Estávamos no sábado (29) em uma casa onde foi oferecido um almoço para os convidados e os escritores do festival, e conversamos com o dono da Livraria Cultura, Pedro Herz. Segue o bate-papo.Brasileiros – Saiu uma nota no jornal O Estado de São Paulo dizendo que você vai entrar no ramo de cinema, pois o “Cine Bombril”, localizado no Conjunto Nacional, será “Cine Livraria Cultura”. Pretende diversificar sua atividade de livreiro?Pedro Herz – Não é bem assim, apenas vou patrocinar essa sala de cinema com o nome da minha livraria. Precisava de mais um local para as atividades que realizamos na Livraria Cultura, pois o espaço do teatro, dentro da livraria, ficou insuficiente, e também pelo fato dessa sala ficar no Conjunto Nacional, onde também fica uma de nossas livrarias.Brasileiros – Você vai abrir mais duas filiais da Livraria Cultura, uma na cidade de Fortaleza, Ceará, e outra em Salvador, Bahia.P.H. – Vamos inaugurar a Livraria Cultura em Fortaleza no dia 9 de junho, e a de Salvador em agosto.Brasileiros – O que está achando do Festival da Mantiqueira?P.H. – Cheguei ontem à noite (sábado) na cidade e ainda não tive condições de ver nada. Talvez hoje dê para assistir a alguma palestra. Mas a cidade de São Francisco Xavier é bem agradável, sem falar na qualidade do ar puro e da natureza. E eventos que estimulam a leitura como este são sempre bem-vindos.


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