“Fogo na floresta!” Melhor é rezar

TREMEMBÉ (SP) – São pouco mais de quatro da tarde nesta bela região do Vale do Paraíba, aos pés da Serra da Mantiqueira, no caminho de Campos do Jordão.

Aqui viveram e construíram parte da sua obra dois grandes brasileiros, Monteiro Lobato e Mazzaropi, que muito admiro pela contribuição que deram à nossa cultura, cada qual no seu canto.

Na Fazenda Maristela, que já foi um mosteiro trapista, começa a cair a temperatura, e a noite promete ser bem fria neste final de outono, embora ainda esteja tudo verde ao meu redor, e as flores lilazes e brancas dos manacás da terra resistam bravamente à chegada do inverno.

Fomos os primeiros a chegar para o nosso retiro anual dos Grupos de Oração espalhados por São Paulo, Rio e Minas, que congregam mais de cem companheiros.

Os netos foram passear com a avó e, assim, finalmente, arrumei um tempinho para atualizar este Balaio. Nada como um retiro numa fazenda cercado pela família e pelos amigos, depois do tiroteio desta semana no blog, justamente nos dias em que eu estava fechando uma reportagem de 44 páginas sobre o Novo Nordeste, o Brasil que mais cresce no Brasil, a ser publicada na edição de junho da Brasileiros.

Confesso que fiquei assustado com a violência dos comentários para cá enviados desde o começo da tarde de segunda-feira, como se alguém tivesse gritado “fogo na floresta!”, atiçando a matilha, que invadiu este blog com uma ferocidade nunca vista antes.

No domingo, havia publicado um texto sem maiores pretensões, sob o título “Que Brasil é este dos 5% do contra?”, apontando uma coincidência estatística nas pesquisas de todos os institutos, que sempre registram este índice dos que consideram o governo Lula “ruim ou péssimo”.

Nem mais nem menos: são sempre os mesmos 5%, faz muitos meses, quaisquer que sejam as cicunstâncias do país naquele momento.

A partir desta curiosidade sugerida pelos números estáveis, já que ninguém investigava o fenômeno, na imprensa ou na academia, levantei algumas perguntas sobre o perfil deste eleitorado cativo. Coisa de repórter curioso. Quem seriam estes 5%, o que pensam da vida?

Foi o que bastou para me chamarem, ao mesmo tempo, de comunista, fascista, judeu, nazista e petista, como se eu fosse um tira malvado que quisesse identificar os do contra para fichá-los e entregá-los à polícia.

Creio que a maioria destes “comentaristas” profissionais nem leu o que escrevi. Vieram a mando, como se uma central de infâmias tivesse distribuído vários modelos de textos para me atacar, não respeitando familiares e amigos, que nada tinham a ver com a história. Foi um verdadeiro massacre, mas decidi não responder, já que é absolutamente impossível argumentar diante da irracionalidade dos fanáticos.

Desde o primeiro dia deste Balaio, deixei bem claro aos leitores que não pretendia entrar na guerra dos blogueiros, já naquela altura bastante radicalizada, mas apenas contar as minhas histórias em mais de 45 anos de jornalismo, e falar dos fatos novos do dia a dia da vida real. Não pretendo convencer nem catequizar ninguém aqui, como acontece nestas seitas eletrônicas que se espalham pela internet. Não é a minha praia.

Às vezes dá um desânimo danado quando a gente tem que enfrentar a ignorância e/ou a má-fé de pessoas que fazem da guerra política a sua única razão de ser, e são incapazes de debater com um mínimo de civilidade. Por isso, peço desculpas aos leitores habituais do Balaio pelo que aconteceu esta semana.

Procurei eliminar as manifestações mais escatológicas, insanas e intolerantes, mas sempre escapa alguma coisa. Também não quero ser chamado de censor ou sectário por não publicar opiniões contrárias às minhas. Tenho pavor do pensamento único e dos donos da verdade. Mais de 900 comentários foram publicados, a maioria contestando o que escrevi.

Como bem sabem os balaieiros mais antigos, aqui há espaço para manifestações de toda ordem. Recebo com tranquilidade as críticas que me fazem. Sempre é tempo de aprender com os outros, mas para tudo há um limite.

Vou até evitar assuntos polêmicos nestes tempos de vale tudo da disputa eleitoral porque não quero entrar neste jogo sujo dos pistoleiros de reputações alheias. Pelo menos, fiquei sabendo um pouco mais do que sentem, pensam e do que são capazes estes 5% que não respeitam os que apenas pensam que a vida dos brasileiros melhorou nestes últimos oito anos.

Acho que o melhor a fazer neste momento é rezar para desarmar os espíritos, pedir que as próximas eleições sejam mais um motivo de festa da nossa jovem democracia, não esta guerra insana que transforma eventuais adversários políticos em inimigos de morte.

Quase todos os amigos já chegaram, e está escurecendo na Maristela. Vou parando por aqui. Até domingo, se nenhum fato novo justificar uma edição extraordinária do Balaio, pretendo me recolher à companhia dos netos e dos orantes neste lugar encantado, onde se respira paz, na certeza de que cada novo dia é um novo motivo para celebrar a vida, não a morte; o amor, não o ódio. Vida que segue.


Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.