O governo chinês prometeu nesta segunda (3) ser rígido com os culpados do ataque “sem consciência e humanidade” de sábado, na estação de trem de Kunming, no qual morreram 33 pessoas. “O governo chinês vai atuar com dureza e de acordo com a lei contra essas forças terroristas e violentas, sem considerar a que grupo pertencem”, disse em conferência de imprensa o porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Qin Gang.
Qin sublinhou que as investigações do massacre, que a China considerou um ataque terrorista, estão em curso, apesar de já terem sido encontrados indícios de que foi perpetrado por forças que reivindicam a criação de um “Turquestão Oriental” independente, em Xinjiang, no Noroeste do país. O porta-voz destacou também as mensagens da comunidade internacional, incluindo do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), condenando o ataque. “Na hora de enfrentar violência como esta, a comunidade internacional deve falar a uma só voz e tomar uma ação conjunta, porque [os terroristas] são o inimigo comum da humanidade”, declarou Qin.
Uma dezena de pessoas, armadas com facas, entraram no sábado à noite na estação de trem de Kunming, capital da província de Yunnan (Sudoeste), e mataram indiscriminadamente 29 pessoas e deixaram 130 feridas. A polícia matou quatro atacantes. Assim, no total, foram 33 mortos. Se forem confirmadas as suspeitas de Pequim sobre as ligações entre o ataque em Kunming e grupos terroristas de Xinjiang, esse será o atentado mais sangrento relacionado com o conflito e ocorrido fora da região, onde nos dois últimos anos morreram dezenas de pessoas em confrontos entre autoridades e rebeldes. É a segunda vez que separatistas da região autônoma de Xinjiang são associados a manifestações de violência fora da região.
Em outubro passado, um jipe com placa de Xinjiang atropelou uma multidão na famosa Porta da Paz Celestial (Tiananmen), no centro de Pequim, e a seguir pegou fogo, matando os três ocupantes do veículo, todos de etnia Uigur, e dois turistas. O atentado foi atribuído a “extremistas religiosos” que promovem a “Jihad” (guerra santa) e o separatismo.
Pelo menos dez ataques terroristas ocorreram no Xinjiang em 2013, causando mais de cem mortes, disse no final do ano um jornal oficial chinês.
Território rico em petróleo e outros recursos minerais, com uma área equivalente à França, Espanha e Portugal juntos, o Xinjiang faz fronteira com o Paquistão, Afeganistão e várias repúblicas da Ásia Central que faziam parte da antiga União Soviética. Segundo estatísticas oficiais, os uigures, povo de cultura turcófona e religião islâmica, representam 46,2% dos cerca de 22 milhões de habitantes de Xinjiang, mas há meio século, eram mais de dois terços. Entretanto, milhares de famílias Han, a principal etnia da China, começaram a radicar-se em Xinjiang e hoje constituem cerca de 40% da população. Na capital, Urumqi, ultrapassaram os uigures. Em julho de 2009, confrontos entre uigures e han resultaram em mais de 200 mortos em Urumqi.
A República do Turquestão Oriental foi fundada de 1933 para 1934, na sequência de uma revolta uigure contra o domínio chinês, mas rapidamente a China recuperou o domínio da região, com ajuda soviética. Em 12 de novembro de 1944, uma nova revolta, desta vez com a ajuda da ex-União Soviética, termina com a fundação da Segunda República do Turquestão Oriental, de estrutura soviética e semelhante às criadas nos países vizinhos na Ásia Central.
Em agosto de 1949, cinco dos principais líderes políticos do Turquestão Oriental morrem num misterioso acidente de avião, quando viajavam para um encontro com o governo comunista chinês. Dois meses depois, a República do Turquestão Oriental é abolida com a entrada na região do Exército de Libertação Popular, do recém-fundado regime comunista chinês.
Em dezembro de 1954, tem lugar a primeira revolta uigur contra o domínio comunista, em Hotan (no sul de Xinjiang). O movimento independentista uigur ressurgiu na sequência da independência das repúblicas soviéticas da Ásia Central. Em 5 de abril de 1990, mais de 50 pessoas morreram em confrontos na localidade de Baren. Em 25 de fevereiro de 1997, nove pessoas morreram em três ataques com explosivos em autocarros de Urumqi.
No marco da luta internacional contra o terrorismo, a China conseguiu, em 27 de agosto de 2003, a inclusão do Movimento Islâmico do Turquestão Oriental (ETIM) – uma das principais organizações independentistas uigures – na lista dos Estados Unidos de grupos terroristas.
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