Últimos dias de World Press Photo no Rio de Janeiro

Considerado o mais importante prêmio internacional de fotojornalismo, o World Press Photo expõe, até 27 de junho, no espaço da Caixa Cultural do Rio de Janeiro, uma seleção das melhores fotografias de 2009. Publicadas em veículos de 23 países, estão expostas 162 imagens de 63 fotógrafos. A capital carioca é a única cidade brasileira a receber, neste ano, a mostra referente à 53ª edição do prêmio.
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Entre as imagens (divididas em Foto do Ano e outras dez categorias principais) estão a da mulher flagrada no topo de um prédio, na capital iraniana, em protesto contra os resultados das eleições presidenciais no país. A fotografia, do italiano Pietro Masturzo, foi eleita a melhor imagem fotojornalística do ano passado. De forte conteúdo dramático, as primeiras colocações nas categorias de cunho noticioso (Spot, General e People in the News) são imagens de conflitos e desastres em países como Afeganistão, Colômbia, Índia e Israel.

Mas, nem só de imagens contundentes se compõem a mostra. Há espaço também para registros que, embora singelos, não deixam de produzir impacto, como as fotos que o italiano Francesco Giusti fez de uma pitoresca organização congolesa autodenominada “SAPE – Sociedade dos Artistas e Pessoas Elegantes”. Do mesmo Congo, aliás, de onde, frequentemente, chegam imagens dramáticas, como a do saldo da matança de gorilas, no Parque Nacional de Virunga que, em 2007, rendeu ao sul-africano Brent Stirton o 1° lugar na categoria “Assuntos Contemporâneos”.

Se de um lado a exposição caminha entre miséria, catástrofes e os devastadores resultados dos conflitos políticos mundo afora, de outro, depara-se com séries de fotos de jovens em trajes multicoloridos, celebrando a paz e o amor em um festival nos Estados Unidos ou com o ensaio do holandês Roderik Henderson, que fotografou moradores de uma parte isolada de Vancouver, no Canadá, através das janelas de seus carros. Segundo Henderson, chamou-lhe a atenção a quantidade de tempo que as pessoas dessa região gastam dentro de automóveis. Todas as categorias do prêmio incluem histórias como essas, apresentadas no formato de séries/ensaios.

A cada edição, o mosaico de imagens premiadas pela Fundação World Press Photo – organização sem fins lucrativos, sediada em Amsterdã, Holanda -, torna-se ainda mais fiel à cara do fotojornalismo da atualidade, refletindo, não apenas a rápida evolução dos costumes, mas também os efeitos do desenvolvimento tecnológico sobre a produção de imagem.

Para tratar desses assuntos, com especial ênfase na posição brasileira nesse panorama, a Capadócia – Produtora Cultural, uma das instituições responsáveis pela vinda da exposição para o Rio, vai promover, no próximo dia 22 de junho, o debate Fotojornalismo no Brasil/World Press Photo 2010. Aberto ao público mediante inscrições por e-mail, o evento contará com as participações do paulistano Daniel Kfouri, único fotógrafo brasileiro premiado neste ano pela World Press Photo (com o 3º lugar na categoria Esporte e Ação) e da repórter fotográfica Marizilda Cruppe (jurada da edição 2010 do WPP).

Fotógrafa há quase 20 anos, e repórter de O Globo desde 1994, Marizilda também integra o prestigiado EVE Photographers, coletivo fotográfico formado apenas por mulheres. Como a fotógrafa se preparava para mais uma longa viagem avisou: “Vou ficar dez dias sem internet e celular”, e já falara a vários veículos sobre sua experiência como jurada do World Press Photo. Na entrevista a seguir, uma prévia das ideias que ela deve expor no debate do próximo dia 22.

Brasileiros – De alguns anos para cá, temos visto, com certa frequência, profissionais da área jornalística (fotógrafos, sobretudo) decretarem o fim do fotojornalismo. Como você, uma fotógrafa com atuação na imprensa diária – e na condição de quem, há pouco, foi jurada do mais importante prêmio de fotojornalismo do mundo – avalia uma disposição pessimista como essa?
Marizilda Cruppe –
Não creio que o fotojornalismo tenha acabado. Penso que está em processo de mudança e de adaptação aos novos meios e possibilidades trazidos pelo desenvolvimento tecnológico e pela expansão da Internet.

Brasileiros – Considerando o viés brasileiro no panorama de uma produção fotográfica que não cessa de encontrar novos suportes para se difundir, qual a situação do nosso fotojornalismo? Você acredita que a aposta no jornalismo colaborativo, que prevê inclusive que os leitores-consumidores de notícias possam, também eles, produzir imagens (a partir de celulares, por exemplo) coloca em risco, de alguma forma, o trabalho de profissionais (repórteres fotográficos)?
MC –
Os leitores-fotógrafos funcionam como fiscais da cidade. Se veem algo que os incomoda, vão lá e registram. Se testemunham um acidente ou incêndio, também vão registrar e os jornais e websites estão abrindo espaço para esse tipo de colaboração. Sabemos que em uma situação de “foto quente” o que conta é estar na hora certa e no lugar certo. Não importa o equipamento que se tenha em mãos. Chegar cinco minutos mais tarde faz toda a diferença. Um jornal jamais conseguirá cobrir toda a cidade, por maior que seja sua equipe de fotógrafos. E o número de cidadãos-fotógrafos vai aumentar ainda mais. É um caminho sem volta. Por isso, penso que devemos usar essa colaboração a nosso favor. O leitor pode cobrir o fato, mas não tem formação ou experiência suficientes para refletir sobre o fato através de imagens. Essa reflexão cabe aos fotógrafos profissionais. Somos nós que temos as ferramentas necessárias para oferecer ao leitor, mais que a descrição do fato, uma reflexão sobre as causas e desdobramentos daquele fato.

Brasileiros – Você, além de fotógrafa, também é jornalista? Isto é, tem formação acadêmica na área?
MC –
Comecei estudando Engenharia, depois resolvi ser piloto de avião, fui derrubada pela miopia e só mais tarde descobri a realização pessoal e profissional por meio do fotojornalismo. No início, fiz os cursos livres disponíveis no mercado e logo em seguida estava em jornal. Fui me deixando levar pela falta de rotina do jornalismo diário e acabei não voltando para a universidade. Sou uma “sem diploma”, mas sinto falta de não ter feito graduação, apesar de continuar estudando muito sobre o meu ofício e considerar que o desempenho satisfatoriamente.

WORLD PRESS PHOTO 2010
Quando: até 27 de junho
De terça a sábado, das 10h às 22h
Domingo, das 10h às 21h
Onde: Caixa Cultural Rio
Av. Almirante Barroso, 25 – Centro – Rio de Janeiro (RJ)
Entrada gratuita
Classificação: Não recomendado para menores de 14 anos
Site: www.worldpressphoto.org
Telefone: (21) 2544-4080 / 2544-1099

DEBATE: Fotojornalismo no Brasil
Quando: dia 22 de junho, às 19 horas
Onde: Caixa Cultural Rio – Teatro de Arena
Inscrições: contato@produtoracapadocia.com.br


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