Teatro darwiniano

Para Filipe Peña e toda a equipe envolvida na peça Do Claustro, o teatro não é um elemento estático. A cada dia, a evolução acontece e deixa o espetáculo mais perto da perfeição. Só é preciso aceitar as novidades com o pensamento de que aquela mudança não planejada pode vir para o bem.
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Assim foram os dez meses de ensaio da peça, que conta a história de Irmã Cecília (Luana Nunes), uma religiosa da Ordem das Clarissas. Às vésperas de seus votos de pobreza, castidade e obediência, enclausurada, Cecília está à beira da loucura e apaixonada por um poeta-advogado, preso e ameaçado de degredo para a África, em plena Salvador do final do século XVII. Nessa “prisão”, ela se vê dividida entre a culpa e o desejo, e leva a plateia a encarar o conflituoso dilema.

O site da Brasileiros acompanhou o ensaio do espetáculo que estreia nessa terça-feira, 22 de junho, às 21 horas, no SESC Consolação. Depois, fomos tomar um café com o diretor Filipe Peña, o autor e produtor Ruy Jobim Neto, Cláudio Cabral, responsável pela adaptação do texto, e as atrizes Luana Nunes e Nataly Cavalcanti, para saber como foi o longo processo dos dez meses de ensaio e como está a expectativa para a estreia.

Do Claustro foi escrita por Ruy Jobim Neto, após anos de muita pesquisa. Já esteve em cartaz em 2008, com direção de Eduardo Sofiati. Mas para a nova temporada, era preciso um ponto de vista diferente. Foi então que Jobim Neto convidou o estreante diretor Filipe Peña, que fala de teatro com uma paixão admirável, e Cláudio Cabral, grande responsável pela releitura do texto.

“As sensações que Cecília vive dentro de seu claustro são coisas que todo ser humano encara em determinado ponto de sua vida”, analisa Cabral. “As pessoas acham que só existe o bonzinho, existe o mau, mas falta essa consciência de que a gente é ruim, a gente é bom, a gente é feliz, é triste, a gente é tudo!”, complementou o diretor Filipe Peña. Foi dessa inspiração inicial que começou a se desenhar a nova adaptação de Do Claustro.

A peça não tem troca de cenários ou um elenco colossal. Luana Nunes e Nataly Cavalcanti são as únicas atrizes. “Naquela hora, quem faz o show são os artistas, não precisamos incrementar o cenário para preencher uma lacuna”, observa Peña. Para ele, bons artistas bastam para se fazer uma excelente peça: “Ator é aquele que faz o que você manda, não tenta, não sabe. Já o artista tem presença, além de um repertório, de cultura”.

Quem tiver o prazer de acompanhar a peça, nunca irá imaginar que, para interpretar as duas personagens, já foram escaladas quatro atrizes diferentes que, por diversos problemas, acabaram sendo substituídas. Qualquer diretor encararia isso como uma tremenda falta de sorte, não Filipe Peña: “Cada atriz que passou por aqui acrescentou, de alguma forma, algo para as personagens, as enriqueceu, até chegarmos à formação ideal com Luana Nunes e Nataly Cavalcanti”.

Nataly está na equipe há apenas um mês. “Foi bem corrido, eu não estava esperando. Trabalhava como assistente do Filipe e acabei entrando meio na fogueira, mas, estamos aí e vamos ver o que vai dar” torce a atriz. Luana, a outra atriz de Do Claustro, também viu a troca em cima da hora com bons olhos. “Foi uma troca boa. Tanto eu quanto a outra atriz estávamos muito presas a técnicas. A Nataly chegou com naturalidade e intuição própria. Foi um ar novo.”

Outro grande destaque da peça, que faz com que não se sinta a falta de grandes cenários ou troca de cenas, é a música, de responsabilidade de Rhode Mark, e a iluminação, a cargo do experiente Davi de Brito. “Os mais leigos não se dão conta desse fator em uma peça, porém, são fundamentais para a construção de um bom espetáculo”, comenta o diretor.

Fica a recomendação. Excelente peça para quem ainda não teve a oportunidade de conferir. Para quem já viu, é ainda mais interessante conferir o novo ponto de vista encontrado na adaptação de Do Claustro.

PEÇA DO CLAUSTRO
Quando: estreia dia 22 de junho, às 21h
Temporada: De 22 de junho até 14 de julho
Terças e quartas, às 21h
Classificação: 16 anos
Duração: 50 minutos
Onde: SESC Consolação
R. Dr. Vila Nova, 245 – São Paulo (SP)
Ingressos: R$ 10,00 (inteira); R$ 5,00 (usuário matriculado no SESC e dependentes, maiores de 60 anos, estudantes e professores da rede pública de ensino). R$ 2,50 (trabalhador no comércio e serviços matriculado no SESC e dependentes)
Site: www.sescsp.org.br
Telefone: (11) 3234-3000


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