Coreia do Norte campeã

Sempre achei que “fugiro no Kombi” era coisa de ladrão japonês. Mas ao que parece, é manobra também de norte-coreanos. Quatro jogadores do selecionado bizarro escafederam-se. A comissão técnica jura que dali ninguém saiu. E a Fifa diz que não viu nada. A essa altura, aqueles Hosmany Ramos do extremo-oriente já devem estar no Quênia. É dose para leão. O técnico do escrete bem que desconfiou quando ouviu dizer que os boleiros iriam “dar no pé”. Porém, foi assegurado de que a turma se referia a “dar com o pé na bola”.
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Enquanto isso, em Pyongyang, o adorável líder Kim Jong-il estava ocupadíssimo na sala de edição de seus estúdios de cinema particular, editando o vídeo do jogo Portugal 7 x 0 Coreia do Norte. A multidão reunida à força para assistir ao “heroico feito do povo iluminado”, no telão da praça principal da capital, verá um compacto de apenas 10 minutos. Nessa realidade virtual, os norte-coreanos ganharam de 10 x 0. Jong-il usou o videogame da Fifa para criar a vitória de seu time.

Na partida contra o Brasil, o time já havia vencido por 1 x 0. O teipe excluiu os tentos brasileiros e manteve apenas o gol de Yun Nam. O craque recebeu de bicho um cachorro São Bernardo adulto. Prêmio esse, que sua família devorou com prazer, incluindo pelos, unhas e a coleira com barrilzinho (infelizmente desprovido de conhaque). Guardaram apenas os miúdos para o banquete de recepção ao filho pródigo. “Ele sempre gostou de fígado”, disse emocionada dona Viet Nam, mãe do atleta.

Outro premiado foi o chorão Jong Tao-Se, que se debulhou em lágrimas inconsoláveis ao ouvir o hino da “grande nação iluminada”. Ele levou um filhote de labrador, que doou aos pobres do país. Ou seja: para todos os habitantes. Tao-Se, diga-se, nasceu no Japão, onde joga em um time local. Disse, à nossa reportagem, em português fluente, que os mercados japoneses oferecem fartura de carnes de cavalo, golfinho e baleia. Assim, ele não precisa do cachorrinho.

Por ser o craque da seleção asiática, e dominar “a última flor do Lácio, inculta e bela“, o camisa 9 bem que poderia ser contratado por time brasileiro. Contanto, é claro, que não o fosse pelo Corinthians (já temos muito choro em nosso centenário). Tao-Se não é de se jogar aos porcos. Ou pensando melhor, cairia bem no ataque do Palmeiras.

Na ilha de edição do palácio em Pyongyang, o “adorável líder” já está em trabalhos frenéticos compondo uma partida contra a Costa do Marfim. Está em dúvida apenas sobre o placar. Vai de 12 x 0 ou cria um pouco de drama com um resultado de 6 x 0? Há muito trabalho pela frente, uma vez que a Coreia do Norte seguirá até o final do campeonato e levantará o caneco, na versão composta por Kim Jong-il. Será o hexacampeonato da nação.

Entrementes, no Ministério das Comunicações em Pyongyang, dois militares de alto coturno, Kim Ta-Ruim e Jong Ta-Maus, conversam sobre seu trabalho:

“As ordens são para não deixar passar nenhuma comunicação com o mundo exterior traiçoeiro e mentiroso. Você mandou recolher toda a lenha do país? Não queremos nem sinal de fumaça durante a Copa”, diz Ta-Ruim.

“Não tem pau nem para fazer fogueira para esquentar o chá. Também mandei furar todos os instrumentos de percussão, que é para não ter papo via tambores. E você, mandou interromper as transmissões de TV via satélite? Cortou os telefones? Desligou a internet?”, diz Ta-Maus.

Os dois olham um para o outro em silêncio, depois caem na gargalhada.

“Só você mesmo para me fazer rir, Ta-Maus. Televisão, telefone, internet… Rá-rá-rá”, diz Ta-Ruim, com os músculos da barriga doendo de tanto rir.


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