Vik Muniz é um Bróder

Depois de sete dias, a 3ª edição do Paulínia Festival de Cinema chega a seu final nesta quinta-feira (22), com a exibição para convidados do filme 400 Contra 1, de Caco Souza. O longa conta a história de William da Silva Lima, um dos bandidos que conviveram com presos políticos nos idos dos anos 1970 e que depois fundou o Comando Vermelho. A facção criminosa criada no presídio Ilha Grande, no Rio de Janeiro, juntou presos políticos e criminosos comuns. No filme, William é interpretado pelo ator Daniel Oliveira e traz no elenco, entre outros, Daniela Escobar.

Na noite de encerramento do festival, serão conhecidos os ganhadores do Troféu Menina de Ouro, que contempla as categorias de Melhor Filme de ficção e documentário, Melhor Diretor de Ficção e documentário, Melhor Ator, Melhor Atriz, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Roteiro. O evento premia também a parte técnica (Melhor Fotografia, Melhor Montagem, Melhor Som, Melhor Direção de Arte, Melhor Trilha Sonora, Melhor Figurino). Além de todos esses prêmios, o Paulínia Festival de Cinema dará o prêmio Especial do Júri. A categoria de filmes de curta-metragem é dividida entre curta regional e curta nacional e os prêmios serão para melhor curta, melhor direção e melhor roteiro (regional e nacional). Há também a escolha do público para o melhor documentário e ficção de longa-metragem e melhor curta regional e nacional.

Uma noite extraordinária
O Festival de Paulínia, como já mencionado ontem no site, oscilou muito em relação à qualidade dos filmes exibidos. Mas, na última noite competitiva do festival, todos os filmes exibidos tinham qualidade. A abertura da noite foi com a exibição do simpático desenho animado Dona Tota e o Menino Mágico, de Adriana Meirelles, o curta-metragem regional da competição.
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Logo após a sessão, aconteceu o momento mágico do festival. O primeiro filme ovacionado em pé, durante quase cinco minutos. A honra coube ao documentário Lixo Extraordinário, de Lucy Walker, João Jardim e Karen Harley. O longa conta a experiência do artista plástico Vik Muniz com alguns catadores de lixo do Jardim Gramacho, maior aterro sanitário da América Latina, localizado na periferia de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro. Vik Muniz, presente à sessão, falou da importância daquela experiência, não só na vida daquelas pessoas, como também na vida dele próprio, que confessou ter entrado na empreitada com vários preconceitos, removidos um a um, à medida que o projeto ia sendo feito. Um belo filme, que mostra como as nossas concepções acerca das coisas podem readquirir outros significados, quando as pessoas deixam que a arte invada suas vidas.

Como a qualidade dos curtas-metragens nacionais era muito boa, o curador e diretor do festival, Ivan Melo, selecionou um curta a mais. Por isso, foram exibidos dois curtas ontem: Ensolarado, de Ricardo Targino, e Retrovisor, de Eliane Coster. Como linguagem, o primeiro era melhor, mas como história o segundo ficou mais bem resolvido. A mostra competitiva foi encerrada com o tão aguardado primeiro longa de Jeferson De, Bróder. Ele foi o “inventor” do movimento cinematográfico “Dogma Feijoada”, que procurou fazer um manifesto entre cineastas negros, em filmes que abordassem a questão do negro na sociedade brasileira. O manifesto morreu no nascedouro, mas serviu como vitrine para o festejado cineasta Jeferson De. Ele falou com o site da Brasileiros, antes do início da exibição do filme. “Não fiz um filme para Daniel Filho, nem para ator nenhum. Fiz um filme para minha família, para minha comunidade, do Capão Redondo”.

O filme mostra o encontro de três jovens amigos do Capão Redondo, Macu, Jaiminho, jogador de futebol famoso, e Pibe, que se formou em Direito. Macu é o único que ainda mora no bairro, e, por isso, é o mais vulnerável deles, pois tem de conviver com a criminalidade da região. Jeferson De mostra segurança e inventividade na direção, com seus planos bem elaborados e sua agilidade nas cenas em que os amigos andam de carro pela cidade. O diretor é seguro também na direção de atores. Caio Blat, que faz o Macu, protagonista da história, está soberbo. Ele compõe Macu com violência e uma fragilidade tocante, imprimindo diversas nuances ao personagem, que o torna mais humano e interessante. A trilha sonora é ótima, mas não condiz com o gosto daqueles personagens.

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