Caros leitores,
foi o tempo de eu sair para pagar algumas contas, e já mudou tudo de novo. O Fluminense não liberou Muricy Ramalho, que tem contrato com o clube até o final do ano e ele decidiu ficar no clube. A escolha do novo técnico da seleção brasileira volta à estaca zero. Justamente agora que o Ricardo Teixeira acertou uma, e o povo aprovou, deu zebra.
Da minha parte, não tenho palpite: o que vocês acham que vai acontecer agora?
Abraços,
Ricardo Kotscho
Em 2005, Muricy Ramalho, então técnico do Internacional, já havia sido eleito o melhor técnico do Brasileirão. Mas, depois do vexame do Brasil de Parreira na Copa da Alemanha, no ano seguinte, Ricardo Teixeira, o eterno presidente da CBF, surpreendeu todo mundo ao inventar Dunga como técnico da seleção brasileira. O currículo dele como treinador ainda era uma folha de papel em branco.
Muricy repetiria a dose nos três anos seguintes, sendo novamente eleito o melhor treinador do país, quando conquistou o tricampeonato brasileiro pelo São Paulo. Com quatro anos de atraso, após a eliminação do Brasil nas quartas de final da Copa da África do Sul, agora o mesmo Teixeira chama Muricy para assumir o comando da seleção.
Qual o critério? Na maior cara de pau, depois de tomar um café da manhã com Muricy no Itanhangá, um clube de golfe, como convém a um neo-aristocrata, Teixeira justificou a indicação de Muricy pelo “currículo do técnico”. Será que só agora o manda-chuva da CBF descobriu que este é um técnico vencedor, com perfil talhado para renovar não só o elenco, mas os usos e costumes da nossa seleção?
Se não receber carta branca para trabalhar e montar a comissão técnica à sua maneira, temo pelo futuro do meu amigo. Desconfio que Teixeira pode ter gostado dos muitos títulos estaduais e nacionais já conquistados por Muricy, mas não recebeu informações suficientes sobre a personalidade do técnico para saber com quem está lidando.
Muricy é jogo duro. Com este treinador, tudo tem que ser do jeito que ele quer, do corte do gramado de treinamentos à alimentação dos jogadores. Nunca aceitou palpites de dirigentes, quer distância das diretorias, não entra em cambalachos, não faz média com jornalistas – é, literalmente, um bicho do mato.
Não por acaso o lugar onde mais gosta de ficar quando não está trabalhando – e ele gosta de trabalhar muito – é no seu sítio perto de São Paulo, com a família e uns poucos amigos antigos, longe de qualquer holofote ou bochicho.
Conheço Muricy desde o tempo em que ele surgiu como a grande revelação do meio de campo do São Paulo, nos anos 70. Só não foi para a seleção na Copa de 78 na Argentina por causa de um problema no joelho que o fez encerrar precocemente sua carreira de jogador.
Depois, como técnico, seria campeão por times de vários Estados, de Pernambuco ao Rio Grande do Sul, conquistou títulos no México e até na China, sem nunca aprender a levar desaforos para casa.
Durante uma entrevista de mais de duas horas que concedeu para a revista Brasileiros, no começo do ano passado, no CT do São Paulo, na Barra Funda, Muricy Ramalho fez uma viagem pela sua vida desde os tempos em que, ainda menino, foi jogar no dente-de-leite do São Paulo. Várias vezes ele se referiu a seu grande mestre, Telê Santana, de quem foi assistente e depois substituto.
Muricy tem verdadeira idolatria por Telê, que perdeu duas Copas no comando da seleção, em 1982 e 1986, mas até hoje é venerado como um dos melhores treinadores da história do futebol-arte, o oposto deste futebol retrancado e burocrático, chato e previsível, triste mesmo, que o Brasil vem jogando faz tempo.
Boa sorte, caro Muricy. Se você se inspirar no velho Telê, que também não era de abanar o rabo para os poderosos e humilhar os subalternos, quem sabe o Brasil volte a jogar como o Brasil de antigamente, que a torcida quer ver de novo em campo, encantando as platéias do mundo e levantando canecos, se possível.
Tua chance é agora, tem que aproveitar. No próximo dia 10, teremos o primeiro amistoso da seleção pós-Copa, contra os Estados Unidos, em Nova Jersey. A CBF já decidiu que só deverão ser convocados jogadores em atividade no Brasil. Pois, então: foi exatamente isso que sugeri aqui no Balaio logo após a derrota contra a Holanda para dar início à prometida renovação da seleção brasileira.
Desta vez, Ricardo Teixeira acertou na escolha do técnico. É só deixar ele trabalhar. Antes tarde do que nunca.
Em tempo: se bem que, como são-paulino, eu teria achado melhor o Ricardo Teixeira chamar o Ricardo Gomes para a seleção. Era um dos cotados E, agora, para completar, já estão falando em contratar o Dunga para o lugar do Gomes Não seria melhor ter ficado com o Muricy? Se ainda estivesse no São Paulo, talvez a CBF nem se lembrasse dele
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