A premiação da exclusão

A grande noite de encerramento do Festival de Paulínia reservou algumas surpresas na entrega dos prêmios. Todos estavam esperando uma coleção de estatuetas para o primeiro longa-metragem de Jeferson De, Bróder, que esteve no último Festival de Berlim. O filme fala de exclusão e violência, ao contar a história do personagem Macu e o encontro dele com dois amigos de infância. O protagonista é interpretado de forma soberba por Caio Blat, que injustamente perdeu o prêmio de Melhor Ator para Marcelo Serrado, protagonista do filme Malu de Bicicleta, de Flávio Tambellini. Serrado não está mal, mas o trabalho de Blat não só é muito elaborado, mas extremamente humano, um misto de fragilidade e raiva. Bróder, como falamos ontem, é bem dirigido, com belíssimos planos, ótima trilha sonora e interpretações convincentes da maioria do elenco. O filme saiu com os prêmios da crítica e alguns prêmios técnicos do júri.
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O grande vencedor da noite, em termos, foi 5x Favela, Agora por nós mesmos, de Manaíra Carneiro, Wagner Novais, Rodrigo Felha, Cacau Amaral, Luciano Vidigal, Cadu Barcellos e Luciana Bezerra, filme sobre histórias de moradores de favelas do Rio de Janeiro, dividido em cinco episódios. Além de melhor filme do júri e do público, recebeu os prêmios de interpretação de atores coadjuvantes, masculina e feminina, roteiro, trilha sonora, entre outros. O longa tem dois bons episódios, mas três razoáveis, o que compromete o filme como um todo. Mas essa temática, que aqui é bem abordada, ainda continua agradando os jurados e críticos dos festivais pelo Brasil afora.

Vale destacar os prêmios de direção para Flávio Tambellini e para os seus protagonistas (Marcelo Serrado e Fernanda de Freitas), pela simpática e leve comédia Malu de Bicicleta. No debate com diretor, elenco, parte da equipe e Marcelo Rubens Paiva, todos falaram que o trabalho foi feito com muita alegria, em uma grande irmandade. Esse ambiente solar foi captado pelas lentes do filme e pelo desempenho de todo o elenco.

Como havíamos dito, os filmes As Doze Estrelas, de Luiz Alberto Pereira, o Gal, e Dores & Amores, de Ricardo Pinto e Silva, não deveriam estar em qualquer festival, mesmo que seja o de Paulínia, mais aberto a filmes comerciais. Principalmente o segundo, uma produção equivocada, mal dirigida e interpretada e com uma história que não é apenas banal, mas vexatória. O festival deste ano teve, por exemplo, o filme Desenrola, de Rosane Svartman, que mesmo não sendo uma joia rara, conseguiu agradar público, jornalistas e críticos, que embarcaram sem preconceito nenhum na história de adolescentes e suas primeiras relações sexuais. Que fique a lição para ambos os diretores. Você pode até fazer uma história sem muitas pretensões e aprofundamentos, mas é necessário que ela seja contada de forma decente.

O documentário Lixo Extraordinário, de Lucy Walker, João Jardim e Karen Harley, que conta a história de um trabalho do artista plástico Vik Muniz, no Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, Rio de Janeiro, região com um dos maiores aterros sanitários da América Latina, foi aplaudido em pé pelo público presente, na quarta-feira. No entanto, recebeu apenas o merecido Prêmio Especial do Júri. Alguns jornalistas e críticos que estavam no festival de Paulínia criticaram o filme, e o classificaram, inclusive, de vídeo institucional feito para Vik Muniz e sobre a carreira do artista. O site da Brasileiros falou com o artista plástico e foi direto ao assunto.

Brasileiros – O que você tem a dizer quando acusam o filme de ser uma propaganda para sua carreira, um produto institucional a respeito dela?
Vik Muniz –
Eu não sei, cara. Às vezes, você faz um trabalho… Eu já participei de projetos sociais que não foram documentados dessa forma. O fato de ser documentado talvez tenha gerado isso… Tenho um projeto profissional em que quero ser não só um artista como também um bom professor. Você não consegue passar nada para alguém sem ser um bom exemplo. Imagino, se eu for uma pessoa melhor, uma pessoa mais completa, talvez, seja um melhor artista e influenciar os outros de forma mais positiva. As pessoas vão querer ser como eu sou. Para isso, eu tenho que ser bom. Não posso ser uma pessoa ruim e querer influenciar os outros. Acho que isso vale, cara, e muito. Se pudesse influenciar jovens artistas a se envolverem com projetos que sejam enriquecedores, bacanas, sempre vai valer a pena. Para mim, foi enriquecedor esse projeto de Gramacho, talvez mais do que para eles que participaram (referindo-se aos catadores de materiais recicláveis que trabalham no lixo de Gramacho e que estão no documentário Lixo Extraordinário). Então, não tenho nem como responder a esse tipo de acusação, pois não procedem e nada tem de verdade. Estou feliz com o que fiz e extremamente realizado. Não foi nenhum dinheiro para mim, como não vai nenhum dinheiro para meu bolso dos projetos sociais que me envolvo.

Veja todos os vencedores da 3ª edição do Paulínia Festival de Cinema aqui

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