A revista Newsweek publicou, em junho passado, um ranking dos rabinos mais influentes dos Estados Unidos. O primeiro colocado foi Yehuda Krinsky, líder do movimento Chabad Lubavitch, da denominação Hasidic, centrada no Brooklyn. A distinção é compreensível, pois o homem seria considerado um santo – caso fosse católico. Mas o próprio homenageado, entrevistado pelo New York Times, discordou da proposta, alegando que não se deve julgar pessoas em lista de “melhores”. “Quem pode dizer quem está acima e quem está abaixo?”, disse.
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Essa história de quem é o melhor, ou qual é o primeiro colocado, é mania muito americana. E não se resume a imputar valores absolutos às pessoas, mas também a times, produtos, alimentos, pontos geográficos, animais e o diabo. Os parâmetros de julgamento obedecem a lógicas que a própria razão desconhece. Como julgar a melhor pizza de Nova York, por exemplo? Somente o debate sobre a espessura da crosta do disco vem sendo travado há milênios, sem que nenhuma das facções – os que preferem bordas finas contra os que as querem grossas – dê o braço a torcer. Para não dizer nada sobre comparações envolvendo a muzzarella de búfala e o aliche.

O pior disso é que a mania de listas de melhores do mundo atingiu gosto globalizado e parte para a tarefa de julgar um campeão de todos os tempos. Tenho amigos no Brasil que vivem me perguntando qual o maior compositor da história. Ou melhor livro, quadro, carro, time de futebol, vedete, cantor, general, teórico de política econômica, cachorro, e por aí segue o campeonato. Minha resposta é que só existe uma única categoria em que o julgamento pode ser, e já foi aplicado, sem sombra de dúvida. Trata-se do futebol: Pelé é o maior jogador de todos os tempos. Ponto final. Vi em campo e em filmes, jogos com Maradona e com Pelé. O argentino era um gênio, mas o brasileiro fazia coisas de que até o diabo duvida.

Fora isso, como escolher entre, por exemplo, escritores? Cervantes ou Tolstoi? Flaubert ou Shakespeare? Somente para citar alguns. Na música: Mozart, Beethoven ou Miles Davis? Beatles ou Tom Jobim? Sei lá… Cada um, cada um (como se dizia antigamente). E agora, como se faltassem temas para esses concursos de beleza, partem para cima do rabinato. Oy vey!, como diria minha sogra.

É verdade que sendo hasidic, o rabino Krinsky comanda mesmo uma comunidade muito influente. São milhares de fiéis em todo o mundo. E sua estampa na cultura nova-iorquina é evidente. Seus trajes negros viraram uniforme da população local. Todo mundo se veste como se fosse um judeu ultraortodoxo. E os chapéus, então? Não me deixem começar a falar sobre isso. Hoje em dia, até satanista cobre a cabeça com fedoras. Qualquer shmuck (mané) fica parecendo que estuda em yeshiva (seminário para rabinos). É modismo semelhante ao da Kabbalah, a corrente mística do judaísmo, que a cantora Madona diz que estuda. O bom Rabbi Yehuda dá perspectivas esclarecedoras ao dizer que para entender do assunto uma pessoa tem de estudar durante dezenas de anos. “…Muitas comunidades baniram o estudo da Kabbalah até que o estudante tenha terminado 40 anos de aprendizado do Torah (as escrituras sagradas do judaísmo)“. Portanto, não é um Jesus (Luz) quem vai virar expert no riscado.

De todo modo, sou obrigado a admitir que se me perguntassem “quem é a pessoa com a maior lábia do mundo”, teria de me dobrar aos fatos e dar o título a Bill Gates. Afinal, o homem convenceu 40 bilionários a dar metade de suas fortunas para causas filantrópicas. Bill é o Pelé do papo.


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