Quarta-feira, 18 de março de 1964

No Brasil, a imprensa recorria com frequência ao fantasma do comunismo
No Brasil, a imprensa recorria com frequência ao fantasma do comunismo

O jornal O Globo é “conservador, subsidiado pelos Estados Unidos”. A definição, registrada em verbete da Worldmark Encyclopedia of the Nations, caiu como uma bomba na redação do jornal, no Rio de Janeiro. Uma resposta exigindo retratação à enciclopédia (publicada pela World Press Inc – Harper and Row, de Nova York) foi escrita em tom passional.

“A desinformação dos meios culturais norte-americanos relativamente ao Brasil, auxiliada pela insídia de nossos adversários, fez-se responsável pela maior injúria jamais dirigida contra este jornal”, começava o texto, a ser publicado com destaque, na primeira página do dia seguinte.

“A calúnia vilmente assacada pelos comunistas locais, que pretendem atingir a honorabilidade de O Globo, taxando-o de órgão subsidiado pelos Estados Unidos, encontrou guarida em publicação feita naquele mesmo País!”, afirmava ainda o texto do jornal comandado por Roberto Marinho. 

O fantasma do comunismo também aparecia com frequência nas páginas de O Globo quando o assunto era a política brasileira. Aliás, para atacar o presidente João Goulart, a maioria dos jornais seguia a mesma linha. No dia do comício da Central do Brasil, a Folha de S.Paulo, por exemplo, classificou os organizadores da manifestação como “extremistas interessados em subverter a ordem”.

Na véspera da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, o jornal paulista adotou outra linguagem: “Todos os participantes do movimento estarão usando braçadeiras verde-amarelas. E conclamam todos os democratas para que também as usem”. Essa era a postura da maioria da imprensa escrita. Entre os jornais comerciais, apenas a Última Hora, o Diário Carioca e O Semanário apoiavam o governo João Goulart.

Nos Estados Unidos, onde a Worldmark Encyclopedia of the Nations havia publicado que O Globo recebia subsídios americanos, a política brasileira não despertava interesse no grande público. Em contrapartida, a bossa nova fazia o maior sucesso naquele março de 1964, quando foi lançado o álbum Getz/Gilberto.

Confira interpretação de The Girl from Ipanema, por Astrud Gilberto:



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