Após curta passagem por São Paulo, acho que devo fazer algumas observações sobre a cidade, além de reproduzir certos diálogos ouvidos. É o que se segue abaixo:
1) De um ano para cá, virou moda colocar em fachadas de prédios luzes que mudam de cor. É hotel que aparenta ter uma cascata iluminada que lhe escorre pelas paredes externas. Boate onde lampadinhas em tons pastel brilham e piscam. Shoppings envergando painéis luminosos com centenas de telinhas de tevê. Pizzarias fantasiadas de Lady Gaga. E por aí vai. O efeito desse furor de brilharecos é hediondo. Os edifícios ficam iguais aos cassinos chineses de Macau, obras unanimemente consideradas as piores monstruosidades arquitetônicas do planeta.
Mas, graças a Deus, essa moda vai passar. Assim como entraram para o lixo da história outras extravagâncias de arquitetos no passado. Lembrem-se de que há uns 10 anos, cretinos lançaram a proliferação de prédios com designs de eletrodomésticos. A gente saía na rua e dava de cara com um liquidificador gigantesco. Virava a esquina e topava com uma batedeira do tamanho do Godzilla. São Paulo corria o risco de se tornar uma exposição permanente da feira UD. Hoje, felizmente, esses utilitários ficaram obsoletos, como só haveria de acontecer. Estão esquecidos em meio a outros lixos amontoados na metrópole. Vez por outra, vê-se um deles. Como um aspirador de pó encrencado, jogado em um canto do quartinho de despejo.
2) A baixa Augusta, região tradicional do trottoir do meretrício, mudou de fisionomia e função. O que era bas-fond virou balada. A molecada da gandaia está expulsando as damas da noite.
3) Noite dessas, na fila de espera por mesas no bar Ritz, local com grande freguesia de homossexuais, as pessoas conversavam e bebiam umas e outras. Vem pela calçada um sujeito, que avista um conhecido. Diz em voz alta: “Ô Brito! Você virou gay?”. O Brito bate de prima: “Não. Continuo heterossexual. E você, pelo jeito, também continua na mesma – idiota e preconceituoso”. A gargalhada geral apressou o processo de expulsão do cretino homofóbico.
4) Uma senhora conta ao filho, que um parente, autor de vários livros, sofreu um “acidente vascular cerebral”, mas sobreviveu. “Coitado do fulano! Teve um ABC (sic)”, disse. Ao que o interlocutor imediatamente corrige: “Não, mamãe. O termo é AVC”. Após curta pausa, a velha dama sapeca: “Do jeito que ele escrevia aqueles livros todos, teve mesmo foi um ABC”.
5) Pode existir algo mais enfurecedor do que um automóvel que fala? Na Pauliceia, e acredito pelo resto do País, esses veículos proliferam como coelhos. Estão ali quietos, calados como convém e, de repente, esbravejam: “Estou sendo roubado! Liguem para 4063-3333!”. Dão tremendo susto na tigrada. Gritam ordens como “otoridades”. Será que alguém obedece e corre ao telefone? “Olha, tem um Palio preto que me mandou dizer para vocês, que ele está sendo roubado. Não sei não… Parece-me que é o trote do sequestro. Não tinha ninguém mexendo com o Palio.”
Sonho em montar uma milícia armada de porretes para sair em missão de vigilância. Quando um carro der um pio, a turma cai de cacete nele. Isso ensinaria aos tagarelas a não falar com desconhecidos. Afinal, essas máquinas foram feitas para o transporte: não têm nada de interessante para nos contar.
6) Helicópteros sobrevoam a região da Avenida Paulista como pragas de gafanhotos. Parece que a gente está no meio de um filme sobre a guerra do Vietnã. No dia em que eu ganhar na loteria, vou contratar meia dúzia de afegãos talibãs, armados com suas lançadoras de granadas. Ficarão de tocaia nas ruas dos Jardins, abatendo helicópteros de executivos de bancos.
7) “É nóis, mano!”, é a melhor expressão paulistana criada nos últimos 30 anos.
E tenho dito!
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