A Mostra da ousadia?

Como acontece todos os anos, há mais de três décadas, a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo é o evento mais aguardado dos amantes da sétima arte, que têm a oportunidade de assistir ao que de melhor se faz nos quatro cantos do planeta em matéria de cinema. Mas a largada para a Mostra, com seus mais de 450 filmes (precisamente 468 filmes), já começou na noite de quinta-feira (21) com a exibição para convidados do novo filme do diretor Manoel de Oliveira, O Estranho Caso de Angélica, no Auditório Ibirapuera. O longa foi exibido fora da competição do Festival de Cannes deste ano. Manoel de Oliveira, como todos já sabem, é o cineasta mais velho em atividade (vai completar 102 anos em dezembro) e, nos últimos tempos, vem realizando quase um filme por ano (haja disposição e criatividade!). Infelizmente, ele não pôde comparecer para abertura por motivos de saúde, mas já se comprometeu com os diretores da Mostra, Leon Cakoff e Renata de Almeida, a comparecer nos últimos dias do evento (a Mostra começa nesta sexta e vai até o dia 4 de novembro, em 22 salas espalhadas pela cidade. Veja os endereços no site oficial da Mostra, no box abaixo).

Novidades
Renata de Almeida, co-diretora da Mostra, disse que se tivesse de escolher uma palavra para designar a Mostra deste ano, esta seria “ousadia”. Muitos são os motivos para classificar a 34ª edição de ousada. Um deles se refere à confecção do cartaz, que há mais de uma década é encomendado pelos organizadores a um artista (no ano passado, foi assinado pelos gêmeos grafiteiros, Otávio e Gustavo Pandolfo). Neste ano, a novidade é o cartaz com dupla face. Um lado traz uma fotografia do diretor Wim Wenders, que está na exposição Lugares, Estranhos e Quietos, com 23 fotografias, no Museu de Arte de São Paulo (MASP). O outro é um desenho (storyboard) feito pelo diretor japonês Akira Kurosawa, em comemoração ao seu centenário de nascimento. Aliás, nesta sexta será aberta a exposição Kurosawa – criando imagens para cinema, que reúne 80 storyboards originais feitos para os filmes Kagemusha, Ran, Dreams, Rhapsody in August, Madadayo e The Sea Watches. As exposições fazem parte da programação paralela da Mostra.

Atrações
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Voltando ao cinema, já que cinéfilo quer saber é de filme, a edição de 2010 não mede esforços e traz uma programação diversa e de qualidade. Além de filmes ganhadores dos principais festivais do mundo (Cannes, Berlim e Veneza), que todos esperam com ansiedade, a Mostra traz duas retrospectivas de cineastas: uma de F. J. Ossang e a outra de Serge Avedikian, além de uma homenagem ao diretor norueguês Bent Hamer e ao próprio cinema do país escandinavo, com a exibição de filmes recentes produzidos por lá. Tem a seleção da nova safra do cinema brasileiro, que é muito prestigiada pelos frequentadores da Mostra. Serão exibidos alguns filmes de diretores queridinhos, como os já citados Wim Wenders, Manoel de Oliveira e Akira Kurosawa, além de Aleksandr Sokurov. Para quem gosta do cinema americano, a Mostra traz algumas das últimas boas produções da terra do Tio Sam.

Entrevista com Renata de Almeida

Brasileiros – Quanto tempo eu vou ter para entrevistá-la?
Renata de Almeida –
Quanto tempo você vai ter? O tempo que você quiser (risos).

Brasileiros – Quantos filmes vocês receberam no total para serem selecionados para a Mostra deste ano?
R. A. –
Recebemos quase 800 filmes!

Brasileiros – Quantos filmes foram selecionados para a 34ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo?
R. A. –
Mais de 450 filmes, entre longas (ficção e documentário), na maioria, e curtas-metragens.

Brasileiros – Se você fosse escolher uma palavra para caracterizar a Mostra deste ano, qual seria?
R. A. –
Uma palavra? É difícil, né? Acho que pode por… Este ano, estamos trazendo duas exposições: as fotografias do diretor Wim Wenders, que está no MASP, e os desenhos originais do (Akira) Kurosawa, no Instituto Tomie Ohtake. Só que essas exposições não são o foco principal da Mostra, que se faz de filmes. Por isso, acho que você pode colocar a palavra “ousadia”. Acho que sim (risos). A gente fez várias coisas (este ano) que poderiam não dar certo.

Brasileiros – Renata, antes de você trabalhar na Mostra, ajudando Leon Cakoff na direção, você foi atriz e produtora…
R. A. –
Sim.

Brasileiros – Essas atividades estão em suspenso?
R. A. –
Olha, como produtora, ainda consigo trabalhar dentro da Mostra, pois desenvolvemos a organização da própria Mostra, que é uma produção. Além disso, fazemos co-produções para realização de filmes. São filmes autorais, geralmente de diretores que passaram pela Mostra. O filme que abriu a Mostra na quinta, O Estranho Caso de Angélica, de Manoel de Oliveira, tem co-produção nossa. Essas produções nos enchem de orgulho.

Brasileiros – Nunca ficou tentada a trabalhar como atriz nessas produções de que a Mostra participa?
R. A. –
Sabe o que eu acho… (risos) Quem tem talento mesmo, como atriz, não consegue deixar de atuar, é como respirar, como viver. Mas, para mim não é assim, nunca foi assim. Tenho uma formação legal (como atriz), de ter estudado (o método) Stanislavski, de ter estudado (Bertolt) Brecht. Essas coisas servem para minha vida, sem precisar atuar, é uma coisa bacana para minha vida, para se ter no currículo de vida, não no currículo profissional.

Brasileiros – Vocês já trouxeram para as edições anteriores da Mostra, outras exposições, shows, mas nunca, se não me engano, peças de teatro. Já pensaram em trazer alguma intervenção de teatro para dentro da Mostra?
R. A. –
A vida teatral de São Paulo é muito rica, que intimida trazer qualquer coisa nesse sentido. Trazer alguém de fora para ser homenageado é uma ideia, uma ideia muito boa. Não estamos fechados para isso.

Brasileiros – E essa novidade do cartaz ter face dupla?
R. A. –
Por conta do centenário (de nascimento) do Kurosawa, decidimos então, homenageá-lo, assim como o Wim Wenders, já que trouxemos a exposição de fotografias dele. O Wenders cedeu uma de suas fotos para o cartaz da Mostra, e já tínhamos a intenção de usar um desenho de Kurosawa, não tínhamos como dizer não ao Wenders (risos). Até eu brinquei dizendo: “Nossa, a gente poderia usar um desses cartazes para o ano que vem”. Mas as coisas aconteceram dessa forma, que o ano que vem decidimos fazer outra coisa.

Brasileiros – Serão 22 salas de exibição. Entre essas salas, há duas que são mais populares, digamos: o Centro Cultural São Paulo (CCSP) e a Galeria Olido. Nos anos anteriores, houve muitas reclamações dos frequentadores desses lugares, a mais frequente em relação aos horários da exibição dos filmes. Para esse ano, vocês pensaram em algo diferente?
R. A. –
Olha, a gente põe o horário que esses lugares determinam. Se eles falassem para mim que poderíamos colocar outros horários, a gente colocaria sem problema nenhum. São esses lugares que sugerem os horários, apenas nos adaptamos a eles.

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