Cercados por 500 homens do Exército, os marinheiros rebelados amanheceram na sede do Sindicato dos Metalúrgicos. A ordem para não invadir o prédio tinha chegado do Sul, dada pelo presidente João Goulart. Um novo ministro da Marinha substituía o antecessor da véspera, adepto da invasão. Depois de uma rodada de negociações, os marinheiros foram levados presos para unidades do Exército.
A cadeia durou pouco. Libertados no final da tarde, os marujos desfilaram abraçados pela avenida Rio Branco, em direção à Candelária. Lá, encontraram o almirante Cândido Aragão, que havia sido reconduzido ao comando dos Fuzileiros Navais, depois de ter se afastado por não concordar com a invasão do prédio do sindicato. Estava na Candelária para acalmar os ânimos dos marinheiros, como emissário do presidente.
Aos gritos de “Viva Jango!” e “Viva Aragão”, os marinheiros acabaram carregando o almirante nos ombros. Como se não bastasse, passaram em frente ao Clube Naval, e vaiaram os oficiais que acompanhavam o movimento da sacada do edifício. A insubordinação na Marinha não entrou no extenso relatório secreto que o embaixador Lincoln Gordon despachou naquela sexta-feira para seus chefes em Washington.
“Minha conclusão é que Goulart se acha agora definitivamente envolvido numa campanha para conseguir poderes ditatoriais, aceitando para isso a colaboração ativa do Partido Comunista Brasileiro e de outros revolucionários da esquerda radical”, escreveu o embaixador. No documento de 12 páginas, organizado em 16 tópicos, Lincoln Gordon apontava também o nome do líder da resistência militar a Goulart.
“Castello Branco é um oficial de grande competência, discreto, honesto e profundamente respeitado, com forte dedicação a princípios legais e constitucionais, e que até recentemente se esquivava às abordagens dos conspiradores anti-Goulart”, garantiu o embaixador. “Ele tem ao seu redor um grupo de outras altas patentes militares e está agora assumindo o controle e a direção sistemática dos inúmeros grupos de resistência militar e civil em todo o país, até então vagamente organizados”.
Clique na imagem e confira o relatório do embaixador Lincoln Gordon no original.
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