Eles já estão na idade e, no fim do ano, vamos todos viajar para a Disney com os netos. A decisão foi tomada pela família no Natal do ano passado. Gostei muito da ideia, mas não fazia conta de como tudo mudou, desde que fui lá pela primeira vez, para levar as filhas pequenas, uns trinta anos atrás.
O problema começou quando descobri que meu passaporte estava vencido. Agora é tudo pela internet, me disseram – quer dizer, deveria ser tudo teoricamente mais fácil. Só que havia um problema administrativo qualquer no setor de emissão de passaportes na Polícia Federal, e demorou um bocado para conseguir o meu.
Nos tempos antigos, era só ir à sede da PF, procurar pelo assessor de imprensa e, no mesmo dia, os jornalistas conhecidos da casa recebiam seu novo passaporte em mãos acompanhado de um abraço e votos de boa viagem.
O pior veio depois quando reparei que vencera também meu visto para os Estados Unidos. A dificuldade para tirar o dito cujo já tinha virado tema de matérias de jornal e até capas de revista, o que não me parecia nada animador, ainda mais para mim que tenho pavor de qualquer desafio ligado à burocracia. Foi-se o tempo, eu já sabia, em que bastava ligar para o assessor de imprensa do consulado. Naquela época ainda não existiam os Bin Laden da vida.
“É só fazer o pedido pela internet”, informou-me o genro que cuidou da organização da viagem – ou seja, arrumou hotel, comprou ingressos, marcou passeios, conseguiu lugar em aviões lotados, etc Na parte que me coube, claro que recorri aos préstimos da minha mulher, a Mara, que é craque no computador e no inglês, duas das áreas do conhecimento humano em que tenho grande deficiências.
Deu tudo certo, até o ponto crucial de marcar a tal da entrevista no consulado americano em São Paulo. E aconteceu o que eu mais temia. Como a procura aumenta muito neste último trimestre do ano por causa das férias de verão, só havia horário livre no dia 30 de dezembro, onze dias depois da data da partida.
De nada adiantaria explicar ao computador que já tínhamos comprado as passagens para o dia 19 de dezembro. Por mais modernos que sejam, eles ainda não falam nem foram programados para quebrar o galho de ninguém.
Restava apenas torcer por alguma desistência em data anterior. Por sorte, consegui marcar a entrevista para esta semana e, ao final de duas horas de filas, me garantiram que, em apenas seis dias, receberia pelo correio o meu passaporte de volta com o sonhado visto da terra do Mickey.
Me deu a impressão de que está todo mundo indo pra lá no final do ano, tamanha era a multidão que se aglomerava diante dos guichês das seis estações em que foi organizado o serviço. De uma fila para outra, você vai fazendo novas amizades, ouvindo os planos de viagens e os sonhos de cada um, as dificuldades que as pessoas enfrentaram para chegar até ali.
Num enorme galpão industrial erguido nos fundos do consulado, a expressão de ansiedade das pessoas fazia lembrar um campo de refugiados à espera de um salvo-conduto. Era também a expressão de uma sociedade bem democrática, com pessoas de todos os níveis sociais agora podendo viajar para os Estados Unidos.
Depois dos atentados que sofreram e das ameaças que permanecem, é compreensível esta preocupação dos americanos com a segurança, até mesmo dentro do consulado, protegido na entrada por gigantescos blocos de concreto.
Serve também para deixar mais tranquilos os que para lá viajam só para ver a alegria dos netos diante dos personagens de Walt Disney, que, ao contrário da gente, nunca envelhecem. Cumprida a gincana no Brasil, falta apenas enfrentar as filas na Disneyworld propriamente dita. Não é fácil a vida de turista avô, mas é boa.
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