Em sua casa em Juiz de Fora, o general Mourão Filho não tirou nem o pijama para desencadear a Operação Popeye, que tinha planejado para derrubar o presidente João Goulart. O dia ainda não havia amanhecido quando o militar de pavio curto vestiu um robe vermelho de seda e passou a disparar telefonemas para colegas de farda de todo o País. “Minhas tropas estão nas ruas”, avisava o general.
“Posso dizer com orgulho de originalidade: creio ter sido o único homem no mundo (pelo menos, no Brasil) que desencadeou uma revolução de pijama. Assim, 39 dias antes de pôr o pijama definitivo (dia 9 de maio caio na compulsória) já estava de pijama despedindo-me da vida militar ativa”, registrou o general em seu diário.
Na prática, o general Mourão Filho apenas antecipou um golpe civil-militar acertado entre os conspiradores para 21 de abril, dia de Tiradentes. Às 5 horas da manhã, as tropas do general já estavam na estrada que liga Juiz de Fora a Petrópolis. Ao saber da iniciativa de Mourão Filho, o general Castello Branco tentou abortar a operação, mas acabou mandando um general de sua confiança assumir o comando da operação.
Os boatos de que um golpe estava em curso não demoraram a chegar ao Palácio Laranjeiras, no Rio de Janeiro, onde se encontrava o presidente João Goulart. Durante todo o dia, o general Assis Brasil, chefe da Casa Militar da Presidência, garantia que seu “dispositivo” estava preparado para neutralizar o movimento. O presidente, no entanto, tinha dúvidas quanto à lealdade do general Amaury Kruel, comandante do Exército em São Paulo.
À tarde, os comandantes do Exército e da Polícia Militar em Minas Gerais confirmaram que suas tropas contra o governo Goulart também marchavam em direção ao Rio de Janeiro. A decisão do general Amaury Kruel, de São Paulo, só saiu à noite, depois de uma tensa conversa por telefone com o presidente. Amigos de longa dada, os dois ficaram em campos opostos.
Quando Kruel mandou seus homens para o Rio de Janeiro, as tropas de Mourão Filho permaneciam estacionadas na estrada. No Exército, apenas três generais resistiram ao golpe: Cunha Mello, Euryale Zerbini e Ladário Telles. À frente de tropas em defesa do governo, o general Cunha Mello tentou deter os homens de Mourão Filho. Quando as tropas se encontraram, a maioria dos “leais” ao governo passou para o lado da “revolução”.
A reação americana ao movimento desencadeado pelo general Mourão Filho foi rápida. Às 14 horas e 29 minutos do dia 31 de março, Washington avisou ao embaixador americano no Brasil que uma força-tarefa já havia partido para dar suporte ao golpe. Era a Operação Brother Sam, composta por um porta-aviões, quatro contratorpedeiros e dois cruzadores. A frota naval tinha ainda dois petroleiros, para o caso de começar a faltar combustível no Brasil.
Pela mesma mensagem, o embaixador Lincoln Gordon soube que suas “forças anti-Goulart” poderiam ser complementadas por “carregamento com cerca de 110 toneladas de munição leve, incluindo gás lacrimogêneo para controle de multidão”, além de seis aviões de carga, seis aviões de guerra e seis tanques. Dependendo do desenrolar da situação, esses equipamentos desembarcariam no prazo de 24 a 36 horas, no aeroporto de Campinas.
De seu rancho no Texas, o presidente dos Estados Unidos, Lyndon Johnson, tinha dado o sinal verde para a operação, ao receber um relato de George Ball, subsecretário de Estado, sobre a movimentação no Brasil. O telefonema, de 5 minutos e oito segundos, foi acompanhado pelo secretário adjunto para América Latina, Thomas Mann.
Ouça o telefonema em que o presidente dos Estados Unidos aprova o envio de uma tropa naval ao Brasil, para dar suporte ao golpe (clique na imagem):
Confira o despacho enviado pelo diplomata George Ball, de Washington, para Lincoln Gordon, embaixador americano no Brasil (clique na imagem):
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