A renovação do Dragão

Os participantes do colóquio
Os participantes do colóquio

Brasil e China. Duas nações continentais e distantes. De um lado, uma jovem democracia do Hemisfério Sul, expoente de uma cultura ocidental miscigenada que, na última década, ascendeu economicamente e voltou a ser tratada como “Gigante”. Do outro, o chamado “Dragão Asiático”, superpotência industrial, berço do maior contingente demográfico do mundo e um dos símbolos da milenar cultura oriental.

Mas o que pode haver de proximidade entre esses dois Países, além do fato de ambos integrarem o emergente bloco econômico que constitui o BRIC’s (também formado por Índia, África do Sul e Rússia)? Evidências de que a arte contemporânea dos dois países percorreram trajetórias similares, nas últimas décadas, puderam ser constatadas hoje pelos participantes do Colóquio China Arte Brasil, realizado na manhã desta sexta-feira, 04.04, no auditório da OCA, no Parque Ibirapuera.

O evento foi organizado pela revista ARTE!Brasileiros e teve mediação de Tereza de Arruda, brasileira que é curadora independente e historiadora de arte, e reside em Berlim desde 1989. Tereza também é colaboradora regular da ARTE!Brasileiros e veio ao País para a realização da mostra China Arte Brasil, na qual atua como cocuradora ao lado da chinesa Ma Lin, que também esteve presente no colóquio.

Ma Lin é professora associada na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Shanghai, na China, e também atua como curadora em seu país. Além dela, outros dois protagonistas da arte contemporânea chinesa estiveram presentes, os artistas plásticos Jin Jiangbo, que palestrou, e Lu Song, que acompanhou o colóquio, atento, da plateia. Para ampliar o espectro das discussões e os pontos de vista do debate, abriu o colóquio o diretor do Museu da Cidade de São Paulo, Afonso Luz, e também palestraram dois grandes colecionadores, com parte significativa de seus acervos dedicada a arte chinesa: Samir Sabet D’Acre, egípcio que fundou na Bélgica o East Art Fund, e Ernesto Esposito, renomado designer de sapatos, italiano, que despertou para o colecionismo ao tornar-se amigo do papa da pop art Andy Warhol.

Para Tereza, que mediou o colóquio, as similaridades entre a produção brasileira e a chinesa nas últimas três décadas são perceptíveis, sobretudo, pela trajetória sócio-política de ambas nações e não por afinidades estéticas. Os dois países experimentam saudáveis transformações: o Brasil, de maneira bem mais acentuada, após livrar-se da ditadura instaurada com o golpe civil-militar de 1964; a China, ao superar heranças negativas da Revolução Cultural de Mao Tsé-Tung, como o ambiente excessivamente repressor à criação artística, apesar de a mordaça ainda ser vigente. Basta lembrar que o maior destaque da mostra, Ai Weiwei, cumpre, hoje, prisão domiciliar e não pode sair do país. Mas, a exemplo de Weiwei, desde os anos 1990, os artistas chineses vem procurando driblar esse ambiente que tolhe perspectivas e tem procurado renovar a produção de arte contemporânea do país.

O impacto dessas transformações na produção chinesa, defendeu Tereza e os outros palestrantes, tornou-se evidente a partir dos anos 2000 e teve a fotografia com um dos suportes predominantes. No Brasil, embora nas duas décadas anteriores a produção tenha sido mais volumétrica, a ascensão de artistas no mercado internacional foi percebida, com maior expressão, nesse mesmo período em que despertou o Dragão Asiático.

A mostra China Arte Brasil será realizada na OCA, entre os dias 10 de abril e 18 de maio, com produção da G11, apoio do HSBC e do Ministério da Cultura. Serão expostas mais de 110 obras, inéditas no Brasil, de 62 artistas. Um retrato e tanto deste momento especial para a arte chinesa que merece ser prestigiado!    

Acesse o hotsite da mostra China Arte Brasil, saiba mais detalhes e conheça os artistas que participarão

 

 Confira a seguir alguns depoimentos dos palestrantes:

“Depois dos anos 2000, a arte contemporânea chinesa adotou pontos de vista muito diferentes e difíceis de serem percebidos. Há muitos artistas chineses influenciadas por conceitos de artistas ocidentais, mas também há outros que criticam essas criações ocidentalizadas. Algo bom, portanto, pois nesse processo de crítica, há também a oportunidade de fazer com que tais discussões deem continuidade aos pensamentos de todos, e eles continuem a transformar a arte contemporânea chinesa.”

Ma Lin, cocuradora da mostra China Arte Brasil e professora associada da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Shanghai

“Cheguei a São Paulo, vi as grandes concentrações de prédios, as áreas residenciais e percebi que, nesses aspectos, a cidade é parecida com algumas grandes cidades chinesas. Um amigo veio dizer que foi visitar uma casa de danças brasileiras e isso é algo que eu jamais poderia fazer em uma grande cidade chinesa. É por isso que quero aqui contar minha experiência como artista, mas também contribuir para que os brasileiros possam ter uma maior compreensão sobre nosso País e a arte chinesa. Somos uma sociedade em ressurgimento e é importante mostrar como o artista pode expressar, com suas ideias, essa nova sociedade.”

Jin Jiangbo, artista e professor da Universidade de Belas Artes de Shangai

“Durante muito tempo, a arte contemporânea chinesa foi esnobada, vista como marginal ou periférica. Comecei a me interessar por ela nos anos 1990, pois havia em muitos artistas chineses certo humor que não havia na geração da década anterior, quando a arte era mais politizada. E a arte não pode ser movida apenas pelo desejo de denúncia. Afinal, assim como a China, o Brasil, a América Latina e a Europa também sofreram com regimes totalitários. Na Itália nós tivemos Mussolini. Na Alemanha teve Hitler. E se fizéssemos apenas arte política, que muitas vezes encerra-se em seu próprio território, perderíamos a chance de verdadeiramente espelhar ou reproduzir o momento histórico.”

Ernesto Esposito, designer e colecionador

“Começamos nossa coleção com Warhol, Basquiat, Duchamp, sempre olhando formas de reunir nomes que expressam a arte de cada época. O interesse por artistas chineses veio no final dos anos 1990, início dos anos 2000, porque era muito interessante ver a revolução pela qual passava a China. Estive lá, pela primeira vez, em 1981, por conta de meus negócios. Naquela época, era praticamente impossível ver obras de arte contemporânea chinesa. Muito mais tarde, é que começaram a surgir novos artistas no mercado chinês. E logo ficamos impressionados com as fotografias e os vídeos que surgiam nesse período. Uma arte muito significativa, que demonstrava esse ambiente de abertura.”

Samir Sabet D’Acre, colecionador e fundador da East West Art Fund

Serviço – Exposição China Arte Brasil 
Oca – Parque Ibirapuera – Av. Pedro Álvares Cabral – Portão 3
(11) 3105-6118
De 10 de abril a 18 de maio
R$ 20


Comentários

Uma resposta para “A renovação do Dragão”

  1. Avatar de Palmira Jung
    Palmira Jung

    Boa Noite
    Preciso falar muito com a Patricia Rousseaux , se puder entrar em contato comigo pelo e-mail.
    Agradeço desde já
    abraços
    Palmira ( sou amiga da Marialí)

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