O dilema de Dilma na divisão do bolo

Não é que ela goste de fazer mistério e brincar de esconde-esconde com os repórteres que farejam os nomes dos ministros do novo governo. Para quem, como Dilma Rousseff, não tem experiência anterior nestas negociações do poder, na hora da divisão do bolo da vitória é mesmo um grande dilema montar o quebra-cabeças do seu ministério, com tantos partidos aliados e tantos apetites por cargos.

Mais do que ninguém, na solidão da Granja do Torto, a presidente eleita sabe que o destino do seu governo dependerá em grande parte das escolhas que fizer agora, nas poucas semanas que faltam para a posse -tanto em relação à qualidade profissional e à fidelidade política dos indicados para o seu ministério, como na correlação de forças do balaio de aliados, tendo que lidar com a voracidade do PMDB e a volubilidade dos partidos satélites.

Nas conversas que tive nesta quinta-feira durante as poucas horas que passei em Brasília, deu para perceber que ainda está tudo em aberto e ninguém tem certeza de nada, a não ser que Guido Mantega continuará na Fazenda, uma pedra cantada desde antes do primeiro turno em caso de vitória de Dilma.

Nem os mais próximos da ex-ministra arriscam palpites, não só por absoluta falta de informação, mas também porque ainda está tudo em aberto e pode mudar de uma hora para outra, assim como aconteceu na montagem do primeiro governo de Lula, quando o PMDB acabou ficando de fora poucos dias antes da posse, depois que parecia tudo acertado com a base aliada.

A crise vivida pelo governo Lula em 2005 comprovou que ninguém governa este país sem o PMDB, mas a aliança feita agora mostra mais uma vez que é muito difícil governar com o PMDB. A simples tentativa de formar um “blocão” fisiológico para mostrar força e assustar a presidente e o PT, que não durou mais de 24 horas, serviu para mostrar do que o partido-ônibus de Michel Temer é capaz.

A cada eleição, o enredo da novela da formação de um novo gabinete é sempre o mesmo. A palavra “crise” surge logo nos primeiros dias no noticiário quando a inevitável luta por espaços entre os vencedores e a ausência de definição dos nomes dos ministros estimulam especulações, cotoveladas, chutes e plantações de toda ordem.

Será que tem que ser mesmo sempre assim? Por que é tão importante para os partidos conquistar o maior número possível de ministérios? Para poder implantar suas políticas públicas e programas de governo? Ou será apenas, sejamos sinceros, para poder dispor de mais cargos e verbas, que é o que realmente interessa?

Para acabar com esta disputa insana que compromete qualquer governo antes mesmo de começar, só tem um jeito: uma ampla reforma político-partidária que reduza drasticamente o número de cargos de confiança no Governo Federal e de partidos no Congresso Nacional.

Em países mais desenvolvidos e civilizados, estes cargos não passam da casa de alguns poucos milhares; aqui, são muitas dezenas, centenas de milhares, uma verdadeira festa do caqui. O mesmo acontece com os partidos, que entre nós vicejam como as novas igrejas e os botequins da moda.

Qual é a chance disto um dia acontecer? A meu ver, nenhuma. Pela simples e boa razão de que só quem pode fazer a reforma política são os políticos, ora pois. E eles jamais abrirão mão dos seus privilégios, não irão cortar na carne, jogar contra o próprio patrimônio. Uma vez eleitos, os eleitores que se danem. Todo mundo só quer se arrumar ou se garantir.

É por isso que os aviões para Brasília voam sempre lotados de lobistas e candidatos a uma “posição” no novo governo. Pois é nestes dias que antecedem o Natal que se jogam as pedras no grande tabuleiro do poder. Juro que eu não gostaria de estar no lugar da presidente eleita. E você, caro leitor, o que faria no lugar dela?

Em tempo:

vocês podem encontrar no site www.sul21.com.br a entrevista que concedi ao repórter Felipe Prestes durante a Feira do Livro de Porto Alegre da qual participei no último final de semana.


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