Chicletes eu misturo com banana

Bebop no samba, tio Sam de pandeiro e zabumba, Miami com Copacabana, e por aí vai. Já faz tempo que o baiano visionário Gilberto Gil canta a antiga arte do remix. Mesma colagem que usou com convidados no show de abertura do 2º Fórum de Cultura Digital, realizado em São Paulo nesta semana. Na programação do evento, a cultura da recombinação também esteve em destaque. [nggallery id=14122] Uma das oficinas sobre o tema foi conduzida por DJ Tudo, na realidade um personagem criado pelo artista Alfredo Bello. Ele define o personagem como um viajante curioso, que cria sonoridades dançantes mixando e recriando músicas tradicionais do Brasil e do mundo.Depois de uma temporada discotecando em Nova York, Chicago e até no País Basco, DJ Tudo soltou o verbo no fórum, falou sobre sua história singular, marcada pelo “copiar e colar” e aproveitou para mostrar sua coleção maluca (no melhor sentido) de misturas musicais.Logo que começou a se interessar por cultura popular, na década de 1990, DJ Tudo conta que se lançou na estrada. Ao mesmo tempo em que mergulhava nos mais distantes rincões do País, ele começava a descobrir a cena musical eletrônica que surgia no Brasil e no mundo. “Apesar de distantes, sempre vi possibilidades de comunicação entre esses universos”, afirma.O primeiro CD, fruto dessas andanças, foi o Garrafada, lançado em 2008, pelo selo independente Mundo Melhor (www.selomundomelhor.org), relançado este ano em vinil. Nesse primeiro voo, o artista mistura no mesmo balaio, cultura tradicional brasileira e música contemporânea do mundo todo.Inquieto, decidiu avançar por novos caminhos, ou por outros quintais – como ele prefere chamar. Em 2009, aterrissou na Inglaterra para uma residência artística, onde entrou em contato com músicos de outros países. Da Europa se mandou pro Senegal.Depois, foi só juntar tudo e fazer um caldo que pode ser conferido em seu mais novo trabalho, Nos quintais do mundo, produzido entre 2002 e 2010. “É um disco de comunhão, de união afetiva e musical entre pessoas, países e culturas”, explica. Para ouvir, acesse aqui.Aos que tinham interesse em se iniciar no remix, DJ Tudo deu a receita. Na verdade, bastou contar os caminhos que trilhou para chegar a primeira e terceira faixa do seu novo CD. Resumindo a lista de ingredientes, tem afoxé, maracatu, berimbau, viola caipira, entre outros ritmos.Tudo incrementado com doses cavalares de guitarras, baixo, sax, trompetes e, lógico, muitas viagens, que vão de Recife a Dakar, com paradas eventuais em Lyon e Aracaju. O resultado está em Baque Forte, segundo ele, um legítimo “maracatu-ijexá”.O remix está na pura essência da cultura digital. Mas já borbulhava na cultura popular bem antes da internet e os recentes saltos tecnológicos. Um dos precursores do “copiar e colar” foi o escritor beat, Willian Burroughs, que na década de 1960 já fazia experiências nessa direção.Foi ele quem popularizou a técnica de remix cut up, cuja influência é sentida até hoje. Basicamente, consiste em escrever o texto, recortar, misturar tudo e depois reorganizar, segundo outra ordem, caótica e anárquica. Embora defensores dos velhos modelos de direitos autorais torçam o nariz, o remix ganha cada vez mais força entre artistas e conectados em geral.


Site oficial

Twitter
De baixo para cima


Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.