Muricy na decisão: vitória do caráter

No futebol, tem gente que é campeão por sorte e outros que deixam de ser por azar. Não é o caso dele. Pelo sexto ano consecutivo, mostrando que não depende de sorte nem de azar, o técnico Muricy Ramalho chega à rodada decisiva do Brasileirão em condições de levar o time treinado por ele ao título.

Até agora, ele conquistou o tri com o São Paulo (2006-7-8), e perdeu com o Internacional (naquele campeonato polêmico de 2005, vencido pelo Corinthians, com jogos anulados por causa do juiz ladrão) e o Palmeiras, no ano passado.

No caso de Muricy, qualquer que seja o resultado de domingo, além do reconhecido talento e da capacidade de trabalho do treinador, esta será a vitória do sujeito de caráter sobre a malandragem que impera no nosso futebol.

No ano em que São Paulo e Palmeiras entregaram jogos para se vingar do Corinthians, que fez a mesma coisa no ano passado, contra o Flamengo, Muricy teve a coragem de recusar o convite da CBF para assumir o comando da seleção brasileira e cumprir até o final seu contrato com o Fluminense – algo inédito na cultura do leve vantagem em tudo. Por ironia do destino, o beneficiário do vexame de São Paulo e Palmeiras foi o Fluminense e, o grande prejudicado, o Corinthians.

Se vencer e levantar o caneco de 2010, o que é o mais provável, pois o seu Fluminense vai pegar o já rebaixado Guarani jogando em casa, Muricy será tetracampeão brasileiro e terá todos os motivos do mundo para dar uma banana aos seus críticos, na imprensa e nos clubes, a começar pelos diretores do São Paulo que nunca se conformaram por não poder mandar no time enquanto ele era o treinador.

Feliz da vida nos vestiários depois do jogo de domingo, cansado de ver seu time perder um caminhão de gols até chegar à vitória, Muricy foi humilde ao falar do momento que está vivendo:

“Não pensei que estaríamos nesta situação. Temos que ser realistas. Há três anos esta equipe luta para não cair. Não sou exemplo para ninguém, a não ser para meus filhos, mas ninguém segura ninguém no futebol”.

Num campeonato brasileiro que não mostrou nenhum grande time e nenhum grande jogador, o grande destaque ficou fora do campo.


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