Belluzzo bom de bola

Estou eu no portão de entrada do Estádio Palestra Itália, à Rua Turiassu, na capital paulista. Vejo, pelas grades de ferro, verdes, é claro, o grande movimento lá dentro. E nem dia de jogo é. Os felizes palmeirenses vieram em peso votar em 75 dos mais de 200 conselheiros do clube.

Homens, rapazes e seus respectivos filhos formam grupinhos no pátio central, que de um lado leva ao ginásio de esportes e do outro ao estádio e ao prédio da diretoria.
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Dirijo-me ao porteiro meio coroa, baixinho, de olhos tristes.

“Sou da imprensa. Posso entrar?”

“Não”, diz ele, é claro, que outra resposta eu deveria esperar de um porteiro que está ali para não deixar ninguém entrar?

Nem dá tempo de eu retrucar. Uma voz ordena, bem atrás de mim:

“Entra, Solnik!”

Viro-me e confirmo: é Belluzzo (Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo), o novo presidente do Palmeiras.

O portão se abre, como num passe de mágica.

Entramos juntos. Logo de cara Belluzzo é cercado por torcedores das duas chapas. É um dando os parabéns pela eleição, outro quer um aperto de mão, o terceiro mostra um álbum, aquele outro quer que ele conheça seu filho.

A chuvinha fina obriga, alguém abre um guarda-chuva preto sob o qual Belluzzo se desloca. Eu e
Hélio Campos Mello, que tinha chegado antes da gente, rumamos atrás dele.

Cumprimentos se sucedem. Belluzzo encontra-se e engata papo com o ex-presidente Mustafá Contursi.

“Vamos conversar sobre a separação entre o futebol e o clube social. Vou telefonar pra você”, diz Belluzzo.

“Me dou muito bem com ele”, agrega, “o seu projeto é muito interessante.”

Gol do Real Potosi vira questão de estado

Entramos no minúsculo elevador que nos larga diretamente na sala do presidente propriamente dita.

Ao abrir a porta, Belluzzo conta uma história recente, ilustrativa de como a sua vida mudou desde a sua eleição.

“O Real Potosi tinha acabado de fazer o gol. Toca o telefone. Era o governador Serra. Eu atendo e ele fala assim: ‘O Potosi fez um gol!’ O que você quer que eu faça? Calma. Calma. ‘Eu estou viajando, tô de férias, vou com meu filho pra Europa e estou muito preocupado.”

“Você então prometeu que o Palmeiras ganharia de goleada?” chuto.

“O Palmeiras marcou o terceiro em seguida.”

“Ele ainda estava no telefone?”

“Não, já estava dentro do avião, não deu pra avisar.”

“Então ele viajou com esse grilo na cabeça?”

“Aí, no dia seguinte o que acontece? Eu abro o meu e-mail, o que é que tem lá? Um e-mail do governador. ‘Não é possível. Estou preocupado.’ “Foi cinco a um, respondi.”

“Ele não sabia ainda? Não tinha visto nenhum site”, me espanto.

É uma sala de estilo espartano: apenas duas mesas e algumas cadeiras e nenhum indício de luxo ou riqueza. Nenhum quadro de valor nas paredes.

Sentamos para conversar. Ao mesmo tempo em que Belluzzo se sente gratificado com os votos de sucesso, tapinhas nas costas e salamaleques, preocupa-o o fato de alguns o considerarem a solução mágica:

“Eu não sou a salvação da lavoura do Palmeiras”, avisa ele.

“Eu vi que o Willianms tinha qualidades”

“Como é que vocês conseguiram montar esse time?” começo, sem conseguir controlar meu coração palmeirense.

“Há três meses o Palmeiras era considerado o quarto elenco de São Paulo… diziam ‘o time do Luxemburgo não deu certo…’ Nós começamos a trabalhar para trazer as revelações do Campeonato Brasileiro…”

“Você vai atrás de jogadores, é olheiro?”

“O Williams, por exemplo, eu vi que tinha qualidades, enquanto todo mundo olhava o Marquinhos. Daí, falei para prestarem atenção nele, troquei idéias com o Cipullo (Gilberto Cipullo, vice-presidente do clube) e o trouxemos…. Cleiton Xavier jogava num time meia-boca, mas ele saía pra jogar, tem qualidades, chegou no time do Palmeiras, que tem Keirrison, Pierre, Edmilson atrás, o cara começou a brilhar….mas, cá entre nós, sabe como se chama o olheiro do Cleiton Xavier? Chama-se Dario Pereira. Não é nenhum bestalhão. Esse Williams, por exemplo. O Luxemburgo viu os primeiros treinos, falou: ‘esse cara tem uma dinâmica de jogo! Sai com velocidade’.”

“Você tem falado com o Luxemburgo? Vocês conversam?”

“Tenho. Ele disse antes de começar o campeonato que esse time é igual ao de 96.”

“Um cara que já era bom num time ruim, com uns caras bons ao lado dele, sai de baixo…”

“Foi isso que nós conversamos com a Traffic (empresa de marketing esportivo). Eles compraram o jogador. Se eles querem valorizar o jogador têm que colocar pra jogar num time bom. Se põem num time ruim ele não valoriza. Nossa relação com eles é muito boa.”

“Vocês compram meio a meio?”

“O Williams é meio a meio. Na verdade, nós temos a opção de compra, que vamos exercer.”

“Williams já recebeu propostas do exterior?”

“O pessoal do Manchester já veio consultar, mas agora não tá saindo muito negócio. O Barclay’s tirou patrocínio na Europa. Os bancos estão quebrados, quebrados.”

Mudanças à vista

O são-paulino Hélio Campos Mello pergunta por que Belluzzo resolveu ser presidente do Palmeiras.

“Primeiro, porque eu gosto de futebol. É uma coisa simples.”

“Você pode melhorar as coisas?” insiste Hélio.

“O Palmeiras tem uma situação financeira muito melhor que a da média dos clubes. Não vou falar dos outros.”

Brasileiros apurou que a pior situação é a do Flamengo, com dívida de R$ 300 milhões. Depois vem o Vasco. A do Palmeiras está em R$ 37 milhões.

“Estamos aumentando a receita. O patrocínio da camisa, que quando nós chegamos era de R$ 5 milhões, agora com a Samsung chegamos a R$ 15 milhões e o material esportivo, fornecimento de material mais bônus, chega a uns R$ 15 milhões.”

“Bônus?”

“Bônus é quando o time ganha campeonatos. A Adidas e a Nike dão, como a Samsung também dá. Você aumenta a visibilidade da marca, daí o prêmio. Tem a história da arena, vai começar no segundo semestre a construção. Arena para nós é um projeto central, porque a gente vai deixar de gastar com a manutenção do Palestra Itália que custa R$ 8 milhões por ano e vamos ter participação na renda líquida, e essa renda vai pro futebol.”

“Na Veja de 18/2 uma notinha afirma que Palmeiras e Corinthians estão unidos contra o São Paulo e por isso resolveram jogar o clássico de 8 de março em Presidente Prudente.”

“De onde eles tiraram isso? Fizemos acordo em Presidente Prudente pelo seguinte: a prefeitura não vai cobrar taxa, vai dar hospedagem, transporte, nós vamos dividir o estádio meio a meio. Nós fomos para lá não por causa do São Paulo, mas porque dá mais dinheiro.”

Belluzzo atende o celular e informa:

“O Serra quer assistir ao jogo junto comigo.”

Sem paletó, não entra

Entramos no Corolla em direção ao estádio do Pacaembu, sob a direção de Wagner, o motorista de Belluzzo, que não é um motorista igual aos outros, por Belluzzo não ser um patrão como os outros. Belluzzo é mestre na relação com os funcionários, jamais impondo-se por seu status.

Descemos em frente ao portão 16. Belluzzo é reconhecido por um palmeirense, que o cumprimenta com entusiasmo.

Ao avançarmos em direção à tribuna de honra, Belluzzo confessa:

“Tenho trauma de porteiro. Eles têm uma tendência a serem autoritários.”

Na porta de entrada da tribuna, o trauma de Belluzzo se confirma. Dois de seus convidados não podem entrar porque não estão com “roupa social”. Ou seja: paletó. O presidente, no entanto, não comenta a decisão do porteiro, que promete acomodar seus convidados na tribuna ao lado. De qualquer forma, uma tribuna.

Acompanhantes ilustres

Com três fileiras de confortáveis poltronas e serviço de bordo – sorvete, cachorro-quente, pernil, refrigerantes – a tribuna de honra estava em baixa temperatura. Soninha, que é subprefeita da Lapa, reclama de frio. Marcos Vinicius Petreluzzi, secretário de Segurança de Geraldo Alckmin, pede a um funcionário para aumentar os graus do termostato. Soninha agradece.

Acompanhado por quatro pessoas, dentre as quais o secretário José Luis Portella, o governador chega quando o jogo com o Paulista está prestes a começar.

Logo que se acomoda ao lado de Belluzzo, queixa-se em voz alta:

“Com este vidro na nossa frente não dá pra ouvir a torcida!”

É realmente estranho. É como assistir futebol de dentro de um aquário.

Belluzzo também reclama:

“É pior do que ver em casa pela TV.”

Visivelmente contrariado, o governador promete conversar a respeito com seu fiel amigo Walter Feldman, à cuja secretaria municipal o Pacaembu está subordinado.

O jogo não tem a menor importância. O estádio está quase vazio. O Palmeiras entrou com o time misto. Ainda assim, Soninha torce com empolgação, e em altos berros.

O filho de 7 anos do secretário Alexandre Moraes dá uma dura na inflamada palmeirense:

“Dá pra gritar um pouco mais baixo?”

Ela não dá o braço a torcer e, mantendo a simpatia, argumenta:

“Não dá, não. Futebol é assim.”

Belluzzo comenta os lances com elegância e educação sem deixar, no entanto, de criticar alguns jogadores. Não direi quais nem sob tortura. A respeito de um deles, a quem é atribuído um alto QI, comenta com o governador:

“Prefiro jogador burro e goleador a inteligente e grosso.”

O governador concentra-se no jogo, reclama de um lance ou outro e repetidamente pergunta aos mais próximos:

“Luiz, quem é este?”. “Sonia, quem é aquele?”

O governador trata Belluzzo de Luiz e Soninha de Sonia.

A vice-prefeita Alda Marco Antonio não se contém quando o goleiro Marcos leva um chute no rosto:

“Isso foi maldade!”

Quando Belluzzo é saudado por alguns torcedores, o governador sopra no seu ouvido:

“Agora que o time está ganhando eles te saúdam. Mas se prepare para os tempos de vacas magras.”

Belluzzo no governo, Serra no Palmeiras

Peço para Serra dizer o que achou de Belluzzo ter sido indicado para presidir o Palmeiras.

“É uma ótima indicação”, diz o governador.

“Você esperava ver no Palmeiras um intelectual como ele?”

“O Belluzzo é um intelectual, mas é um palmeirense de coração, que tem habilidade executiva, não é um intelectual puro. Nesse sentido, é uma combinação excelente. Ele é um fato novo, os cartolas são toscos. Ele tem experiência política, é um palmeirense de coração, tem boa bagagem intelectual e é um homem prático. Acho que é a receita ideal.”

“Você acha que o Palmeiras agora, além de ter o melhor time, tem também o melhor presidente?”

“Como?”

“Além de termos o melhor time, temos o melhor presidente?”

“Não, eu não vou comparar com outros times, não vou fazer juízo sobre os times. Mas o Palmeiras está bem. É um bom começo.”

“Eu até falei pro Belluzzo: em 2010, ele poderia ir pro governo e você para a presidência do Palmeiras. O que você acha?”

“Não é má idéia” responde Serra, que tem fama de mal-humorado, mas não o é.

Falo com Soninha, depois de ela terminar um cachorro-quente e um chicabon:

“Belluzzo no Palmeiras…”

“Obama nos Estados Unidos! O mundo está mudando. Quem podia imaginar, primeiro, que o professor ia se dispor a isso. Porque muita gente já queria Belluzzo presidente há muito tempo e ele, por várias razões, não se dispôs. Que bom que desta vez ele se dispôs, e deu certo, é incrível, é um cenário tão diferente, muito alentador, yes, we can.”

Contrariando o habitual, Belluzzo não desce ao vestiário para falar com os jogadores e com Wanderley. Depois de responder a algumas perguntas de repórteres da Rádio Tupi, deixa o estádio, despede-se de Serra e de Soninha – e cada um deles desaparece no seu carro oficial.

Em frente ao Palestra Itália nos despedimos. Belluzzo precisa voltar ao recinto da votação. Marcamos um novo encontro para o dia seguinte, domingo, às 11 da manhã.

Keirrison ou Kleber?

A maior atração do apartamento de Belluzzo é uma nova máquina de fazer café, pilotada com maestria por Walter, que não é bem um mordomo, mas é.

“Sou de Alagoas” se apresenta “a terra de PC Farias.”

Uma de suas tarefas é higienizar a biblioteca do patrão, totalmente catalogada por uma bibliotecária profissional.

Belluzzo aparece na hora aprazada, com a elegância e simpatia habituais.

“O Keirrison saiu mais barato que o Kleber?” pergunto.

“Saiu bem mais barato. Claro que a torcida do Palmeiras ficou fixada no Kleber porque no segundo semestre ele foi o único jogador que na verdade se entregou ao trabalho de jogar, porque o resto do time se acomodou muito. Eu entendo. Mas o dirigente tem que explicar à torcida que ela não pode se fixar num jogador só, porque futebol é uma equipe. É claro que o futebol é o mais individualista dos esportes coletivos porque de repente jogadores começam a perder a perspectiva que o jogo é coletivo e acabam estragando seu próprio desempenho, isso no futebol é muito comum.”

“Quanto vale o time do Palmeiras?”

“O preço do jogador é como o preço de um ativo: varia muito conforme as expectativas a respeito do seu desempenho.”

“Como se estabelece o preço de um jogador?”

“Não tem um mercado organizado pra jogador, é um mercado de balcão. É muito mais parecido com um mercado de artes do que com um mercado de ativos. Tem alguns parâmetros: é claro que goleiro vale menos que atacante, é claro que atacante goleador vale mais que o atacante que é mais um garçom. Mas no momento o que se tem é uma retração geral. A Rússia, que começou a aparecer como uma grande compradora não está lá muito bem das pernas. Quanto aos times ingleses, os bilionários que pintaram por lá estão mais para diminuir despesas que pra aumentar gastos com jogadores. Então eu acho que vamos passar pelo menos um ano em que as transações, se forem feitas, o serão por um valor menor do que vinha sendo feito. O mercado daqui a dois, três anos, talvez até menos, vai se recuperar. Hoje não é hora de vender jogador. Um jogador como Keirrison certamente vai ter oferta, mas certamente abaixo daquilo que ele valeria caso o mercado estivesse aquecido.”

“Quanto ele vale?”

Acho que em condições normais Keirrison é um jogador para 25 milhões de euros. É um jogador muito raro, especial, tem categoria, inteligência, é um menino bem equilibrado, disciplinado, acho que ele se daria bem em times europeus. Mas em condições normais.”

“E quanto a Traffic gastou?”

“Se não estou enganado, R$ 6 milhões. O Palmeiras tem uma participação de 20% sobre o lucro na venda do jogador e desta vez o lucro vai ser grosso.”

“O Cleiton Xavier veio por quanto?”

“Não sei exatamente por quanto, mas por menos do que Keirrison. Tem um pouco mais de idade, 25 anos, mas é um jogador clássico, que ajuda muito na marcação.”

“Quem o achou?”

“Eu tenho um amigo palmeirense chamado Marco Borin, nós assistimos jogos da série B, série A, nós vemos tudo. E esse Cleiton Xavier, nós começamos a observá-lo e vimos que ele estava jogando num time mais modesto, que acabou caindo, mas era um jogador muito interessante, pela qualidade do passe. Num time qualificado como o Palmeiras e com um técnico como Luxemburgo, ele subiu. Na verdade era um segredo de Polichinelo, tô dizendo que eu e o Borin vimos o jogo, mas o Wanderley, os técnicos estão acostumados com esse tipo de avaliação, viram nele um jogador promissor. A torcida torceu um pouco o nariz pra ele porque torcedor é muito raro aquele que observa o jogo, ele está mais ligado na aparência do jogo, não vê o jogo na sua essência.”

“Você faz isso há muito tempo?”

“Ah, sim, eu me interesso por futebol, me interesso pelo jogo em si, o resto é muito chato, eu vou ter que topar essa coisa chata também, mas o que interessa é o jogo de futebol e eu sempre, modéstia à parte, tive um olho bastante apurado para ver jogador. Por exemplo, o menino Souza, no primeiro tempo do jogo de ontem, mostrou qualidades. No segundo tempo, caiu. Mas é um menino.Tem outros – não vou citar nomes – você vê que o cara se esforça mas falta habilidade, inteligência, futebol é um jogo que não dispensa inteligência, tem jogadores que nunca vão sair de um determinado patamar porque falta aquela inteligência, aquela intuição espacial que o bom jogador tem. Você vê aquele gol do Palmeiras ontem. O Lenny ontem não fez uma grande partida, mas fez uma jogada definitiva, matou o jogo. Então, você vê que é um jogador que alguma hora vai fazer uma jogada que vai matar o adversário. Eu sempre faço a distinção entre o foca, que faz malabarismo com a bola, e o grande jogador de futebol. O foca é engraçado… aliás, é gozado que o Ronaldinho está ficando mais para foca do que para grande jogador que ele era.”

“Você conversa com os jogadores?”

“Eu vou ao vestiário, sou muito amistoso com eles, gosto de bater papo, mas eles às vezes se sentem um pouco constrangidos, não sabem bem o que falar, negócio de cartola eles têm um pé atrás. Ontem eu não pude ir ao vestiário porque eu tinha que voltar ao Palmeiras, mas eu iria ao vestiário.”

“O que os teus amigos acharam de você ser presidente do Palmeiras?”

“Meus amigos? Meus amigos, depende…O Lula, que é corintiano… O Lula… a única frase que ele usou foi que eu não tinha temperamento para ser presidente de clube, porque eu sou afável demais, ele não tem uma visão muito favorável.”

“Deve ser ciúme, no fundo o que ele queria é que você fosse presidente do Corinthians, vai ver…”

“Não, principalmente quando meus amigos falam pra mim diretamente, por exemplo, o João Manoel diz que ‘não tinha jeito, eu tinha que aceitar’, e eu sou sócio dele. Ele e outros amigos me apóiam muito, mas eu sei que por trás eles dizem: esse cara é louco! O João Manoel, que é corintiano… O Coxa (Eduardo Rocha Azevedo), que é são-paulino, disse ‘é melhor você ser presidente do Palmeiras do que presidente do Banco Central’.”

“Você ficou nesse dilema?”

“Não. E por trás: ele é louco. Com as minhas ex que são legais já foi diferente. No primeiro momento, disseram ‘não se meta nisso, eu torço pra você perder…’ mas depois elas apoiaram. Termina o jogo, elas mandam torpedo, telefonam. Com o que eu fico mais impressionado é com o peso que esse cargo tem na sociedade. Impressionante, é uma coisa de louco a expectativa que as pessoas jogam em cima do futebol, é uma coisa muito importante na vida delas, não só o fato de ganhar, mas o clube bem dirigido, que o clube tenha uma boa representação na sociedade, não gostam quando o clube aparece de forma negativa. Não é fácil levar isso adiante porque o meio de futebol é um meio muito complicado, as pessoas em geral jogam baixo. Foi uma coisa impressionante essa mudança.”

“Quando eu virei presidente percebi a importância disso.”

“Belluzzo, eu te conheço há muito tempo, trabalhamos durante muitos anos na IstoÉ, mas eu nunca desconfiei que você era tão ligado ao futebol.”

“Vou te mostrar uma coisa.”

Belluzzo pede para Walter procurar uma determinada foto, sem me dizer que foto é.

“Você com a camisa do Palmeiras?” arrisco.

Walter desembrulha e estende a Belluzzo uma foto em branco e preto dentro de uma moldura, a foto de um time de futebol.

“Esse é o Buscapé Futebol Clube, no qual eu era o centroavante. Veja se você me acha.”

“Centroavante… Deve ser alguém agachado.”

“Este aqui sou eu”, aponta ele.

“Com esse topete todo!” exclamo. “Bonitão.”

Walter entra no papo:

“Tem uma foto dele em que ele parece artista de cinema.”

Buscapé era um time da Associação Atletica Acadêmica 11 de Agosto, da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, onde eu estudava. Essa foto é de 1964. Eu sou de 1942. Jogamos em muitos campos de várzea por toda a cidade: no Nacional, no Flamengo da Vila Maria, na várzea do Sumaré.”

“E você marcava muitos gols?”

era o goleador do time e era um time vitorioso. Como este Palmeiras de 2009.”

O Palestra ou a Palestra, eis a questão

Não é verdade que em matéria de palestras, o economista Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo só quer saber agora de Palestra Itália. Tanto é que já marcou uma na Casa do Saber, em São Paulo, focada na revista Carta Capital, que dirige e mantém em sociedade com Mino Carta.

Além de dar aulas lá todas as quartas-feiras, é um dos donos da Faculdade de Campinas (Facamp), ao lado de Eduardo Rocha Azevedo (o Coxa) e de João Manoel Cardoso de Mello, seu amigo do peito há décadas, e em companhia de quem (e de Pérsio Arida, João Sayad, André Lara Resende) elaborou o Plano Cruzado, durante o

governo Sarney, do qual foi secretário de Política Econômica, assessorando diretamente o ministro da Fazenda, Dílson Funaro.

Belluzzo ainda faz parte do conselho da BMF (Bolsa de Mercadorias & Futuros), da JHFS e da Lupatec. E assessora informalmente o presidente Lula e o presidente do Senado, José Sarney.

Não recebe salário como presidente do Palmeiras. Mas não se queixa:

“Tenho vantagem de ser aposentado pela Unicamp, daria para sobreviver só com o que recebo. O salário de professor não é assim tão ruim como as pessoas dizem, é bem razoável.”

LEIA MAIS ALEX SOLNIK

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