JunhoAos 87 anos de idade, o escritor português José Saramago faleceu, vítima de leucemia. Prêmio Nobel de Literatura em 1998, o primeiro concedido a um escritor de língua portuguesa, Saramago foi um dos grandes nomes da literatura contemporânea. O editor especial da Brasileiros Alex Solnik, revelou encontro com o escritor português, nos anos 1980. Uma homenagem a um nome fundamental da cultura ocidental.
Eu tinha uma reunião marcada esta manhã com o Pascoal Soto. Mas, ao chegar ao encontro, na Editora Leya, ele tinha acabado de receber a notícia da morte de José Saramago e a atender aos primeiros jornalistas, pois há três semanas publicou a única biografia sobre o único Nobel em português.”Não a biografia ideal, mas a possível”, disse-me ele, dado o estado de saúde já precário do biografado. Em poucos minutos, ainda esta manhã, 11 mil exemplares de Saramago-biografia se esgotaram. Uma edição extra de 50 mil está a caminho.Eu conheci Saramago em uma das festas que Ruth Escobar costumava oferecer à inteligentsia paulista em sua casa do Pacaembu. Fernando Henrique, Cláudio Abramo, José Serra, Franco Montoro eram convivas frequentes. Ali se conspirava, é claro, contra a ditadura militar. Corriam os anos 1980, pré-Diretas, Saramago fazia parte da turma. Me lembro de que o atraíam demais as convidadas da Ruth, em sua maioria atrizes. Posso vê-lo ainda agora segurando um copo de vinho tinto português, a prestar atenção ou a conversar com alta dose de ironia, sempre, com uma bela mulher. Já tinha a mesma cara com a qual recebeu o Nobel, em 1998, que foi um divisor de águas. Pela primeira vez, a língua portuguesa fora reconhecida internacionalmente. Nem Camões, nem Fernando Pessoa, com toda a fama que viveram, tinham conseguido tal feito.Saramago ficará conhecido também por ter sido um dos poucos escritores a discutir (e até condenar!) Deus e as religiões, retirando essa questão do campo místico para o da Literatura. E tentando fazer com que os pobres mortais abrissem os olhos e constatassem que Deus nada mais é do que criação da mente humana.Das 33 obras que deixou, e a 34ª inacabada Espingardas, espingardas!, as mais polêmicas são O Evangelho Segundo Jesus Cristo, proibida em Portugal e motivo de seu exílio na Espanha, onde morreu; Ensaio Sobre a Cegueira; e Caim. Foi-se embora sem resolver as questões que propôs, como, aliás, ocorreu com todos os que já foram, nunca a vida é bastante para terminarmos com tudo resolvido.No ano passado, deixou registrada, em entrevista ao jornal espanhol El País, uma de suas últimas frases: “A morte é a inventora de Deus”.
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