Julho
Outra personalidade da música brasileira que nos deixou em 2010 foi o maestro, clarinetista e saxofonista Paulo Moura. Com quase 80 anos de idade, ele lutou contra um câncer no sistema linfático por anos, mas não resistiu. Deixa um legado importantíssimo para a MPB. Ao longo de mais de 60 anos de carreira, Moura lançou 40 álbuns, muitos essenciais para a música instrumental do País, como Paulo Moura Interpreta Radamés Gnattali (1959), Paulo Moura Hepteto (1968), Fibra (1971) e Confusão Urbana, Suburbana e Rural, de 1976. Um grande músico brasileiro.


Às vésperas de completar 78 anos, o maestro, clarinetista e saxofonista Paulo Moura faleceu na segunda-feira (12), no Rio de Janeiro, após lutar contra um câncer no sistema linfático. Nascido em 15 de julho de 1932, Moura cresceu em uma família de dez irmãos, cujo pai, Pedro Moura, marceneiro e músico amador, dedicava-se ao saxofone e a clarineta para entreter os bailes dançantes das comunidades negras.

A paixão pela música e a preocupação do patriarca de que os filhos fossem convocados para a Segunda Guerra Mundial, acabou influenciando a maioria deles a seguirem o rumo recomendado. Na astuta visão de Pedro, caso fossem convocados, integrariam a banda do exército em vez de irem para os campos de batalha. A família reunia baterista, trombonista, trompetista, três saxofonistas e uma pianista, mas o exército musical do clã dos Moura, encontrou no caçula Paulo um verdadeiro líder. Aos nove anos, ele ganhou sua primeira clarineta, iniciou os estudos de piano e, logo, se apaixonaria também pelo saxofone. A partir daí, o menino empreenderia uma fascinante história em nossa música instrumental.

Samba do avião: do Rio para o mundo
Músico requisitado nos tempos áureos da Rádio Nacional, Moura também soprou com maestria sua clarineta no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, onde atuou sob regência de nomes como Leonard Bernstein e Igor Stravinsky. Na indústria fonográfica desde 1951, quando assinou seu primeiro contrato com a Odeon, envolveu-se com maestros do calibre de Lyrio Panicali, Guerra Peixe, Cipó, Radamés Gnattali e Moacir Santos, de quem foi um dos mais determinados discípulos.

Outro grande marco da carreira de Moura foi a participação na mitológica noite da bossa nova – no Carnegie Hall, em Nova York, em 1962 -, período em que integrava o mítico sexteto Bossa Rio, de Sérgio Mendes. O grupo reunia feras como o baixista Tião Neto, o baterista Edison Machado, o trombonista Raul de Souza, e surgiu nas noites de boemia no Beco das Garrafas, na Rua Duvivier, em Ipanema, ponto de encontro de Moura com os amigos. Obcecado pela música, ele ainda estendia por horas, em longas jams instrumentais, a extenuante rotina diária no Municipal e nos estúdios da TV Excelsior. Além da participação no Carnegie Hall, a ida à Nova York ainda rendeu o convite para o Bossa Rio gravar um antológico álbum com o saxofonista Cannonball Adderley, intitulado Cannonball Adderley & The Bossa Rio Sextet of Brazil. Um clássico desse período de grande flerte da música brasileira com o melhor jazz produzido na América.

Fechado para balanço
Paulo Moura parte deixando um legado invejável. Ao longo de mais de 60 anos de carreira profissional, lançou 40 álbuns, muitos deles essenciais para nossa música instrumental, como Paulo Moura Interpreta Radamés Gnattali (1959), Paulo Moura Hepteto (1968), Fibra (1971) e Confusão Urbana, Suburbana e Rural, de 1976. Em 2000, o maestro venceu um Grammy Latino e sua legião de admiradores, mundo a fora, não para de crescer. Em 2009, em plena atividade, levou sua música a locais tão distintos quanto a Tunísia e o Equador.

Celebrado por misturar ritmos afro-brasileiros, com a tradição do west coast jazz, o hard-bop, o samba, a bossa nova, o choro, Paulo Moura vai ser lembrado pela excelência e a intensa dedicação em cada trabalho. No último sábado, ao lado da mulher Halina, o filho Domingos, o sobrinho Gabriel e o grande parceiro Wagner Tiso, ele tocou sua clarineta pela última vez. Doce de Coco, de Jacob do Bandolim e Hermínio Bello de Carvalho, foi o canto do cisne do mestre. Carioca de coração e paulistano de São José do Rio Preto, Moura será velado, a partir das 11h de amanhã (14), no Teatro Carlos Gomes, no Rio de Janeiro. A data do enterro ainda não foi confirmada.

Saravá, Paulo Moura.

Paulo Moura: testemunha ocular


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