Casar na praia gera um bom negócio

SÃO SEBASTIÃO – Nem sei se dá sorte, mas casar na praia tem rendido bons negócios para os donos de pousadas e restaurantes em São Sebastião, no litoral norte, a 200 quilômetros de São Paulo. A onda começou por acaso, em 2005, no Toque Toque Pequeno, e logo se alastrou por outras praias.

Um peruano e uma brasileira, namorados que frequentavam o Barracuda, um bar-restaurante plantado na areia, diante de um marzão quase sempre azul, perguntaram ao dono se não poderiam fazer ali a sua festa de casamento. Renato Krunfli, 49 anos, o dono, mais conhecido por Cotô, nunca tinha pensado nisso, mas topou na hora.

Velho lobo de beira de praia, do tempo em que os hippies paulistanos acampavam na beira do mar, Cotô ia levando aos trancos e barrancos o bar que abriu em 1998, até descobrir o novo nicho de mercado, hoje sua principal fonte de renda. Ano a ano, foi crescendo o número de casamentos tendo o mar por testemunha. Foram 12, em 2010, e já tem 18 agendados para este ano.

Cada novo casal mobiliza cerca de 200 convidados e outras 100 pessoas que trabalham na organização do evento, entre decoradores, músicos, cabeleireiros, motoristas, cozinheiros, garçons, seguranças, etc. Como Toque Toque Pequeno fica a umas três horas de carro de São Paulo, este mundo de gente precisa dormir e se alimentar por perto, gerando uma nova fonte de renda para os comerciantes de São Sebastião, na safra casamenteira, que vai de abril a novembro, exatamente na baixa temporada.

Um dos beneficiados pelo movimento nupcial foi o casal José Roberto de Lara e Cristiane Lara de Oliveira, donos do restaurante Pimenta de Cheiro, um sucesso há duas temporadas. Nos dias em que tem casamento, Cotô fecha seu restaurante e a freguesia fica toda para eles, os únicos concorrentes naquela praia tranquila, sem prédios e sem muvuca.

Aberto no final de 2009, o Pimenta de Cheiro já conquistou a própria freguesia, no boca a boca, graças à sua muqueca de frutos do mar e à excelente caldeirada caiçara. Os dois pratos valem uma viagem. No começo, eram só os dois fazendo tudo, mas agora eles já têm 12 funcionários, para servir cerca de 80 refeições por dia, nos finais de semana, durante a temporada. Entre comes e bebes, um casal não gasta mais de 80 reais num almoço completo.

Casar sai mais caro: Cotô calcula entre 50 e 150 mil reais o custo do evento. Apesar da despesa, a moda se alastrou pelas praias vizinhas – Maresias, Boiçucanga, Juqueí, Camburi. A região chega a celebrar até 10 casamentos num fim de semana. A beleza do cenário está atraindo agora pombinhos estrangeiros: para 2011, o Barracuda já tem marcadas as festas de dois casais espanhóis, um francês, um americano e um da África do Sul, que descobriram o paraiso pela internet. “O Barracuda virou referência”, orgulha-se meu velho amigo, sempre de celular na mão à beira do mar.

Para saber se dá sorte, só casando lá, quer dizer, aqui no Toque Toque Pequeno, para onde voltei nesta quinta-feira, depois de um longo e tenebroso inverno. Sempre é bom começar o ano nesta praia, que frequento faz mais de dez anos. Neste meio tempo, já vi e ouvi de tudo, cara quebrando e enricando de novo, casando e descasando, comprando e vendendo casa e barco, abrindo e fechando bar, bons amigos voltando e gente que não presta chegando. Assim é a vida, vida que segue.


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