Secretário projeta crescimento sustentável

O Brasil está entrando em um novo ciclo de crescimento sustentável ao mesmo tempo em que a economia internacional entra em um processo de recuperação. A tese foi defendida pelo secretário de política econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland de Brito, durante o seminário “Rumos da Economia – O que Fizemos e o que Precisamos Fazer”, organizado pela Brasileiros.

O secretário citou números do Fundo Monetário Internacional (FMI) para justificar seus argumentos. Segundo o Fundo, a economia mundial vai crescer em média 3,6% este ano, com expansão de parte das economias avançadas, entre as quais os Estados Unidos e com a saída da Europa de seu crescimento negativo. O crescimento previsto para as economias maduras é de 2,2%, depois de ter crescido 1,3% em 2013.

Um dos sinais de recuperação é a volta do crescimento do comércio internacional, previsto em 4,3% pelo FMI. Para Holland, não se justifica a ideia de que o novo ciclo seria puxado por economias avançadas, porque as maiores oportunidades permanecem nos países emergentes. Segundo ele, as economias avançadas estão passando apenas por uma normalização. Além de sua própria expansão, os emergentes vão se beneficiar do crescimento dos países ricos. Segundo o secretário, cada ponto de crescimento do PIB nas economias ricas acrescenta 0,3 ponto no crescimento dos emergentes.

A exemplo do que disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega, na primeira parte do seminário, Holland defendeu a ideia de que o Brasil passou muito bem pela crise internacional, instalada em 2008. Ele lembrou que a desigualdade social caiu com aumento da renda. Nos cinco anos de crise, a taxa de desemprego do país recuou de aproximadamente 9% para 5,1%.

De acordo com o secretário, o ciclo do crescimento dos próximos dez anos será orientado pela introdução de um drive importante, o investimento em infraestrutura, cujo fator multiplicador indica que a cada real investido agrega R$ 3,00 ao Produto Interno Bruto (PIB). Holland citou estimativas segundo as quais o país terá mais de R$ 1 trilhão em investimentos em infraestrutura nos próximos dez anos. Somente as concessões de portos, aeroportos, ferrovias e rodovias devem receber investimentos em torno de R$ 680 milhões nos próximos cinco anos. O secretário previu que a taxa de investimento, que em 2013 foi de 6,3% do PIB, deve passar para 7% do PIB em média nos próximos anos. 

Doponto de vista da demanda, o crescimento econômico decorre do processo de inclusão social do país, disse Renato Meirelles, presidente do Data Popular. Ele citou dados levantados pelo instituto mostrando que a renda dos 25% mais pobres do País cresceu mais que no restante da sociedade. A expansão foi de 44,9%, enquanto a porção de 25% mais ricos registrou ganhos de 12,8%. Isso foi possível graças à criação de perto de 20 milhões de empregos formais em uma década e do processo de distribuição de renda que levou cerca de 40 milhões de pessoas para a classe média.

A chegada desse contingente ao consumo fez com que a classe C fosse capaz de movimentar R$ 1,17 trilhão em 2013. Se fosse um país, disse Meirelles, a classe média brasileira seria o 12º em população e o 18º em riqueza pelo critério de poder da paridade de compra. “Comporia, portanto, o G-20 mundial”, comparou. Embora a renda dessa nova classe média varie entre R$ 320 a R$ 1.120 per capita ao mês, a classe média brasileira, segundo cálculos do Data Popular, tem mais renda que 54% da população mundial.

Segundo Meirelles, “o Brasil mudou e vai continuar mudando”, mas essa mudança traz desafios como o controle da contínuo da inflação e a manutenção de uma política de aumento real da renda, em especial do salário mínimo.

Para , economista-chefe do Bradesco, esse crescimento da renda foi um fenômeno “datado” e que, daqui para frente, não crescerá mais no mesmo ritmo. Ele fez um paralelo entre a distribuição de renda e a expansão da bancarização na sociedade brasileira, cuja expansão também será limitada ao crescimento vegetativo. Barros insistiu na necessidade de se rever a política de expansão do salário mínimo, antes que ele se torne “um salário médio”.

O economista-chefe do Bradesco afirmou que a ascensão social proporcionou “novas demandas subjacentes”, inclusive demandas “por voz e participação” e, citando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, afirmou que o País vive uma migração da quantidade para a qualidade.

Para Octavio de Barros, o governo eleito este ano, qualquer que seja, não deve “desprezar a confiança dos mercados”. Segundo ele seria necessário conceder independência formal ao Banco Central, que hoje, mesmo agindo de forma autônoma, é obrigado a fazer uma política monetária mais restrita para compensar a falta de independência formal e a desconfiança que isso provoca. Ele também defendeu a criação de uma lei que limite o gasto público com custeio em uma percentagem do PIB.

Caio Megale, economista do Itaú, afirmou que os desafios para o futuro são melhorar a taxa de investimentos, hoje em torno de 18% do PIB. Ele citou a situação de Colômbia e Peru, que há dez anos tinham taxas de investimentos semelhantes ao Brasil e hoje investem respectivamente 25% e 28% do PIB. Segundo ele, o setor privado tem um trabalho grande a fazer, além do que já fez, para se tornar mais eficiente. “Melhorar a produtividade não é tarefa só do governo”.

 O empresário Joesley Mendonça Batista, presidente da J&F investimentos, disse que o que o setor privado espera do próximo governo é “um norte claro, a regra do jogo” para alavancar os investimentos. Ele afirmou que a produtividade brasileira tem muito a melhorar, inclusive nos aspectos institucionais – burocracia, judiciário, tributação –, mas relativizou a questão ao dizer que, pelo menos na produção de proteína animal, uma das principais da J&F, o país tem desempenho muito superior ao de outros emergentes, como a China, onde a holding possui uma planta frigorífica.

O assessor da presidência do BNDES e professor da FGV Ernesto Lozardo rebateu as críticas sobre a economia brasileira. Segundo ele, o país não se encontra preso na armadilha do crescimento. Ao contrário. As economias ricas é que estão mais pobres e com mais incertezas. Segundo ele, o principal desafio do País é manter as conquistas e avançar na direção de um país de renda média, acima de US$ 2 mil per capita por mês.


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