Se formos chamados de País dos sem-telas, não dá nem pra reclamar. No Brasil, somente 9% dos municípios possuem salas de cinema. É muito pouco. Por acaso, ou não, uma dessas cidades sem cinema recebe o festival que abre o calendário audiovisual brasileiro de 2011: a 14ª Mostra de Cinema de Tiradentes, que começa hoje e segue até o próximo dia 29.
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Apesar das estatísticas ainda pesarem contra, na pequena cidade histórica mineira o clima é de fartura. A edição deste ano apresenta um número recorde de exibições: 134 filmes brasileiros, alguns deles selecionados para os festivais de Cannes, Berlim e Roterdã. A mostra traz ainda cinco debates, com participação de Cacá Diegues, Cláudio Assis e Júlio Bressane.
O evento faz duas homenagens que apontam para períodos distintos, ao ator pernambucano Irandhir Santos, por sua presença no cinema contemporâneo (Tropa de Elite 2), e ao cineasta carioca Paulo César Saraceni (Porto das Caixas), um dos criadores do Cinema Novo – ao lado de Glauber Rocha e Nelson Pereira dos Santos. Apesar das diferenças, na forma e temática, todos se relacionam com o tema do festival: o cinema político brasileiro.
Na noite desta sexta-feira (21), após a abertura oficial, com a presença da ministra Ana de Hollanda (Cultura), o filme O Gerente, de Saraceni, em sua primeira exibição pública, dá inicio ao festival. Apesar de a principal homenagem ser para o Cinema Novo, o que marca de fato Tiradentes é o novíssimo cinema brasileiro, destacado na Mostra Aurora, que apresenta apenas longas de diretores estreantes. Nesta edição, serão exibidos sete filmes, entre eles, cinco documentários.
Diferentemente do que pode parecer, a ideia não é fazer desse novíssimo cinema tupiniquim uma nova onda, como foi o Cinema Novo. “Não se trata de pensar esses sete filmes como um grupo, mas como um conjunto de obras que nos permitem ver o que alguns dos novos realizadores brasileiros andam construindo”, afirma Cléber Eduardo, curador da Mostra Aurora.
Até o próximo fim de semana, o júri oficial decide quem leva o prêmio. Os filmes são Enchente, de Julio Pecly e Paulo Silva, Riscado, de Gustavo Pizzi, Remições do Rio Negro, de Erlan Souza e Fernanda Bizarria, Sertão Progresso, de Cristian Cancino, Os Residentes, de Tiago Mata Machado, Santos Dumont – Pré-Cineasta?, de Carlos Adriano, e Vigias, de Marcelo Lordello.
Sem salas de cinema, a programação, toda gratuita, está distribuída em tendas e na praça central da cidade. Outro destaque no cardápio de atrações são as mostras Olhares, de filmes já premiados em festivais brasileiros e internacionais, com destaque para O Céu Sobre os Ombros, de Sérgio Borges (grande vencedor do Festival de Brasília, com cinco prêmios); e a Vertentes, de filmes já exibidos em festivais, mas não necessariamente premiados.
Completam a agenda a mostra de curtas com 104 filmes e uma seleção para o público infanto-juvenil, que vai apresentar, entre outros, Brasil Animado, primeira animação brasileira em 3D. Com tantas atrações, a organização da mostra espera receber, na pequena cidade de cinco mil habitantes, um público de 30 mil pessoas. Haja pipoca.
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