O risco de andar a pé em S. Paulo

Apesar de tudo, sobrevivemos Se não chover demais, comemoramos nesta terça-feira os 457 anos de São Paulo – a maior, mais rica, mais poluída e desumana cidade do país. Como costuma acontecer nos feriadões, quem pode pega o carro e viaja para qualquer lugar. Quem não pode, fica aqui e, se sair às ruas, corre o risco de morrer atropelado na primeira esquina.

Muito cuidado com a faixa de pedestres! É aí que mora o maior perigo. Talvez não haja nenhum exemplo mais emblemático de incivilidade paulistana e do predomínio da máquina sobre o homem, do carro sobre o pedestre e do vale-tudo sobre a urbanidade do que estas faixas brancas pintadas nos cruzamentos mais perigosos da cidade.

É simplesmente como se as faixas não existissem. Nenhum motorista lhes dá a menor bola. Os policiais de trânsito nem lembram para que serve. Fica lá como um enfeite sobre o asfalto, sem sentido nem função.

O perigo maior é para o cidadão que vem de fora, de algum lugar mais civilizado, onde os carros não avançam quando há um pedestre pisando sobre a faixa.

Já me aconteceu várias vezes de esquecer que ninguém respeita faixa de pedestres em São Paulo. A primeira vez, já faz muito tempo, foi quando voltei da minha temporada de correspondente do Jornal do Brasil na Alemanha, no final dos anos 70 do século passado. Lá, por incrível que pareça, os motoristas já respeitavam os pedestres.

Mal acostumado, quase fui atropelado na rua Augusta, no dia seguinte à minha volta, ao atravessar numa faixa que tinha até farol de pedestres, o que é muito raro em São Paulo. Além do susto, ainda fui xingado porque estava atrapalhando o trânsito.

A única cidade brasileira, que eu conheça, onde todo mundo respeita o pedestres, é Brasília. Depois de trabalhar lá por dois anos, e me habituar a este bom costume, ao voltar a São Paulo quase que minha família toda foi atropelada num cruzamento da Oscar Freire, a rua mais badalada do nobre bairro dos Jardins.

Com carrinho de bebê, outras crianças pequenas, uma senhora idosa, todos atravessando a rua juntos na faixa de pedestres, nada foi capaz de fazer o assassino motorizado diminuir a velocidade: do jeito que veio, acelerou e virou com tudo na Haddock Lobo, e eu dei um grito de puro pavor. Vocês podem acreditar: o cara parou o carro logo adiante, desceu e me fuzilou com todas as letras:

“Que foi, seu filho da puta??? Tá pensando que tá em Londres???”

Juntou mais alguns palavrões, entrou no carro e seguiu em frente.

Mais recentemente, passei um bom tempo sem andar a pé pelo bairro por problemas de saúde e acabei ficando preguiçoso. Agora que voltei às caminhadas, antes de ser convidado a correr no concurso de Rei Momo, me dei conta que andar a pé em são Paulo ficou ainda mais perigoso.

Os valentes ao volante dobram as esquinas e entram direto sem cimimnuir a velocidade, alguns até cantam pnseus _ ou seja, estão absolutamente certos da impunidade, são os donos das ruas. Como é impossível colocar um guarda em cada esquina, poderiam pelo menos deixar o farol vermelho para os dois lados nos cruzamentos o tempo suficiente para que a gente possa atravessar a rua. É simples, não custa nada, mas ninguémn faz.

Foi esta a civilização que nós construimos nestas terras de Piratininga. A vida de pedestre por aqui está valendo muito pouco.

Com o céu azul e sem previsão de chuva, bom domingo a todos.


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